Conferência do Prof. Johannes Dörmann,* enviada ao II Congresso Teológico de Si Si No No, realizado em Albano (Roma), em janeiro de 1996, e transcrita do mensário Sim Sim Não Não, nºs 51-52, de março- abril de 1971.
2. VATICANO II, UM "NOVO PENTECOSTES
"Para compreender a teologia de Karol Wojtyla, é essencial entender a sua visão global do Concílio Vaticano II. O Cardeal chama o Concílio um "mistério". O Arcebispo, testemunha autêntica do Concílio, conhece o "mistério" deste e tem o dever de introduzir o Povo de Deus no "mistério do Concílio". Ele chama a isto uma "iniciação" que opera a "participação no mistério" (p. 7).
Este modo insólito de falar se explica pela concepção especial que o Cardeal tem do Concílio: segundo ele, durante o Vaticano II o Espírito Santo falou diretamente aos Padres conciliares. Estes traduziram em linguagem humana a palavra do Espírito Santo e a comunicaram ao mundo (p. 6). Enquanto "palavra do Espírito Santo", a proclamação do Concílio tem o caráter duma revelação direta.
Nesse sentido, o Vaticano II é um "novo Pentecostes" durante o qual o Espírito Santo desceu sobre os Padres conciliares como sobre os Apóstolos durante o primeiro Pentecostes, com o fim de introduzir a assembléia dos Bispos na "verdade plena" ou "perfeita", prometida por Cristo (5). Esta "iniciação" na "verdade total" é, segundo a terminologia do Cardeal, um "enriquecimento", relativamente à doutrina tradicionalmente professada pela Igreja.
O "segundo Pentecostes" significa também um renascimento da Igreja com base no "enriquecimento" que a Fé tradicional experimentou no Concílio, graças à nova revelação do Espírito Santo. Por isso, João Paulo II pôs muitas vezes em evidência a extraordinária importância, a seu ver, deste Concílio na história dos Concílios (6).
Como a identidade da Igreja Católica consiste essencialmente na identidade da sua Fé, põe-se então uma questão fundamental: a "doutrina do Concílio", tal como a elaborou o Cardeal Wojtyla, a partir dos próprios documentos do Concílio, é substancialmente idêntica à doutrina tradicional da Igreja?Noutros termos: em seus documentos, a "Igreja do Vaticano II", no parecer de Wojtyla, é idêntica à Igreja anterior ao Concílio? A resposta depende do que se entende dogmaticamente por "enriquecimento da Fé".
Notas:
* Nascido em 27.12.1922, Johannes Dörmann, após os estudos de matemática e de física, de filosofia e de teologia, tornou-se Padre da Arquidiocese de Colônia em 1953. Durante seus anos de ministério paroquial como vigário, e depois como cura, estudou ciência missionária em Münster, bem como etnologia, etnossociologia e ciência das religiões (Bonn e Bâle).
Doutorou-se em 1964. Foi professor universitário em ciência das religiões e ciência missionária, de 1966 a 1970. Foi mestre de conferência de 1970 a 1984, e professor em ciência missionária e religiosa na Universidade de Münster, em Westphalia. Foi nomeado em 1976 diretor do Instituto de Ciência Missionária na Universidade de Münster. Ensinou também como professor na Faculdade de Teologia de Paderborn, de 1969 a 1985. Em 1984, passou a professor emérito.
O professor Dörmann não é tradicionalista no sentido que esse termo assumiu hoje, mas um competente e sério teólogo. E foi nesta qualidade que Si Si No No lhe pediu o estudo que aqui se transcreve. Principais obras do autor:
A Única Verdade e as Numerosas Religiões;
A Estranha Teologia de João Paulo II e o Espírito de Assis;
A ‘Trilogia Trinitária’ [de João Paulo II]:
"Redenptor Hominis" (Tomo I):
"Dives in Misericordia" (Tomo II);
"Dominum et Vivificantem" (Tomo III).
(1) Cf. Ibid. II- I, Redemptor hominis, p. 222.
(2) Cf. Dominum et vivificantem. arts. 26 e 27.
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