terça-feira, 31 de março de 2009

O exorcismo de Emily Rose: O que é exorcismo?

 

1. Ficha técnica: Ano de lançamento [2005/EUA]. Diretor [Scott Derrickson]. Elenco [Laura Linney/Tom Wilkinson/Campbell Scott]. Roteiro [Scott Derrickson/Paul Harris Boardman]. Distribuidora [Columbia Pictures].

2. Sinopse: Baseado em fatos reais, "O Exorcismo de Emily Rose" é uma combinação dos gêneros terror/exorcismo e drama judicial. No filme, a protagonista Laura Linney interpreta o papel de uma advogada que defende um padre (Tom Wilkinson) acusado por uma sessão de exorcismo realizada em uma adolescente chamada Emily Rose que, segundo ele, havia sido possuída pelo demônio.
3. Fatos: Emily Rose é o nome fictício para a colegial alemã Anneliese Michel, que nasceu no dia 21 de Setembro de 1952 na cidade de Leiblfing, na Bavária e morreu no dia 1 de Julho de 1976, em Main. Sofreu graves perturbações por muitos anos. Chegou a ser internada em Clínica psiquiátrica, submetida a tratamento para epilepsia de 1968 a 1972, não tendo obtido resultado algum. Depois de muitos anos de sofrimento os pais acreditavam realmente que Anneliese estava possuída pelo demônio e pediram ajuda à Diocese de Wuerzburger. A Igreja reconheceu o caso como legítimo e os responsáveis pelo exorcismo foram os padres Ernst Alt e Arnold Renz. A partir de 1973, já há muito debilitada pelos sucessivos tratamentos psiquiátricos, Anneliese profundamente desidratada e padecendo de inanição, sofreu parada respiratória e cardiovascular durante uma sessão de exosrcismo, onde a jovem veio a falecer. Sua morte é tida até hoje como um mistério. O caso é conhecido como "o caso Klingenberg".

4. Exorcismo: O Catecismo da Igreja Católica [N° 1673] assim se expressa: "Quando a Igreja exige publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objeto seja protegido contra a influência do maligno e subtraído a seu domínio, fala-se de exorcismo. Jesus o praticou [Mc 1, 25-26], é dele que a Igreja recebeu o poder e o encargo de exorcizar [Mc 3, 15]. Sob uma forma simples, o exorcismo é praticado durante o Batismo. O exorcismo solene, chamado 'grande exorcismo', só pode ser praticado por um sacerdote, com a permissão do bispo. Nele é necessário proceder com prudência, observando estritamente as regras estabelecidas pela Igreja [Código de Direito Canônico, cân. 1172]. O exorcismo visa expulsar os demônios ou livrar da influência demoníaca, e isto pela autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja. Bem diferente é o caso de doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência médica. É importante, pois, verificar antes de celebrar o exorcismo se se trata de uma presença do maligno ou de uma doença".

5. Demônio: O demônio existe e dele dão testemunhos o Antigo e o Novo Testamento. O Magistério da Igreja e os Ensinamentos Conciliares exortam a confiança em Deus ante sua atuação. São Tomás de Aquino dedicou-se profundamente [Suma Teológica, I, q. 50-64] ao estudo da natureza e da atuação dos anjos, tendo por este motivo recebido o título de Doutor Angélico. Se por um lado, temos uma nova Teologia que prega um ceticismo injustificável, afastando-se cada vez mais da crença não só no demônio, mas na existência dos anjos, por outro lado temos certas teologias que pregam e exploram uma credulidade exagerada, onde em toda dor e sofrimento humano identifica e proclama atividades demoníacas. Estas duas posturas são extremas, viciosas, favoráveis à própria atuação demoníaca, cuja maior façanha é fazer-nos crer que ele não existe. Ambas posturas não são condizentes com a fé do cristão coerente, assíduo na palavra que não depõe contra o bom senso e a ciência. A virtude é excelência para o discernimento e coerência na fé. Embora sejam poucos os casos de possessão reconhecidos pela Igreja Católica, não significa que não hajam.

6. Conclusão: Podemos atestar dois tipos de atividades diabólicas: a ordinária, a tentação e a extraordinária, a infestação local [sons, barulhos, gritos e gemidos de natureza desconhecidas, movimento de objetos, odores etc], infestação pessoal [aparições sedutoras ou assuatadores, sugestões sensíveis e imaginativas, mas nada que afete a consciência, o entendimento e o arbítrio] e a possessão [presença atual no corpo com o tormento do espírito humano]. A possessão é atividade diabólica extraordinária em duplo sentido: por ser muito rara e por ser de ordem sobrenatural. O diagnóstico é prudente e passa por uma análise psiquiátrica, parapsicológica, médica, para, assim, se for confirmado, passar para uma terapia curativa: o exorcismo. Há sintomas comuns entre as fenomenologias psiquiátricas e parapsicológicas, o que as diferenciam da atividade diabólica extraordinária são: aversão ao sagrado, falar línguas estranhas, proferir blasfêmias e reagir ao nome de Jesus Cristo etc. Mais importante é a prevenção da presença e da atuação diabólica em nossas vidas, pelas assim denominadas 'terapias preventivas', como a confissão, a comunhão, o sinal da cruz, meditação acerca da vida de Jesus, os sacramentais, objetos bentos, relíquias, ou seja, levar uma vida cristã coerente e digna.

Fonte: Aquinate

domingo, 29 de março de 2009

Carta Aberta ao Santo Padre Bento XVI

Beatíssimo Padre.



Prostrado aos pés de Vossa Santidade, venho, respeitosamente, por meio desta, manifestar-lhe minha fidelidade incondicional na qualidade de sacerdote católico incardinado na Diocese de Anápolis.

Tenho acompanhado com tristeza e indignação todos os ataques dirigidos contra Vossa Santidade, verdadeiros atos de rebeldia, por parte de pessoas que perderam a fé católica ou se deixaram enredar por falsas doutrinas e, assim, são incapazes de avaliar com justeza as medidas prudentes e zelosas de Vossa Santidade com o intuito de promover o bem da Igreja e preservar a integridade da fé católica.

Desejaria dizer a Vossa Santidade que lhe sou particularmente grato pelo motu proprio Summorum Pontificum e pelo decreto de revogação das excomunhões declaradas em 1988 contra Mons. Marcel Lefèbvre, D. Antonio de Castro Mayer e os 4 bispos então consagrados.

Com a liberdade de um filho que confia em seu pai, devo dizer a Vossa Santidade que, tendo nascido em 1962 em uma diocese do interior do Estado São Paulo, assisti à degradação da vida espiritual católica promovida pela teologia da libertação e em nome do Concílio Vaticano II: igrejas destruídas e profanadas, a liturgia completamente dessacralizada, a educação católica, garantia da transmissão dos valores perenes, abolida com o fechamento de antigos colégios, porque se dizia serem apenas instituições a serviço da burguesia e contra as classes oprimidas. Um número incalculável de publicações (cartilhas, panfletos, folhetinhos de missa) espalhou todos esses anos entre os católicos a grosseria, a imoralidade e a heresia, de modo que se gerou um ambiente insuportável. É inútil e impossível mencionar todas as calamidades que se abateram sobre os católicos, e Vossa Santidade tem pleno conhecimento da realidade.

Digo isto apenas para confessar a Vossa Santidade que, se eu e minha família preservamos a fé católica, foi graças ao combate travado por sua S. Exa. Revma. Mons. Lefèbvre. Com efeito, verificamos que ele tinha razão em convocar os católicos para lutar contra tantos desmandos e abusos.

Em 1988, quando foi assinado um protocolo de “acordo” entre a Fraternidade Sacerdotal São Pio X e a Santa Sé, no qual se previa a conveniência de que fosse sagrado um bispo eleito entre os padres da Fraternidade e, como não se superasse o obstáculo da fixação de uma data para tal sagração, pareceu-nos que Mons. Lefèbvre tinha o direito de proceder ao rito sagrado.

Decorridos tantos anos, estou convencido de que o venerável bispo agiu bem. Os frutos de sua obra são bênçãos e graças para toda a Igreja. Não tivesse ele agido com prudência e fortaleza então, certamente não existiria a Fraternidade Sacerdotal São Pedro e muitos outros institutos ligados a Ecclesia Dei Adflicta. Eu mesmo não teria sido ordenado presbítero no rito tradicional em 1996 pelo cardeal Stickler em atenção às letras dimissórias de meu antigo bispo D. Manoel Pestana Filho. E, certamente, o “progressismo católico” teria avançado muito mais como força devastadora da Vinha do Senhor.

Por isso, expresso hoje minha gratidão a Vossa Santidade e reverencio a memória dos dois bispos que ajudaram tantos católicos a conservar a fé em tempos tão atribulados.

Gostaria ainda de dizer a Vossa Santidade que são numerosíssimos os padres que o apóiam por ter, por exemplo, ordenado a correção da tradução da forma da consagração do cálice na Santa Missa e não se conformam com o descaso da hierarquia em cumprir a ordem emanada de Roma. O zelo de Vossa Santidade pelo decoro da sagrada liturgia nos conforta. Há muitos padres que desejariam seguir o exemplo de Vossa Santidade em suas paróquias, mas temem represálias da parte dos seus ordinários.

Igualmente, quero assegurar a Vossa Santidade que foi enorme a satisfação dos verdadeiros católicos com a atitude digna do arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho OC, por ter recordado que os católicos que cooperaram com a prática do aborto naquela cidade incorreram em excomunhão latae sententiae. São gestos como este que confirmam os católicos em sua fé. Foi, por outro lado, vergonhoso e lamentável ver outros bispos censurarem a atitude coerente do arcebispo D. José Cardoso Sobrinho.

Seja-me permito, finalmente, rogar a Vossa Santidade uma providência especial para proteger o Brasil, o maior país católico do mundo, de uma gravíssima ameaça que paira sobre a Terra de Santa Cruz. Vivemos há quase oito anos sob um governo socialista que tem adotado uma política anticristã na área do direito da família e da vida. O atual governo tem o propósito de introduzir a legalização geral do aborto e da união civil homossexual. Tudo isto está previsto no programa político do Partido dos Trabalhadores, partido do governo. A candidata do governo à presidência da República no próximo ano já fez declarações neste sentido. Apesar da absoluta incompatibilidade de suas propostas políticas, a referida senhora tem exercido nas concentrações carismáticas o ministério de leitora nas missas, em franca campanha política. Com efeito, isto nos desconcerta.

Quando se trata de assuntos de grande relevância moral e para a salvação das almas, não se observa da parte da hierarquia tanto empenho para não dizer que há dolorosa omissão ou cumplicidade. Atitude como a de D. Cardoso é uma gota de água pura no mar morto. Mas quando se trata de assuntos técnicos ou sócio-economicos observa-se uma indiscreta ingerência, que só redunda em descrédito da Igreja. Permito-me recordar a Vossa Santidade o episódio da transposição do rio São Francisco ou mais recentemente a absurda demarcação de território indígena em região rica em minérios (uma ameaça à soberania nacional), com apoio do Conselho Indigenista Missionário, órgão ligado à CNBB.

De maneira que, diante da gravidade da situação atual do Brasil, rogo a Vossa Santidade que, assim como Pio XII (cuja memória Vossa Santidade tem reverenciado) salvou a Itália do perigo comunista arregimentando os católicos, assim também agora ajude a salvar o Brasil da perpetuação de uma tirania socialista e anticristã, que se instaurou entre nós com os préstimos da “esquerda católica”

Rogo a bênção de Vossa Santidade sobre minha pessoa e sobre todos fiéis da Capela Santa Maria das Vitórias em Anápolis, consagrada por Dom Pestana em dezembro do ano passado. Asseguro a Vossa Santidade nossas fervorosas orações ao Imaculado Coração de Maria para que Nossa Senhora o proteja da maldade dos seus inimigos.



Anápolis, 27 de março de 2009

Festa de São João Damasceno

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

quarta-feira, 25 de março de 2009

Dois amores, duas cidades: A reforma

Nota: Trazemos a nossos leitores o Capítulo III (A reforma), do livro “Dois amores, duas cidades”, do grande Gustavo Corção.  Tenham uma boa leitura.

Lutero, o protótipo dos tempos modernos

1. Um dos fatos que mais brutalmente marcou o século XVI, e depois tôda a moderna civilização, foi sem dúvida a desobediência de Lutero. E o que que pretendemos mostrar neste capítulo é que a Reforma pro­testante se inscreve na mesma corrente, na mesma descarga espiritual que produziu a Renascença.

À primeira vista parece que o luteranismo, surgido histo­ricamente em reação ao sibaritismo que imperava em Roma, tem de ser compreendido como um fenómeno de inspiração contrária à eclosão renascentista. Lembrando a oposição que se levantou entre Lutero e Erasmo, confirmava-se a ideia de um radical antagonismo entre Lutero e o espírito renascentista. Lutero seria um reacionário, uma alma contrária ao vento da nova era. E foi nessa lamentável méprise que caiu o histo­riador.

Henri Pirenne: "Pode-se dizer que a Renascença armou a seu modo o problema religioso. Mas não fez mais do que esboçar a solução moderna, prudente e aristocrática que preparava para ele. A Reforma se atravessou no caminho com ímpeto, violência, intolerância, mas também com a fé profunda e a necessidade apaixonada de chegar a Deus e à salvação, com que havia de conquistar e subjugar tan­tas almas. Entre a Reforma e a Renascença, nada de co­mum. A bem dizer se opõem. A Reforma recoloca o cristão no lugar do homem, escarnece da razão, humilha-a, mesmo quando afasta e condena o dogmatismo. Lutero é muito mais aparentado com os místicos da Ida­de Média do que com os humanistas seus contemporâ­neos." (Histoire de 1'Europe, Alcan, 1936, pág. 394.)

É difícil encontrar em página de historiador sério uma passagem com maior número de disparates. Vítima do precon­ceito agnóstico, o autor vê uma oposição superficial e parece esquecer-se de que há inúmeros pares em que uma concordância profunda se manifesta com discordâncias epidérmicas. Haverá entre a Reforma e a Renascença todas as diferenças que quise­rem esmiuçar: debaixo delas está o Individualismo, traço comum, marca essencial dos dois movimentos.

O tom apaixonado de Lutero, para Henri Pirenne, se parece com o de Savonarola, ou com o tom apaixonado de São Vicente Ferrer a puxar filas de flagelantes pelo caminho da Europa, no crepúsculo da Idade Média. Conclui então que Lutero é um medieval! Mas se escarnece e humilha a razão, mais do que nunca se afirma um moderno, que nos intervalos do cientificismo é cético para a metafísica e para a teologia. Também não é bem fundada a afirmação de que a Reforma recoloca o cristão no lugar do homem. Evidencia-se aqui o embaraço em que fica o historiador desse período quando não sabe muito bem o que é um cristão, e talvez não saiba exatamente o que é um homem. Ao contrário disso, e apesar de algumas aparências, Lutero trouxe em sua reforma violentamente antinômica um reforço para o antropocentrismo da nova civilização. Separando total­mente a fé das obras, a ordem da graça da ordem da natu­reza, Lutero deixava o homem no mundo entregue aos critérios do mundo. "Peca fortemente e crê fortemente!" Tratando o mundo com pessimismo e desprezo, enquanto religioso, não se opunha a um otimismo temporal, antes o alimentava. Na teo­logia da graça, Lutero foi um "exteriorista", quase diríamos um barroco, porque para ele o princípio divino, em vez de ser o remédio penetrante, curativo, transformante, que abre as portas do mais íntimo de nosso íntimo para habitação da Trindade, era uma proteção exterior, uma espécie de cobertura divina da irremediável podridão humana. Na teologia da justiça pela Fé, de tal modo a separa das obras, por ele desprezadas, que aca­ba tangenciando a doutrina de Pelágio que superestima as obras humanas na economia da salvação.

Onde, porém, se encontram a Reforma e a Renascença co­mo dois galhos da mesma cepa é na maneira de conceber o homem, isto é, no Individualismo. Para Jacques Maritain isto é tão claro, e tão fundamental, que não hesitou em dar ao estudo feito em Trois Rejormateurs o título: Luther ou l'ave-nement du Mói; na epígrafe colhida em Fichte acrescenta este título ao reformador: Lê prototype de ages modernes.

Nesse admirável estudo, o autor nos mostra o drama espi­ritual de Lutero, que consistia precisamente num transbordamento da sensibilidade, por onde se vê mais uma vez o traço característico do homem do século XVI.

Jacques Maritain: "Ele parece ter procurado antes de tudo, na vida espiritual, o que os autores chamam consolações sensíveis, e se haver apegado apaixonadamente a esse gosto experimental da piedade, a esses confortos que Deus envia às almas para atraí-las, mas que também retira quan­do quer, e que não passam de meios. Para Lutero, ao contrário, o que importa antes de tudo é sentir-se em es­tado de graça (...) Uma veemente nostalgia mística, numa alma agitada e carnal, destorcendo todas as lições dos espirituais, transformava-se assim num apetite brutal de saborear a própria santidade." (Trois Réformateurs, Plon, 1925, pág. 8.)

"O que logo impressiona na fisionomia de Lutero é o egocentrismo: algo muito mais sutil, mais profundo e mais grave do que o egoísmo. Um egoísmo metafísico. O eu de Lutero torna-se praticamente o centro de gravitação de to­das as coisas, sobretudo na ordem espiritual: e o eu de Lutero não é só as querelas e paixões de um dia: ele tem um valor representativo, é o eu da criatura, o fundo incomunicável do indivíduo humano. A Reforma tirou os freios do eu humano na ordem espiritual e religiosa; a Renascença (quero dizer o espírito que animava a Renas­cença) tirou os freios do eu humano na ordem das ati-vidades naturais e sensíveis." (Op. cit. págs. 19 e 20.)

Aliás, é nesse estudo admirável, de proveitosíssima leitura para a compreensão de muito fenómeno contemporâneo, que Jacques Maritain desenvolve a famosa distinção entre o indivíduo e a pessoa a que já nos referimos. Essa distinção capi­tal é, de certo modo, paralela à que fizemos aqui entre amor-de-si-mesmo e amor-próprio, e a outra entre Homem-Interior e Homem-Exterior. Referem-se todas as perspectivas de visada e de valorização do homem, e pode-se dizer sem receio de exa­gero que o drama do mundo contemporâneo vem da confusão, da indistinção, da troca de perspectivas, não apenas nos tratados de filosofia e nos recintos académicos, mas na vida mesma das sociedades, e no sangue da civilização, até os vasos capilares.

Maritain: "O que é afinal o Individualismo moderno? Um engano, um qui pró quo: a exaltação da individualidade ca­muflada em personalidade, e o correlato aviltamento da verdadeira personalidade." (Pag. 29.)

A história de Lutero, como a de Jean Jacques Rousseau, é uma ilustração exata e cruel dessa doutrina. Nesse sentido, ao contrário do que diz Henri Pirenne, Lutero é um dos homens mais representativos da Renascença; e mais, é um dos homens que mais influíram no fenómeno da indiferença intelectual e moral que se revestirá com a denominação de "liberalismo". Sua constituição psíquica tornava-o um vibrátil detector das ondas de ressentimento desencadeadas no fim da Idade Média e ensinadas pelo nominalismo florescente. Foi um ressonador, talvez semiconsciente, um tipo de homem representativo-nega-tivo, mais receptor do que transmissor, como mais tarde Adolf Hitler. Porta-voz de melindrados, intérprete de amargores, reali­zou mais uma vez o paradoxo do zelo de amor-próprio tão en-contradiço nas vésperas das apostasias: o mesmo zelador que apresenta, nervoso e intolerante, em defesa da pureza da Igreja, bruscamente abandona a mesma Igreja que dizia defender.

Foi um superficial no sentido mais ontológico e trágico do termo — sim trágico, por exprimir aquele outro paradoxo do amor-próprio ferido: o eu em torno do qual o egocentrismo se move não é um eu verdadeiro, nem um verdadeiro centro, é antes a projeção, a exteriorização ou a inflação que a desordem do amor-próprio produz.

Os alemães protestantes, diz ainda Maritain, pedem que ad­miremos a grandeza de Lutero. Grandeza infra-humana, elemen­tar, como as que chamamos de "força da natureza"; mas não grandeza humana propriamente dita.

O Nominalismo de Lutero

2 . Uma tal pletora de sensibilidade ha-de via de se traduzir necessariamente numa atitude antiintelectualista, no que se en­contrava, mais uma vez, com a tendência da época. Sob esse ponto de vista, e apesar das enormes dife­renças tanto nas consequências como nas motivações profun­das, Lutero respirava o mesmo ar em que viviam Erasmo e Tomás Morus, que com toda sua imensa generosidade e seu santo heroísmo não escapou da moda nominalista e da depres­são filosófica.

A reação antidoutrinária, antifilosófica de Lutero toma proporções monstruosas. "Aristóteles é o baluarte ímpio dos pa-pistas", "se ele (Aristóteles!) não tivesse existido em carne e osso eu não teria nenhum escrúpulo de o considerar um diabo". Mas é da própria razão que Lutero diz os mais violentos hor­rores:

Lutero: "a razão é a maior p. . . do diabo; por sua natureza e sua maneira de ser, ela é uma p. . . nociva; é uma pros­tituta, a p ... principal do diabo, uma p ... roída de es­crúpulos e lepra, que devíamos esmagar com os pés, ela e sua sabedoria ... ... Ela é e deve ser afogada no batismo . . . ela merecia, a abominável, ser relegada aos mais sujos lugares da casa, às latrinas."

Essas passagens que transcrevemos com desgosto estão nas páginas 43, 46 e 47 do livro citado de Maritain, onde o leitor encontrará as referências precisas das fontes.

É preciso não esquecer que Lutero era nominalista por for­mação, e nominalista por índole; coisa que felizmente não passou despercebida do autor do Século XVI e XVII da História Geral da P.U.F.

Roland Mousnier: "Lutero, Calvino e todos os reformadores foram nominalistas. O dogma católico se interpreta muito bem em termo de realismo, e muito mal em termos de nominalismo. Tomemos por exemplo a Encarnação. Para os realistas, o Verbo que se encarnou em Jesus, não assu­miu os defeitos, os vícios, as fraquezas, as corrupções do homem. Ele se fez Homem. Uniu-se ao Arquétipo ideal do Homem. Mas para os nominalistas não há arquétipos. O "homem" é um nome cômodo que serve para designar os indivíduos aliás diferentes de uma coleção. Deus se tornar homem é assim incompreensível." (Op. cit. pág. 71.)

Devemos ressalvar algumas imprecisões filosóficas do vo­cabulário do autor supracitado. Ele se exprime como platónico. Para o realista de formação aristotélico-tomista não é em termos de uma união com o Arquétipo ideal que se formula a Encar­nação, e sim de uma união com a natureza humana, realmente existente em cada indivíduo humano. Também devemos notar que "incompreensível" no sentido próprio de realidade excessi­va, ou misteriosa, que a razão não logra abranger e esgotar, é também para nós o dogma da Encarnação. Por isso preferiría­mos no texto acima usar o termo "cognoscível", "pensável" ou "inteligível", em vez de "compreensível". Feitos esses reparos devemos reconhecer neste volume (Lês XVI et XVII Siècles) da Histoire Générale dês Civilizations da P.U.F. um discerni­mento filosófico que nem sempre se encontra nos outros volu­mes, e que não encontramos em Pirenne.

Otimismo e pessimismo

3. Não pretendemos, nos exíguos limites deste capítulo, desenvolver um es­tudo sobre Lutero. Queremos apenas apontar alguns traços seus e de suas obras que nos ajudem a compreender o fenómeno mais amplo e confuso que se processou nos séculos XV e XVI. E um desses traços é o "pessimismo" profundo e radical que até agora só encontráramos no maniqueísmo. Já dissemos atrás que para Lutero, por força de seu nominalismo e de seu sensualismo, a graça santificante não restaura na alma a justiça afetada ou destruída pelo pecado; não penetra, não cura, não transforma, mas apenas cobre. Debaixo dessa cobertura divina o homem continua incurável. Ora, a respeito da relação dos sexos e do matrimónio o seu pessimismo se formula com a brutalidade e a simplicidade que nos lembra os albigenses. Para Lutero, o dever conjugal jamais se realiza sem pecado (Weim. X, P.II, 304, 6, 1522) que "Deus cobre para que possa haver pessoas casadas" (opp. exeg. lat. IV. 10). Mais tarde, em 1538 (Weim XLII, 582, 29. 31) dirá mais nitidamente:

Lutero: "A palavra de Deus: crescei e multiplicai- vos, não é um preceito; mais do que preceito é obra divina à qual não podemos nos subtrair ainda que o quiséssemos; ela é tão necessária para mim como ser um homem, e mais ne­cessária do que comer, beber, ir à latrina, escarrar, dormir e acordar."

E por aí além. Ao mesmo tempo Lutero naturaliza e libera as relações sexuais que não podemos evitar, e as torna estranhas ao universo da graça e da santidade. E o pobre amor humano, legítimo ou culpado (a diferença terá de ser encontrada nos cos­tumes e nas leis da cidade) transcorre todo no sombrio mundo da culpa essencial, da malignidade intrínseca, com o consolo da extrínseca cobertura ou tolerância de Deus.

Com este exemplo, e outros, vemos na Reforma um feitio complementar que vem suprir o que faltava no feitio da Re­nascença. O pessimismo de Wittenberg se articula bem com o otimismo de Florença, formando um conjugado de forças com o mesmo resultado: o imanentismo, a integração do Homem no Mundo, e a Autonomia absoluta para aí fazer, desde que logre o poder físico, o que lhe parecer consentâneo. Na continuação do processo de laicização e mundanização, o Protestantismo, co­mo um todo inorgânico, se decomporá em mil e tantas seitas, e perderá o que pudesse ter de conteúdo religioso: será o mais adaptado simulacro de religião para uma sociedade liberal. Diremos isto sem nenhum desejo de ajuizar da lealdade e da sinceridade das pessoas que praticam (acreditamos que muitas o pratiquem santamente pela força e pela infinita liberdade da misericórdia divina) essa espécie da aspiração ao cristianismo real. Receamos porém que aquela lealdade e aquela sinceridade, sendo as virtudes máximas dessa atmosfera religiosa, signifiquem que, nelas, o Homem tomou o lugar de Deus, a livre interpre­tação substituiu-se ao Magistério da Igreja, e o juízo próprio superpôs-se à humildade e à submissão de caridade.

Por seu lado, a cultura também produziu antinomias seme­lhantes nos quatro séculos de Civilização Moderna. Até Rous-seau ainda se fala em otimismo e em santidade natural. Mas à medida que se aproxima o crepúsculo os homens começam a duvidar da razão e da natureza. Quando chegamos em Freud verificamos que a reviravolta foi completa como a rotação que transforma o dia em noite: o homem que nascia naturalmente bom, nasce agora naturalmente perverso.

Fonte: Gustavo Corção,

Dois Amores, duas Cidades,

Capítulo III; “A Reforma”, 

Agir 1967.

domingo, 22 de março de 2009

Idade das Trevas?

De : José Carlos
bairro: Serra


Padre Cândido, é com muito pesar que venho por meio desta fazer uma reclamação e até mesmo um desabafo.
Fico triste em ver padres e até mesmo bispos serem os primeiros a criticarem o glorioso passado da verdadeira Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Leigos e inimigos declarados da Igreja Católica é até perdoável e compreensível, mas membros da hierarquia fazendo o mesmo?
Um exemplo é o senhor mesmo, com ar de deboche e tom de desprezo ao se referir à Igreja medieval.
Qual o problema com a idade média? Será porque durante 1000 anos a Igreja salvou a Europa do paganismo e da barbárie na qual ela está novamente mergulhada? Será porque ela construiu as lindas catedrais e não as horrorosas do Oscar Niemeyer? Ou construiu asilos, hospitais, escolas e universidades como as de Bolonha, Oxford, Salamanca, Sorbone, La Sapienza, Cambridge, etc? Só para se ter uma idéia, do ano de 1100 até 1500 foram fundadas pela igreja 75 universidades. Isto sem falar nas centenas de santos canonizados que viveram durante a idade média e que, além disto, eram considerados gênios, tais como S. Tomás de Aquino, São Boaventura, Santo Anselmo, Santo Alberto Magno, Sto. Agostinho. O que existe hoje nas escolas ditas católicas, como por ex. as PUCs, as quais deveriam ser chamadas Pontifícias Universidades Comunistas, onde os alunos, quando não saem de lá socialistas, ficam menos católicos do que quando entraram?
Talvez o senhor esteja criticando a Igreja Católica na idade média pelas cruzadas e pela Santa Inquisição, mas se não fossem elas o mundo já teria caído ou nas garras dos muçumanos, dos protestantes ou dos pagãos. O senhor viaja à Europa todo ano, e pode nos contar melhor do que eu a situação da Europa atual. A Inquisição era violenta? Mais do que a inquisição protestante, a qual não dava direito de defesa ao acusado? E as dezenas de decapitações diárias durante a fase do grande terror da revolução francesa? E os genocidios do nazismo e do comunismo, por cuja causa, por ex., só na Ucrânia foram mortos de 6 a 9 milhões de fome e na Rússia Stalin massacrou mais de 50 milhões?
Por amor a Cristo e a sua Igreja, por favor, padre Cândido, pare de considerar a idade média como a idade das trevas, pare de criticar um verdadeiro Bispo como Dom José Sobrinho e ficar apoiando médicos assassinos que de uma forma ou de outra estão ligados ideologicamente ao socialista PT, e este por sua vez na área da saúde é financiado pela ONU abortista.
Largue o LIBERALISMO aprendido nos seminários MODERNISTAS. Pois, como dizia o grande Papa São Pio X, os inimigos não se encontram mais fora da Igreja e sim dentro dela, e o modernismo é a sintese de todas as heresias.

P.S: O senhor pode até ser elogiado pela maioria, mas um católico assim como Jesus Cristo nunca será unanimidade; sempre será criticado e perseguido pelo mundo. Assim a história do cristianismo nos mostra, e esta perseguição, querendo ou não, é um ponto de referência para sabermos se o discípulo anda nas pegadas do mestre, pois este sempre foi perseguido, caluniado e criticado. Siga também o exemplo de Bento XVI, que, assim como Jesus e o Bispo nordestino, está sendo massacrado pela mídia maçônica.

sábado, 21 de março de 2009

A paz de Cristo e a paz do mundo.

Nota: Sendo a paz fruto da justiça, deveríamos esperar que a CF não lutasse com a Quaresma pela atenção dos fiéis. Como falar em paz como fruto da justiça, sendo que a CF sempre é realizada em um tempo injusto?

Abaixo segue um texto que norteia a paz que se deseja. Diga-se ainda que, atualmente não se tem diferença entre a paz de Cristo e a paz do mundo. Se houvesse diferença, bastaria a Igreja ofertar a paz de Cristo como sempre fez, mas hoje ela trabalha com o mundo pela construção da paz.

 

 FALAM DA PAZ, MAS NÃO É A PAZ

A paz do mundo procura sua plataforma entre os homens, no que eles têm de parecido e de comum. Constrói sobre fundamentos da igualdade.

Procede por concessões e por silêncios. Faz concessões ao erro e ao mal, envolve no silêncio a verdade e o bem, coloca o verdadeiro e o falso, o bem e o mal no mesmo pé de igualdade e lhes concede os mesmos direitos. Assim pensa apaziguar todas as reclamações e reinar sem problemas.

Há homens religiosos que rezam e procuram servir a Deus, mas que contestam ou a divindade de Cristo ou a autoridade da Igreja. Não reconhecem nem as verdades que a Igreja ensina, nem os sacramentos sobre os quais ela tem gestão, nem a hierarquia que é sua armadura. No entanto são irmãos; desejamos estender-lhes a mão, estabelecer algum acordo com eles, organizar alguma colaboração. O que se faz então? Volta-se para os filhos da Igreja, pede-se para que se consintam, guardando para si suas convicções íntimas, calando-as, escondendo-as num profundo silêncio para não entristecer ou alienar os irmãos dissidentes. Põe-se todas as confissões no mesmo pé de igualdade, propõe-se-lhes um trabalho comum, a elaboração de um CREDO de onde serão riscados todos os artigos contestados por uma ou outra confissão, e na profissão de fé desse CREDO todos se encontrarão. CREDO paupérrimo e que logo se evapora como se dissipam as brumas da manhã sob a ação dos raios do sol do verão.

Ora, logo se verá que além desses homens religiosos, existem outros que se convencionou chamar homens de bem e que não crêem em Deus.

Não professam nenhum culto e não experimentam nenhum sentimento religioso. Esses também são irmãos, nós os amamos, queremos estender-lhes a mão, entrar em algum acordo ou colaboração com eles. Então nos voltamos para os homens religiosos. Pedimos para que consintam, guardando para si suas convicções íntimas, calando-as, envolvendo-as em profundo silêncio para não afastar ou contristar nossos irmãos incrédulos.

Vamos nos unir fora de toda profissão de princípios religiosos, sobre o terreno social, vamos trabalhar em comum para salvar a ordem social por meios materiais.

Porém logo que olhamos mais adiante desse grande grupo, percebemos que fora dos partidários da ordem social, existem outros homens que rejeitam as bases sobre as quais repousa essa ordem social. Eles repelem a autoridade e a propriedade. No entanto são nossos irmãos.

Queremos amá-los e estender-lhes a mão. Não se desiste em chegar a um entendimento e uma colaboração com esses. Para atingir a esse tão almejado resultado, volta-se aos defensores da ordem social. Que continuem fiéis às suas convicções, mas as envolvam de um espesso silêncio, que se abstenham em falar em Pátria e Família, em autoridade e propriedade. Então um acordo poderá ser feito em um terreno comum, por exemplo, sobre o terreno comercial.

Assim o véu que recobre os princípios religiosos e sociais se faz cada dia mais vasto e mais espesso. As verdades que exigem no entanto nossa profissão expressa e pública desapareceriam da linguagem. Não se fala mais nisso. Mas é uma lei da psicologia humana que as idéias das quais não se fala desaparecem rapidamente. As convicções que elas inspiram se enfraquecem. Depois de terem desaparecido da linguagem, desaparecem da consciência.

O que restará então?

Restam os apetites, as ambições e as paixões. Resta a necessidade das riquezas e dos prazeres. Restam a inveja e a luxúria, em uma palavra, resta a besta humana. Resta tudo o que divide, tudo o que excita o ódio ímpio, tudo o que desencadeia as guerras imperdoáveis. Procurou-se a paz por métodos que não são os do Príncipe e do Deus da Paz. Não se encontrou a Paz. E se verificou a palavra dos Livros dos Santos: “Dixerunt pax et non est Pax”. Proclamaram a paz e a paz não foi feita. Projetaram, isto sim, uma luz singular sobre essa fórmula que poderia bem ser uma lei da história: “Si vis bellum, para pacem”, se quer a guerra prepare a paz, a paz segundo o mundo!

Discurso de Mgr. Chollet, arcebispo de Cambrai, no Congresso Eucarístico de Roma 1924.

(Revista SIM SIM NÃO NÃO n° 4 ― Abril de 1993)

Publicado em permanência

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presentados aquí como en el original en francés, en un único tomo
(en español fue editado en dos tomos bajo los títulos "Filosofía de la Masonería" y "Simbolismo de la Masonería")
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Fonte: Nacionalismo Católico

quinta-feira, 19 de março de 2009

QUE FAZER?

Uma das notas características do novo espírito é a da tolerância erigida em máxima virtude, e o correlato horror por qualquer espécie de luta ou combate. Gustavo Corção

Lutar. Combater. Clamar. Guerrear. Mas lutar sa­bendo que lutamos não somente contra a carne e o mun­do, mas contra o principado das trevas. É preciso gritar por cima dos telhados que, se o cristianismo se diluir, se a Igreja tiver ainda menos visível o ouro de sua santa visibilidade, se seu brilho se empanar pela estupidez de seus levitas, o mundo se tornará por um milénio espanto­samente, inacreditavelmente, inimaginavelmente estúpi­do e cruel.

Roguemos pois a Deus. com todas as forças: desfaçamo-nos em lágrimas de rogo e gritemos a súplica que nos estala o coração: enviai-nos Senhor, ainda este século, um reforço de grandes santos, de grandes soldá^ dos que queiram dar a vida. no sangue ou na mortifica­ção de cada dia. pela honra e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Compadecei-vos, Senhor, de nossa extre­ma miséria, e sacudi os homens para que eles saibam quem é o Senhor!

É preciso lutar; e sobretudo não desanimar quando nos disserem que o inimigo cerca a Cidade de Deus com cavalos e carros de combate. Ouçamos Eliseu: "Não tenhais medo porque os que estão conosco são muito mais fortes do que os que estão contra nós". E elevando a voz Eliseu clamou: "Senhor, abri-lhes os olhos para que eles vejam. E abrindo-lhes os olhos o Senhor eles viram, em torno de Eliseu, a montanha coberta com cavalos de guerra e carros de fogo." (II Reis, VI, 16-17)

E para bem encerrar estas páginas tão sofridas, ou­çamos depois do Profeta a voz do grande santo Papa que pusemos no frontispício desta obra. Ouçamos a voz de São Pio X, que desde o princípio deste século de desesperança clamou para despertar as indiferenças, quebrar os orgulhos e pelo santo temor preparar o cami­nho da Salvação:

"Qual seja o desenlace desse combate contra DEUS empreendido por fracos mortais, nenhum espírito sensa­to poderá duvidar. É certamente fácil, para o homem que quer abusar da liberdade, violar os direitos e a autorida­de suprema do Criador; mas ao Criador caberá sempre a vitória. Digamos mais; a derrota se aproxima do ho­mem justamente quando mais audaciosamente se ergue certo do triunfo. E é disto que Deus mesmo nos adverte: 'Ele fecha os olhos para os pecados dos homens' (1)como que esquecido de seu poder e de sua majestade, mas logo depois desse aparente recuo, 'despertando como um homem cuja força a embriaguez aumentara' (2), ele esmagará a cabeça de seus inimigos (3), a fim de que to­dos saibam "que o Rei da terra inteira, é Deus' (4) e que 'os povos compreendam que não são senão homens'.

(5)"

Gustavo Corção

(1) Sab. 11,24

(2) Sl. 78,65

(3) Sl. 67,22

(4) Sl. 46,8

(5) Sl. 9,21

(6) Enc. E Supremi Apostolatus

Fonte: Jornal Sim Sim Não Não, Ano XV nº 161, Julho-Agosto,2008 (Suplemento em lembrança dos 30 anos de falecimento de Gustavo Corção)

Assinatura

terça-feira, 17 de março de 2009

CITAÇÕES SOBRE O PRIMADO DA IGREJA ROMANA, O PRIMADO DO PAPA E A NECESSIDADE DE SUBMISSÃO AO SUMO PONTÍFICE PARA A SALVAÇÃO DA ALMA - PARTE II

Por Grupo São Pio V

ENCHIRIDION CITATORUM DOGMATICORUM CIRCA COGNICIONEM PRINCIPATUS PRIMATUSQUE SANCTÆ ROMANÆ ECCLESIÆ ET ROMANI PONTIFICI ATQUE CIRCA NECESSITATEM OBEDIENTIÆ EI PRO SALUTE ANIMÆ

VEL

DE PRIMATU UNIVERSO EPISCOPI ROMÆ

Conditor:
Marcos Vinicius Matke

PARS SECUNDA

SÆCULUM V


Compêndio de citações dogmáticas acerca do reconhecimento da primazia e primado da Santa Romana Igreja e do Romano Pontífice e da necessidade de submissão a este para a salvação da alma

ou

Da primazia universal do Bispo de Roma

Organizador: M.V.M.

Parte II

SÉCULO V


S.S. INOCÊNCIO I: CARTA “IN REQUIRENDIS”, AOS BISPOS DO SÍNODO DE CARTAGO. De 27 de janeiro de 417.


(Cap. 1) Na procura das coisas de Deus [...] seguindo os exemplos da antiga tradição [...] confirmastes de modo veraz o vigor de nossa religião, não menos agora, ao consultardes, que antes, quando exprimíeis as vossas decisões, vós que reconhecestes que se deve recorrer ao nosso julgamento, sabendo o que é devido à Sé Apostólica, já que todos os que fomos postos nesta Sé desejamos seguir o Apóstolo mesmo do qual emergiu o próprio episcopado e toda a autoridade da sua função. Seguindo o seu exemplo, tanto sabemos condenar prontamente as coisas más quanto aprovar as louváveis, como decerto isto: que observando por ofício sacerdotal as disposições dos Padres não julgueis que possas ser desprezadas; pois eles decidiram, não com humana, mas com divina sentença, que qualquer coisa que fosse tratada, também nas províncias mais longínquas e remotas, não a levassem a definição antes que chegasse ao conhecimento desta Sé, para que seja confirmada com toda a autoridade qualquer decisão justa, e de lá as outras Igrejas possam haurir – assim como todas as águas brotam de sua nascente originária e de cabeceira pura fluem incorruptas pelas diversas regiões do mundo inteiro – o que prescrever, a quem purificar, e a quem, como que sujos de lama impossível de limpar, a água digna de corpos limpos deve evitar.


S.S. INOCÊNCIO I: CARTA “INTER CŒTERAS ECCLESIÆ ROMANÆ”, A SILVANO E AOS OUTROS PADRES DO SÍNODO DE MILEVE. De 27 de janeiro de 417.


(Cap. 2) Com diligência, pois, e em devido ato, consultais os arcanos do honorífico múnus apostólico – múnus, digo, daquele a quem incumbe, “além das coisas exteriores, a solicitude por todas as Igrejas” [II Cor. XI, 28] –, acerca da posição a tomar nas coisas duvidosas, tendo seguido nisto o modelo da antiga regra que sabeis ter sido comigo observada sempre por todo o orbe. [...] Por que motivo tendes confirmado essa regra com a vossa conduta, senão porque sabeis que sempre da fonte apostólica fluem para todas as províncias respostas aos que as solicitam? Particularmente, cada vez que é discutido a doutrina da fé, julgo que todos os nossos irmãos e coepíscopos devem referir-se somente a Pedro, isto é, ao detentor do seu nome e do seu múnus honorífico, assim como agora vossa caridade perguntou que coisa possa ser proveitoso ao conjunto de todas as Igrejas no mundo inteiro. De fato, é precioso que se tornem mais cautos, vendo que os autores do mal, em resposta aos atos do duplo sínodo, pelas disposições do nosso julgamento foram separados da comunhão eclesiástica.


S.S. ZÓSIMO: CARTA “QUAMVIS PATRUM”, AO SÍNODO DE CARTAGO. De 21 de março de 418.

(n. 1) Embora a tradição dos Padres tenha atribuído à Sé Apostólica tamanha autoridade que ninguém ousaria colocar em discussão o seu juízo e tenha sempre conservado isso por meio de cânones e regras, e embora a disciplina eclesiástica até agora em vigor assegure com as suas leis a devida veneração ao nome de Pedro, do qual esta autoridade deriva: [...] (3) enquanto, pois, tão grande autoridade tem sua origem em Pedro e as subseqüentes decisões de todos os antepassados confirmam que a Igreja Romana é firmada por todas as leis e costumes humanos e divinos – e não vos é oculto, mas o sabeis, irmãos caríssimos, e como sacerdotes o deveis saber, que Nós governamos o seu território e também exercemos o poder do seu nome – , (4) todavia, mesmo tendo autoridade tão grande que ninguém possa rediscutir as nossas decisões, nada temos feito sem, de própria vontade, levá-lo a vosso conhecimento por nossa carta, concedendo isto à fraternidade e realizando consulta em comum, não porque não soubéssemos o que deveria ser feito ou porque fizéssemos algo que desagradasse por ir de encontro à utilidade da Igreja, mas queríamos que a questão dele [do acusado Celéstio] fosse tratado juntamente convosco.


S.S. BONIFÁCIO I: CARTA “RETRO MAIORIBUS”, AO BISPO RUFO DA TESSÁLIA. De 11 de março de 422.


(Cap. 2) [...] Dirigimos direto ao Sínodo de Corinto um escrito com o intuito de fazer compreender a todos os irmãos [...] que não se pode deliberar de novo sobre um julgamento nosso. De fato, nunca é lícito deliberar outra vez a respeito do que uma vez foi estabelecido pela Sé Apostólica.


S.S. BONIFÁCIO I: CARTA “INSTITUTO”, AOS BISPOS DA TESSÁLIA. De 11 de março de 422.


(Cap. 1) A instituição da nascente Igreja universal tomou início no múnus honorífico do bem-aventurado Pedro, no qual está seu governo e ápice. Da sua fonte fluiu, à medida que crescia a veneração da religião, a disciplina eclesiástica em todas as Igrejas. As disposições do Concílio de Nicéia não testemunham outra coisa, a tal ponto que não ousou definir nada sobre ele, vendo que era impossível propor algo acima do seu mérito, pois sabia, afinal, que tudo lhe era concedido pela palavra do Senhor. É certo que esta Igreja romana é, para as Igrejas espalhadas pelo orbe inteiro, como a cabeça de seus membros: quem dela se desliga seja banido da religião cristã, já que deixou de estar inserido nela.


S.S. BONIFÁCIO I: CARTA “MANET BEATUM”, A RUFO E AOS OUTROS BISPOS DA MACEDÔNIA ETC. De 11 de março de 422.


Pertence ao bem-aventurado apóstolo Pedro, com base na afirmação do Senhor, o cuidado, por ele assumido, da Igreja universal, que, segundo o testemunho do evangelho, sobre si sabia fundada. E jamais este seu múnus honorífico pode ser livre de cuidados, pois é certo que as últimas decisões dependem da sua deliberação. [...] Esteja longe dos sacerdotes dos Senhor que algum deles caia na culpa de, em nova tentativa ilícita, tornar-se inimigo das deliberações dos antepassados, sabendo ter como rival de modo particular aquele junto ao qual o nosso Cristo estabeleceu o ápice do sacerdócio; se alguém ousar ultrajá-lo, não poderá habitar no reino dos céus. “A ti”, diz ele, “darei as chaves do reino dos céus” [Mt. XVI, 19], e neste ninguém entrará sem o favor do porteiro.


[...]


Já que o lugar o exige, se parecer bem, passai em resumo as disposições dos cânones; encontrareis qual é a segunda sé depois da Igreja romana, ou qual é a terceira. [...] Ninguém jamais levantou com arrogância a mão contra o vértice apostólico, cujo julgamento não é lícito submeter a nova discussão; ninguém se revoltou contra ele, exceto quem quisesse por ele ser julgado. As acima referidas grandes Igrejas mantêm, por força dos cânones, sua posição de dignidade: a de Alexandria e de Antioquia [conforme I Concílio de Nicéia, cânon 6], tendo conhecimento do direito eclesiástico. Elas guardam os estatutos dos antepassados, em tudo deferindo – e em troca recebendo – os favores que reconhecem devido a Nós, no Senhor, que é a nossa paz.


Mas, como o assunto o requer, devemos demonstrar com documentos que particularmente as Igrejas Orientais, para as grandes questões nas quais fosse necessário maior investigação, sempre têm consultado a Sé Romana e que, toda vez que necessário, têm pedido o seu auxílio.


S.S. CELESTINO I: CONCÍLIO DE ÉFESO: 1ª SESSÃO DOS CIRILIANOS. SENTENÇA CONCILIAR CONTRA NESTÓRIO. De 22 de junho de 431.


Como o ilustríssimo Nestório, entre outras coisas, não quis nem obedecer a nossa convocação, nem acolher os santíssimos e piíssimos bispos mandados por nós, fomos obrigados a proceder ao exame de suas ímpias expressões; e como, por suas cartas, pelos escritos que foram lidos e pelas afirmações recentemente proferidas nesta metrópole, como ficou atestado, o flagramos pensando e pregando impiamente, obrigados pelos cânones e pela carta do nosso santíssimo pai e colega no ministério Celestino, bispo da Igreja de Roma, chegamos, muitas vezes com lágrimas, a esta dolorosa condenação dirigida contra ele: Nosso Senhor Jesus Cristo, por ele blasfemado, estabeleceu, pela boca deste santíssimo Sínodo, que o mesmo Nestório está excluído da dignidade episcopal e de todo e qualquer colégio episcopal.


S.S. LEÃO I MAGNO: CARTA “QUANTA FRATERNITATI”, AO BISPO ANASTÁSIO DE TESSÁLIA. Ano 446 (?).


(Cap. 11) [...] A coesão de todo o corpo realiza uma só saúde, uma só beleza; e esta coesão de todo o corpo requer, certamente, a unanimidade, mas exige particularmente a concórdia dos sacerdotes. Embora gozem de comum dignidade, a sua ordem, porém, não é genérica. De fato, também entre os beatíssimos Apóstolos, na igualdade de honra, houve certa diferença de poder; e se bem que a eleição fosse comum a todos, a um somente foi dado ter a primazia sobre os outros. De tal modelo surgiu também a diferenciação dos bispos e, com notável ordem, providenciou-se que nem todos assumissem tudo, mas que em cada província houvesse alguns cujo juízo entre os irmãos fosse tido como prioritário; e que, por sua vez, alguns constituídos nas cidades maiores assumissem uma responsabilidade mais ampla e através deles confluísse para a única Sé de Pedro o cuidado da Igreja universal e nada em nenhum lugar ficasse separado de sua cabeça.


S.S. LEÃO I MAGNO: CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA: 7ª SESSÃO: CARTA SINODAL “ἘΠΛἩΣΘΗ ΧΑΡἎΣ”, AO PAPA LEÃO I MAGNO. Início de novembro de 451.


Que coisa, de fato, dá alegria mais sublime que a fé? [...] Desde antigamente no-la transmitiu, para a salvação, o próprio Salvador, dizendo: “Ide, ensinai a todas as gentes...” [Mt. XXVIII, 19]; tu mesmo a tens conservado, qual corrente de ouro descida do céu até nós por ordem de quem rege, fazendo-te para todos o intérprete da voz do bem-aventurado Pedro e atraindo sobre todos a bem-aventurança de sua fé. Por isso, também nós, usando-te como guia para o aproveitamento deste bem, mostramos aos filhos da Igreja a herança da verdade, [...] tendo dado a conhecer, em unânime concórdia e comunhão de sentimentos, a profissão de fé. E nos encontrávamos num comum canto coral, entregando-nos, como nos banquetes imperiais, ao gozo dos alimentos espirituais que Cristo mediante o teu escrito [(especialmente o Tomus Leonis)] preparou para os convidados; também nos parecia o esposo celeste estar participando de nosso convívio. Se, de fato, ele disse que, onde estão dois ou três reunidos em seu nome, lá está no meio deles [Mt. XVIII, 20], que grande familiaridade mostrou ele aos quinhentos e vinte sacerdotes que puseram acima da pátria e trabalho o entendimento da profissão de fé nele; dos quais tu, qual cabeça em relação aos membros, és o guia, demonstrando teu excelente conselho por meio dos que te representavam.


S.S. GELÁSIO I: CARTA “FAMULI VESTRÆ PIETATIS”, AO IMPERADOR ANASTÁSIO I. Ano 494.


São dois, na verdade, ó augusto imperador, os poderes pelos quais, principalmente, este mundo é dirigido: a sagrada autoridade dos pontífices e o poder do rei; e, entre estes, o dos sacerdotes pesa tanto mais, porque também deverão dar conta, no julgamento divino, dos próprios reis da humanidade.


De fato, filho clementíssimo, tu sabes que, se bem que sejas o primeiro em dignidade entre os homens, todavia abaixas devotamente a cabeça para aqueles que são responsáveis das coisas divinas e procuras junto deles o que serve para a tua salvação; e reconheces que, para receber os celeste sacramentos e administrá-los como convém, tu deves submeter-te à ordem da religião antes que estar à sua frente. Sabes, portanto, que neste âmbito, tu dependes do julgamento deles e não podes querer que eles sejam submetidos à tua vontade.


Se, de fato, no que se refere à ordem da disciplina pública, sabendo que por superior disposição o governo foi confiado a ti, também os mesmos antístites da religião obedecem às tuas leis, para que não pareçam nas coisas mundanas subtrair-se a [uma por Deus a ti permitida ou obedecer a] uma decisão excluída, com quanto mais amor, te peço, será preciso e conveniente obedecer àqueles que foram destinados a conferir os venerandos mistérios?


Por isso, como os bispos correm o não leve risco de terem calado o que convém fazer a favor do culto da divindade, assim existe – Deus nos livre! – um perigo não medíocre para aqueles que, devendo obedecer, desdenham fazê-lo. E se convém que em geral os corações dos fiéis sejam submissos a todos os sacerdotes que tratam corretamente as coisas divinas, quanto mais se deve prestar anuência ao chefe daquela Sé que a suma divindade quis tivesse o primado sobre todos os sacerdotes, como em seguida a piedade da Igreja inteira sem interrupção tem celebrado?


Aqui, a tua piedade constata claramente que jamais alguém dentro de qualquer projeto puramente humano pode elevar-se ao privilégio e à profissão de fé daquele que a palavra de Cristo prepôs a todos e que a veneranda Igreja sempre reconheceu e devotamente tem como primaz. As realidades que foram constituídas por juízo divino podem ser agredidas pela humana temeridade; não podem, porém, ser vencidas pelo poder de ninguém.


S.S. GELÁSIO I: “DECRETUM GELASIANUM”, SOBRE A APROVAÇÃO OU A REJEIÇÃO DE LIVROS. De data incerta.


Depois de todos estes escritos proféticos e evangélicos e apostólicos que acima elencamos, nos quais a Igreja católica pela graça de Deus está fundada, julgamos dever sublinhar também o seguinte: embora para a universal Igreja católica esparsa pelo orbe o tálamo de Cristo seja único, a santa Igreja romana foi anteposta às outras Igrejas não por quaisquer decisões conciliares, mas obteve seu primado da palavra evangélica do Senhor e Salvador: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela, e te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que tiveres ligado na terra será ligado também no céu e tudo o que desligares na terra será desligado também no céu [Mt. XVI, 18].

A isso acresce a presença do beatíssimo Apóstolo Paulo, vaso eleito, que não em tempo diferente, como tagarelam os hereges, mas, agonizando juntamente com Pedro ao mesmo tempo e no mesmo dia, sob o imperador Nero, foi coroado por gloriosa morte na cidade de Roma; e eles consagraram de igual modo a supracitada santa Igreja romana ao Cristo Senhor, e com a sua presença e venerando triunfo a colocaram à frente de todas as cidades do mundo inteiro.

Por isso, a primeira sé do Apóstolo Pedro é a Igreja romana, que não tem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa do gênero [Ef. V, 27]. A segunda sé, depois, foi consagrada em nome do bem-aventurado Pedro em Alexandria, por Marcos, seu discípulo e evangelista. Como terceira foi honrada, por sua vez, a sé do beatíssimo apóstolo Pedro em Antioquia, porque ali esteve antes de ir para Roma e ali apareceu pela primeira vez o nome de cristãos para designar o novo povo.

Padre Paulo Ricardo fala sobre o aborto dos gêmeos

O programa True Outspeak do Olavo de Carvalho desta segunda contou com uma participação de meia hora ou mais do Padre Paulo Ricardo, um valoroso combatente contra os inimigos da Igreja no Brasil. Ele falou sobre o caso do aborto dos gêmeos da menina de 9 anos estuprada, dando informações que a grande mídia não publica, e dá um alerta contra a capitalização política do incidente pelos abortistas e adverários de D. José Cardoso Sobrinho. O plano seria dessensibilizar a população em relação ao aborto através da exploração dos casos permitidos pela lei brasileira.

Incorporei aqui um tocador automático. O Padre começa seu depoimento aos 14:40 decorridos de programa:



Salve Maria!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Canto Gregoriano para Quaresma

Colocarei aqui uma série de cantos gregorianos para Quaresma, Domingo de Ramos, Quinta-feira Santa, Sexta-Feira Santa, Páscoa, Ascensão e Corpus Christi. Tirei-os de discos de vinil.

Estes para o domingo da Sexagésima e o segundo domingo da Quaresma vêm atrasados, mas os próximos virão alguns dias adiantados.

Para Sexta-Feira Santa haverá toda a paixão de Cristo segundo São João cantada pelos monges. Acompanhem o blog! Salve Maria!

Coro da Hofburgkapelle de Viena, 1962

Intróito para domingo da Sexagésima (Modo 1)

Exurge, quare obdormis Domine? Exsurge, et ne repellas in finem: quare faciem tuam avertis, oblivisceris tribulationem nostram? Adhaesit in terra venter noster: exsurge, Domine, adjuva nos, et libera nos. Ps. Deus, auribus nostris audivimus: patres nostri annuntiaverunt nobis. Gloria patri . . .



Tracto para domingo da Sexagésima (Modo 8)

Commovisti Domine, terram, et conturbasti eam. Sana contritiones ejus, quia mota est. Ut fugiant a facie arcus, ut liberentur electi tui.



Comunhão para o segundo domingo da Quaresma (Modo 5)

Intellige clamorem meum: intende voci orationis meae, Rex meus, et Deus meus: quoniam ad te orabo, Domine.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Apoio aos católicos de Limeira

Quem ainda não assinou, por favor dê seu apoio aos católicos que manifestam abertamente seu apoio ao Papa.

http://www.catolicoslimeira.com.br/

Salve Maria

quinta-feira, 12 de março de 2009

A Folha de São Paulo e a carta de Bento XVI

Manchete de capa:
"Papa diz que falhou ao reverter excomunhão de bispos radicais"

A manchete da reportagem propriamente dita já baixa o tom e diz
"Papa reconhece falhas na reversão de excomunhão de bispos radicais"

A diferença entre "falhou ao reverter" e "falhas na reversão" é evidente para qualquer um que saiba português. Mas é lógico que a Folha não faz isto inocentemente, por acidente. O intuito da Folha em sua manchete de capa foi evidentemente de dar a entender ao leitor desavisado que o Papa reconhece que a reversão das excomunhões foi um erro. Quem confia nesse jornal está fadado a ser constantemente enganado por esse tipo de manipulação semântica, sobretudo nas manchetes.

Na reportagem propriamente dita, assinada como "Da EFE, na Cidade do Vaticano", o teor real da carta de Bento XVI é descrito, mas ainda com algumas pérolas. Após adjetivos carinhosos como "bispos ultraconservadores" e "arcebispo cismático Lefebvre", vemos o trecho

"O papa diz que a sociedade (S. Pio X) só será reintegrada à igreja se aceitar as decisões do Concílio Vaticano 2o, que nos anos 60 aboliu adotou (sic) reformas como a abolição da missa em latim e uma posição mais aberta em relação ao ecumenismo." (grifo meu)

Que interessante saber que:

- A missa em latim foi abolida.
- Que a FSSPX terá que abolir a missa em latim para ser reintegrada à Igreja.
- O Motu Proprio provavelmente deve ignorar que missa em latim está abolida. Avisem ao Papa.

Agora, sem ironia, eu ainda me pergunto se a redação da Folha tem especialistas em desinformação para fazer este tipo de serviço ou se já atingiram o nível de fazê-lo automaticamente.

Salve Maria e fiquem com Deus

-David

Fortalecendo a Amizade na Distância.

Cruzados de Maria e São Pio V estão mais unidos na luta em defesa da fé católica!

Com grande alegria, publicamos um trabalho deste louvável grupo de católicos da cidade de Curitiba - Brasil. http://www.saopiov.org/


CITAÇÕES SOBRE O PRIMADO DA IGREJA ROMANA, O PRIMADO DO PAPA E A NECESSIDADE DE SUBMISSÃO AO SUMO PONTÍFICE PARA A SALVAÇÃO DA ALMA - PARTE I

ENCHIRIDION CITATORUM DOGMATICORUM CIRCA COGNICIONEM PRINCIPATUS PRIMATUSQUE SANCTÆ ROMANÆ ECCLESIÆ ET ROMANI PONTIFICI ATQUE CIRCA NECESSITATEM OBEDIENTIÆ EI PRO SALUTE ANIMÆ

VEL

DE PRIMATU UNIVERSO EPISCOPI ROMÆ

Conditor:
Marcos Vinicius Matke

PARS PRIMA

A SÆCULO I AD SÆCULUM IV


Compêndio de citações dogmáticas acerca do reconhecimento da primazia e primado da Santa Romana Igreja e do Romano Pontífice e da necessidade de submissão a este para a salvação da alma

ou

Da primazia universal do Bispo de Roma

Organizador: M.V.M.

Parte I

DO SÉCULO I AO SÉCULO IV


S.S. SÃO CLEMENTE I DE ROMA: CARTA “ΔΙΆ ΤΆΣ ΑΊΦΝΙΔΊΟΣ”, AOS CORÍNTIOS. Do ano 96.


Cap. 7, n. 1. Nós vos escrevemos tudo isso para vos advertir.

Cap. 58, n. 2. Acolhei nosso conselho e não vos arrependereis.

Cap. 59, n. 1. Mas se alguns não obedecerem àquilo que por ele [Cristo] é dito através de nós, saibam que serão implicados numa culpa e num pecado não pequeno; (2) nós, porém, seremos inocentes desse pecado.

Cap. 63, n. 2. De fato, sereis motivo de alegria e regozijo se, obedecendo a quanto vos temos aqui exposto no Espírito Santo, cortardes pela raiz a fúria injustificável da vossa inveja, conforme o pedido de paz e concórdia que nesta carta fizemos.


S.S. CORNÉLIO: CARTA “QUANTAM SOLLICITUDINEM”, AO BISPO CIPRIANO DE CARTAGO, ano 251.

Profissão de fé apresentada por Máximo, Urbano e outros africanos, convertidos á Santa Religião, do cisma de Novaciano, ao Papa Cornélio, que a retransmite a Cipiano.


“Nós sabemos que Cornélio foi eleito bispo da santíssima Igreja Católica, por Deus, Senhor nosso; confessamos o nosso erro, fomo vítimas de uma impostura, fomos envolvidos num palavrório pérfido e capcioso. De fato, embora parecesse como se tivéssemos certa ligação com esse homem cismático e herege, o nosso coração contudo ficou sempre na Igreja; pois não ignoramos que há um só Deus, um só Senhor, o Cristo, o qual confessamos, um só Espírito Santo; que deve haver um só bispo [preposto] na Igreja Católica.”

S.S. CORNÉLIO: CARTA “ἽΝΑ ΔῈ ΓΝᾮΣ”, AO BISPO FÁBIO DE ANTIOQUIA. Ano 251.


Aquele protetor do evangelho [Novaciano] não entendeu que deve haver um só bispo na Igreja Católica? Nela – não o ignorava (pois como o poderia?) – há quarenta e seis presbíteros, sete diáconos, sete subdiáconos, quarenta e dois acólitos, cinqüenta e dois exorcistas, leitores e ostiários, mais de mil e quinhentas viúvas e pobres, e a todos eles nutre a graça e a filantropia do Senhor.


S.S. JÚLIO I: CARTA “ἈΝΕΓΝὮΝ ΤΑ ΓΡΆΜΜΑΤΑ”, AOS ANTIOQUENOS. Ano 341.

Se de todo, como dizeis, houve uma certa falta em relação a eles, o juízo devia acontecer segundo o cânon eclesiástico e não desse modo. Devia haver-se escrito a todos nós, para que fosse assim estabelecido por todos o que é justo. Os afetados, na verdade, eram bispos, e as Igrejas afetadas não eram quaisquer, mas aquelas que os próprios Apóstolos dirigiram pessoalmente. Por que motivo, principalmente no tocante à Igreja de Alexandria, não foi escrito a nós? Por acaso ignorais que o costume era este: que se escreva primeiro a nós e daí venha a ser estabelecido o que é justo? Se, portanto, se suspeitava alguma coisa do gênero a respeito do bispo de lá, devia haver-se escrito à Igreja daqui.


SÍNODO DE SÉRDICA: CÂNONES SOBRE O PRIMADO DA SÉ ROMANA. Ano 343. (Durante o pontificado de S.S. Júlio I).


[...]

[Cânon. 3a] Isidoro: Cânon 4. [...] Igualmente devem-se tomar providências para isto: se em uma província algum bispo tiver um litígio com um bispo seu irmão, nenhum deles convoque bispos de outra província [como árbitros]. Se um bispo tiver sido julgado em determinada causa e achar que tem boas razões para pedir revisão do julgamento, se vos parecer bem, honremos a memória do santíssimo Apóstolo Pedro: escreva-se, ou por parte daqueles que examinam a causa, ou dos bispos que residem na província vizinha, ao bispo de Roma; e se ele julgar necessária a revisão do julgamento, faça-se a revisão, e que ele designe novos juízes. Se, porém, provar que a causa é tal que não se deve retomar o que foi tratado, será confirmado o que tiver sido estabelecido. Isto parece bem a todos? O sínodo responde: Parece bem.


O bispo Gaudêncio disse: Se parecer bem, deve-se acrescentar, a essa sentença que tendes proferido cheia de santidade: se um bispo deposto pelo julgamento desses bispos que moram nas localidades vizinhas declarar querer que se lhe faça recurso na cidade de Roma, em caso algum, depois do apelo do considerado deposto, seja ordenado no seu lugar outro bispo na mesma sé, antes que sua causa seja determinada pelo julgamento do bispo de Roma.


[Cânon. 3b.] Isidoro: Cânon 7. O bispo Ósio disse: pareceu bem, porém que: se um bispo foi acusado, e os bispos da sua região, reunidos, o tiverem condenado e destituído de seu grau, e se aparece que, feito o apelo, ele se refugiou junto ao beatíssimo bispo da Igreja de Roma e quer ser escutado, e este o julgar justo, seja renovado o exame: ele se digne escrever aos bispos na província contígua e próxima, para que eles examinem tudo diligentemente e tomem uma decisão segundo a credibilidade da verdade.


Se, porém, alguém pedir que sua causa seja ouvida de novo e com seu pedido induzir o bispo de Roma a enviar um presbítero assessor seu, estará no poder do bispo o que quiser e o que julgar: se decretar que devem ser enviados presbíteros para julgar na presença dos bispos com a autoridade daquele por quem foram designados, ficará ao seu arbítrio fazê-lo. Se, porém, acreditar que bastam para pôr termo à lide, faça o que na sua sapientíssima deliberação tiver julgado.


SÍNODO DE SÉRDICA: CARTA “QUOD SEMPER”, AO PAPA JÚLIO I. Ano 343.


Esta, de fato, parecerá ser a coisa melhor e mais apropriada: que os sacerdotes do Senhor de todas as províncias recorram à cabeça, isto é, à sé do Apóstolo Pedro.


S.S. SIRÍCIO: CARTA “DIRECTA AD DECESSOREM”, AO BISPO HIMÉRIO DE TARRAGONA. De 10 de fevereiro de 385.


(Proêmio, § 1) [...] Não negamos a resposta correspondente à tua consulta, já que, em consideração ao nosso ministério, não podemos dissimular nem temos a liberdade de calar, pois que nos incumbe, mais do que a todos, o zelo pela religião cristã. Levamos o peso de todos os que estão sobrecarregados; mais ainda, leva-o conosco o bem aventurado apóstolo Pedro, que em tudo, conforme acreditamos, nos protege e defende enquanto herdeiros de seu ministério.


(Cap. 15, § 20) [...] Agora sempre mais estimulamos a disposição de ânimo da Tua Fraternidade a observar os cânones e a manter os decretos estabelecidos, no sentido de que, quanto temos dado por resposta à tua consulta, tu o faças chegar ao conhecimento de todos os nossos coepíscopos, e não só dos que estão constituídos em tua diocese; mas também a todos os bispos cartagineses e béticos, lusitanos e galícios, ou seja, aos bispos das províncias vizinhas da tua, seja mandado, acompanhando uma carta tua, tudo quanto por Nós, em salutar disposição, foi estabelecido. E, se bem que a nenhum sacerdote do Senhor seja permitido ignorar as decisões da Sé Apostólica ou as veneráveis disposições dos cânones, todavia poderá ser bastante útil e em consideração á longevidade do teu sacerdócio, rica fonte de glória para teu amor, se aquelas coisas de natureza geral que foram escritas particularmente para ti por causa de tua solicitude pela unidade sejam levadas ao conhecimento de todos os nossos irmãos: obtemos assim, de um lado, que permaneçam incorruptas aquelas coisas que, não desconsideradamente, mas com previsão, com máxima prudência e ponderação, foram salutarmente estabelecidas por Nós; de outro, que a todas as futuras escusas se feche o acesso que, junto a Nós, a ninguém mais poderá ficar aberto.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O Papa Bento XVI se Defende


De Rorate-Caeli

Tradução de Frates in Unum

Uma carta do Papa Bento XVI a todos os Bispos do mundo sobre o levantamento das excomunhões dos Bispos da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X (FSSPX/SSPX) e sobre todos os aspectos envolvendo os problemas subsequentes relacionados ao Bispo Richard Williamson será publicada amanhã (quinta-feira). Várias fontes de notícias Italianas fornecem alguns excertos da carta esta manhã, e forneceremos uma tradução o mais rápido possível.

Excertos (Atualizado):

A carta anunciará que a Comissão Pontifícia “Ecclesia Dei” será colocada sob a autoridade da Congregação para a Doutrina da Fé (embora, por este momento, não seja claro se apenas em matérias doutrinais). O Papa deixa claro aos Tradicionalistas que não é possível “congelar” a autoridade Magisterial da Igreja em 1962 — mas ele também reprovará aqueles que se proclamam a si mesmos como “grandes defensores do Concílio” mas não querem compreender que o Vaticano II continua com a “história doutrinal inteira da Igreja”.

O Papa é franco com aqueles que proclamam o ecumenismo, mas não querem seguir através dele com a Fraternidade: “Podemos nós lançar à absoluta indiferença uma comunidade na qual existem 491 padres, 215 seminaristas,… 117 irmãos, 164 irmãs, e milhares de fiéis? Devemos nós verdadeiramente deixá-los se dispersarem da Igreja? Nos é permitido simplesmente excluí-los, como representantes de um grupo radical e marginal, da busca pela unidade e reconciliação?”

...

“Um contratempo imprevisível para mim foi o fato de que o caso Williamson foi colocado acima da remissão das excomunhões. O discreto gesto de misericórdia em direção dos quatro bispos, ordenados válida mas ilicitamente, apareceu inesperadamente como uma matéria completamente diferente: como uma negação da reconciliação de Cristãos e Judeus, e então como uma revogação daquilo que o Concílio esclareceu como o caminho da Igreja a respeito desta matéria”.

“Estou entristecido pelo fato de que mesmo os Católicos, que no final deveriam saber melhor como as coisas se colocam, consideraram ter de me atingir com uma hostilidade pronta para o ataque. Por isso, eu agradeço ainda mais os amigos Judeus que me ajudaram a prontamente remover o mal entendimento e reestabelecer uma atmosfera de amizade e confiança”.

Algumas das palavras conclusivas são fortes: “A impressão é comumente dada de que nossa sociedade sente a necessidade de ao menos um grupo ao qual nenhuma tolerância é concedida; que se possa perfeitamente abusar com ódio. E se alguém ousa aproximar-se deles, ele também perde seu direito à tolerância e também pode ser tratado com ódio, sem medo ou reservas”.

O Papa lamenta, em seguida, o fato de que o mesmo levantamento da excomunhão, “o alcance e os limites da medida”, não foram “elucidados de modo suficientemente claro no momento da sua publicação”. E precisa que a excomunhão afeta pessoas, não instituições: a revogação é um ato disciplinar, que permanece bem distinto do âmbito doutrinal: “O fato de que a Fraternidade São Pio X não possui uma posição canônica na Igreja não se baseia em última instância sobre razões disciplinares, mas doutrinais” e seus ministros, mesmo que ” tenham sido liberados da punição eclesiástica, não exercem de modo legítimo qualquer ministério na Igreja”.

Continuando sobre este tema, o Papa anuncia a intenção de unir a comissão Ecclesia Dei, que lida com os lefebvrianos, à Congregação para a Doutrina da Fé. E falando do propósito disse: “Não se pode congelar a autoridade magisterial da Igreja no ano de 1962 - isso deve ser bem claro para a Fraternidade. Mas alguns daqueles que se mostram como defensores do Concílio também devem ser recordar à memória que o Vaticano II traz consigo toda a história da doutrina da Igreja. Quem quer ser obediente ao Concílio deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não pode cortar as raízes das quais a árvore vive”.

Bento XVI - e é a parte mais comovente da carta - em seguida responde à pergunta crítica que muitos lhe reviraram nestas semanas: o levantamento da excomunhão era necessário? Era realmente uma prioridade? O Papa respondeu que a sua prioridade como pastor universal “é tornar Deus presente neste mundo e de abrir aos homens o acesso a Deus. Não a um deus qualquer, mas àquele Deus que falou no Sinai; àquele Deus cujo rosto reconhecemos …em Jesus crucificado e ressuscitado”. No momento em que Deus desaparece do horizonte dos homens, é necessário “ter ao coração a unidade dos crentes”, porque a sua discórdia e confronto “põe em dúvida a credibilidade do seu falar sobre Deus”. Mesmo “reconciliações pequenas e médias” fazem, portanto, parte da prioridade para a Igreja. O “calmo gesto de uma mão estendida”, em vez, deu origem a um grande barulho, transformando-se assim “no contrário de uma reconciliação.”

[...] Bento XVI não esconde que da Fraternidade por um longo tempo chegaram “muitas coisas conflituosas - soberba, arrogância, unilateralismo, etc. Por amor à verdade devo acrescentar que também recebi uma série de depoimentos comoventes de gratidão, nos quais ficavam perceptíveis uma abertura do coração”.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O Arcebispo "excomungado" pela mídia

O Conde Leonardo Bruno e David Carvalho comentam sobre as declarações do arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho a respeito do aborto praticado contra uma jovem de nove anos, estuprada pelo padrasto, e falam sobre aborto. Clique aqui para escutar.

E também, para informações sobre o caso que a mídia não publica, como o fato de que a mãe e o pai legítimo da menina eram contra o aborto, sendo este, portanto, uma decisão tomada e executada pelo tal Conselho Tutelar, ver o depoimento do Padre Edson Rodrigues, pároco de Alagoinha - PE aqui.

Pio XII e os problemas modernos (I): O papel dos leigos no apostolado

 

Costuma-se dizer com freqüência que, durante os quatro últimos séculos, a Igreja foi exclusivamente “clerical”, por reação contra a crise que, no século XVI, pretendera chegar à abolição pura e simples da Hierarquia e, a propósito, insinua-se que está em tempo de ampliar ela os seus quadros. Semelhante julgamento está de tal modo longe da realidade quando foi precisamente desde o santo Concílio de Trento que o laicato tomou posição e progrediu na atividade apostólica. [...]

Poder-se-ia afirmar que todos são igualmente chamados ao apostolado na acepção estrita da palavra? Deus não deu para tanto a todos nem a possibilidade, nem as aptidões. Não se pode exigir que se encarregue de obras desse apostolado a esposa, a mãe, que educa cristãmente os filhos, e que deve além do mais trabalhar em casa para ajudar o marido a sustentar os seus. A vocação de apóstolos não se destina portanto a todos.

[...] não deve ela [a obra de apostolado] conduzir a um exclusivismo mesquinho, ao que o Apóstolo chamava “explorare libertatem“: “espreitar a liberdade” (Gal 2, 4). No quadro de vossa organização, deixai a cada um grande amplitude para desenvolver suas qualidades e dons pessoais em tudo o que pode servir ao bem e à edificação: “in bonum et aedificationem” (Rom 15, 2) e regozijai-vos quando fora de vossas fileiras virdes outros, “conduzidos pelo espírito de Deus” (Gal 5, 18), conquistar seus irmãos para Cristo. [...]

É fora de dúvida que o apostolado dos leigos está subordinado à Hierarquia Eclesiástica; esta é de instituição divina; não é portanto possível independer dela. Pensar de outro modo seria solapar pela base a rocha sobre a qual o próprio Cristo edificou a sua Igreja. [...] De maneira geral, no trabalho apostólico é de desejar que a mais cordial harmonia reine entre Sacerdotes e leigos. O apostolado de uns não é concorrência ao de outros. [...] O apelo ao concurso dos leigos não é devido à fraqueza ou ao revés do Clero em face de sua tarefa presente. Que tenha havido fraquejamentos individuais, é a inevitável miséria da natureza humana, e coisa que se encontra por toda parte, mas, para falar de modo geral, o Padre tem olhos tão bons quanto o leigo para discernir os sinais do tempos, e não tem o ouvido menos sensível para auscultar o coração humano. O leigo é chamado ao apostolado como colaborador do Padre, freqüentemente colaborador muito precioso, e mesmo necessário em virtude da falta de Clero, muito pouco numeroso, dizíamos, para ser apto a satisfazer sozinho sua missão.

(Pio XII, Discurso ao Congresso Mundial do Apostolado Leigo de 1951)

Publicado originalmente em Fratres in unum

sexta-feira, 6 de março de 2009

Minuta de carta a ser enviada a Dom Aldo‏

Caro Amigo (a) e Irmão (ã) na Fé

Cientes dos acontecimentos exarados pela mídia nos últimos dias, queremos manifestar o nosso apoio ao Arcebispo Católico Dom Aldo di Cillo Pagotto. Para isso, propomos a assinatura de confirmação da carta abaixo. Se quiser apoiar-nos nessa iniciativa, depois de assiná-la, envie-a aos seus contatos católicos, sempre incluindo o remetende original como destinatário também, para que possamos, ao fim, com todas as assinaturas conseguidas, remetê-la a Dom Aldo. Veja a mensagem:

Ao Exmo. Revmo. Sr. 

Dom Aldo di Cillo Pagotto, sss

DD. Arcebispo da Paraíba

cillopagotto@arquidiocesepb.org.br


Nós, católicos abaixo indicados, vimos por meio desta carta eletrônica manifestar nosso apoio frente à atitude justa e corajosa de Vossa Excelência ao determinar a suspensão do Padre Luiz Couto.

Neste momento, em que há setores da mídia anti-católica e da sociedade que se voltam contra Vossa Excelência, queremos prestar-lhe nossa solidariedade, garantindo-lhe que sua pessoa e suas intenções estão presentes em nossas orações.

São Bispos como Vossa Excelência que constituem a glória do Episcopado Católico.

Pedindo-lhe humildemente a bênção apostólica, nos declaramos seus filhos.

quarta-feira, 4 de março de 2009

“Professio Fidei Tridentina“ ou “Credo de Pio IV”

Credo in unum Deum, Patrem omnipotentem, factorem caeli et terrae, visibilium omnium et invisibilium.

 


Credo IV - Saint-Benoît-du-Lac (Abbey : Q

terça-feira, 3 de março de 2009

O dep. Luiz Couto e a Comissão Pastoral da Terra contra Dom Aldo Pagotto.


As declarações diametralmente contrárias à orientação oficial do Vaticano acerca das uniões de homossexuais feitas pelo deputado federal petista Luiz Couto, que, infelizmente é também um sacerdote católico, forçaram Sua Excelência Reverendíssima, o Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, a suspendê-lo de suas atribuições sacerdotais.

Como se não bastasse um sacerdote católico estar filiado a um partido político, tratou de o fazer logo junto ao PT! Mas sua excelência vai mais além e demonstra de forma inequívoca que não é mais católico, senão vejamos:

1o. Sendo sacerdote, filia-se a partido político, o que é vedado segundo a sã doutrina católica, com um agravante, filia-se ao PT, que é ideologicamente marcado por um socialismo heterodoxo, grave pecado, além de outras situações vexatórias nacionalmente conhecidas;

2o. Posiciona-se de forma inequívoca, consciênte e pertinaz contra a sã doutrina católica. Cometeu heresia com todos os seus requisitos! Dom Aldo poderia tê-lo excomungado. Não o fêz, talvez, para evitar maior escândalo.

Agora vem a Comissão Pastoral da Terra, carro chefe da Conferência Nacional dos Bolcheviques do Brasil, manifestar seu apoio ao herege, mas nunca ao verdadeiro catolicismo, como já o demonstraram na matreira Campanha da Fraternidade. Falso amor, falsa fraternidade, falsa tolerância!

Quando é que estas pessoas vão acordar e largar o seu falso humanismo? Humanismo da indiferença! Humanismo da mentira!

Se é assim, para Dom Aldo o nosso sincero apoio e agradecimento! Deus o proteja e o conserve. Continue corajoso e amante das coisas de Deus!

Para os bolcheviques teriamos a dizer se fossem sinceros para refletir um texto de São Pio X, retirado da Carta Encíclica "E supremi Apostolatus":

"O partido de Deus.

9. Cumprir esses deveres não é apenas obedecer às leis da natureza, é trabalhar também para vantagem do gênero humano. De feito, Veneráveis Irmãos, quem poderia deixar de sentir a sua alma presa de temor e de tristeza em vendo a maioria dos homens, enquanto, por outro lado, se exaltam, e com justa razão, os progressos da civilização, vendo-os desencadear-se com tal encarniçamento uns contra os outros, que se diria um combate de todos contra todos? Sem dúvida, o desejo da paz está em todos os corações, e não há ninguém que não a chame por todos os seus anseios. Mas essa paz, insensato de quem a busca fora de Deus; porquanto expulsar a Deus é banir a justiça; e, afastada a justiça, toda a esperança de paz torna-se uma quimera. A paz é obra da justiça (Is 32,17). Pessoas há, e, não o ignoramos, em grande número, as quais, impelidas pelo amor da paz, isto é, da tranqüilidade da ordem, se associam e se agrupam para formarem o que elas chamam de partido da ordem. Ai! Vãs esperanças, trabalho perdido! De partidos de ordem capazes de restabelecer a tranqüilidade no meio da perturbação das coisas, só há um: o partido de Deus. É, pois, este que nos cumpre promover; é a ele que nos cumpre trazer o maior número de adeptos possível, por menos que tenhamos a peito a segurança publica."

Mesmo assim, o deputado federal, ainda que suspenso, já adiantou que não vai parar de celebrar missas, ainda que na própria casa. Lamentável! Falta além de tudo, humildade e obediência. Talvez ele ainda não saiba que imunidade parlamentar não vale nada diante de Deus.

É TEMPO DA QUARESMA, enquanto Dom Aldo faz uma grande obra de misericórdia espiritual (Dar bom conselho; Ensinar os ignorantes e Corrigir os que erram), a Comissão Pastoral da Terra e o dep. Luiz Couto fazem justamente o contrário!

CASAMENTO: O MISTÉRIO DO AMOR FIEL

 

Dietrich von Hildebrand

Amor e casamento

Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também amou a Igreja

e se entregou por ela”. (Efésios 5:25).

A grandeza e a sublimidade do casamento, a mais íntima e suprema das uniões, elevado por Cristo à dignidade de Sacramento, são reveladas num só golpe na exortação de S. Paulo onde ele compara o amor do casamento ao amor de Cristo, o Verbo Encarnado, pela Sua Santa Igreja (cf. Efésios 5: 25~27).

A grandeza do casamento

Nenhum outro bem humano natural foi exaltado de um modo tão elevado no Novo Testamento. Nenhum outro bem foi escolhido para se constituir num dos sete Sacramentos. Nenhum outro foi dotado com a honra de participar diretamente do Reino de Deus. Este fato em si sugere o valor infinitamente precioso já vinculado ao casamento no reino da natureza e a riqueza e grandiosidade que ele nos revela. Antes de examinarmos a natureza, o significado e a beleza do casamento Cristão (que S. Paulo chama “um grande mistério com referência a Cristo e à Santa Igreja” – Efésios 5:32), examinaremos a essência e o significado do casamento no reino da natureza, e seu caráter específico em relação a todos os outros tipos de relacionamentos e comunidades.

Apenas desta maneira poderemos compreender o que foi tão gloriosamente exaltado por Jesus Cristo e assim dissipar as interpretações errôneas da natureza do casamento tão freqüentemente encontradas.

Várias passagens da Sagrada Escritura dignificam o casamento empregando-o como uma imagem da relação entre Deus e a alma. Esta relação prefigura de um modo imperfeito o modelo perfeito, tal qual o Antigo Testamento prefigura o Novo. De fato, Cristo Se denomina o esposo da alma, e o Cântico dos Cânticos apresenta a união de Cristo e a alma na forma de um noivado.

O amor é a essência do casamento

Por que a Sagrada Escritura escolheu esta relação particular como uma imagem? Ela foi escolhida porque o casamento é a mais próxima e íntima de todas as uniões terrenas na qual, mais que em qualquer outra, uma pessoa se dá à outra sem reserva, onde a outra em sua completa personalidade é o objeto do amor, e onde o amor mútuo é, num modo específico, o tema (isto é, a essência) do relacionamento.

O amor é também a essência íntima da relação da alma com Deus. Inquestionavelmente, devemos adoração e obediência ao Rei eterno da Glória, o esplendor da Luz Eterna. Ele é o nosso Senhor. O nosso dever aqui na terra é servi-Lo em todas as coisas sem reserva. E, no entanto, por três vezes Ele pergunta ao S. Pedro, “Tu me amas?” (João 21:15). O primeiro Mandamento que contém todas as Leis e Profetas não diz, “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento, e com toda a tua força” (Marcos 12:30)?

O casamento foi escolhido como a imagem da perfeita união entre a alma e o Cristo porque no casamento, do mesmo modo, o centro e a essência é o amor. Nenhuma outra comunidade terrena é tão exclusivamente constituída na sua própria substância pelo amor mútuo.

Na amizade, por exemplo, a comunidade de pensamento ou interesses espirituais e experiências comuns desempenham uma importância capital. No relacionamento dos pais aos filhos, as suas responsabilidades de cuidado e criação ocupam um lugar essencial. Na raiz do relacionamento dos filhos aos pais se encontram gratidão e obediência devido à proteção e cuidado.

Certamente, as relações familiares, também, podem ser transfiguradas apenas pelo amor, e devem ser permeadas pelo amor. Mas embora elas possam apenas revelar seu significado real sobre a base do amor e sob sua bandeira, a essência e o princípio exclusivo de tal relacionamento é o amor mútuo.

Considerado subjetivamente, o amor não entra tão exclusivamente na essência de suas relações como o faz no caso do casamento. O seu caráter objetivo não está fundado do mesmo modo sobre o amor nem são constituídos à mesma extensão para o amor.

Por outro lado, no casamento o fundamental com a atitude subjetiva e a raison d’être objetiva do relacionamento, um relacionamento que também serve misteriosamente para procriar novos seres humanos, é o amor mútuo.

O casamento é a união maravilhosa de duas pessoas na qual é o amor e pelo amor. Mais tarde veremos que o casamento sacramental deste amor é elevado a uma comunhão misteriosa do amor e vida em Cristo e por Cristo. Mas isto pressupõe um amor mútuo único, e é somente assim que o casal unido no casamento glorifica Jesus Cristo.

O amor é o significado primário do casamento do mesmo modo que o nascimento de novos seres humanos é o seu fim primário. A função social do casamento e a sua importância para o Estado são algo secundário e subordinado. Poderemos entender isto melhor, colocando de lado por hora a dignidade sacramental do casamento e considerá-lo simplesmente como uma comunhão natural e recordar as características específicas do amor conjugal.

As características do amor conjugal

Um erro amplamente difundido, mesmo no círculo Católico, considera que o amor conjugal se distingue do amor aos amigos ou amor dos pais e filhos meramente pela sua conexão com a esfera sensual.

Pelo contrário, muito independente da sensualidade, o amor conjugal em si constitui uma espécie totalmente nova de amor. Ele envolve uma doação mútua única do ser, que é a característica extraordinária deste tipo de amor.

O amor conjugal envolve doação mútua

É verdade que mesmo em qualquer tipo de amor um se dá ao outro de um modo ou de outro, mas aqui a doação é literalmente completa e suprema. Não apenas o coração, mas toda a personalidade é dada ao outro. Quando um homem e uma mulher se amam desta maneira, eles se dão um ao outro no instante em que começam a se amar.

O homem deseja pertencer à mulher, e ela pertencer a ele; e a mulher deseja pertencer ao homem, e ele pertencer a ela.

Todo o amor certamente deseja uma reciprocidade que é livre de toda a sombra do egoísmo; mas no amor conjugal há uma aspiração não meramente para um retorno da afeição em geral, mas para o amor único onde o amado pertence ao amante de um modo inteiramente exclusivo, e este último, por sua vez, deseja pertencer inteiramente ao primeiro.

Este amor tende para uma união única e até constitui-a parcialmente: uma comunidade onde duas pessoas constituem uma união fechada que pode existir apenas entre elas. O amor conjugal estabelece um relacionamento no qual a atenção de uma à outra das duas partes gira exclusivamente em torno da outra.

O amor conjugal: o mais profundo relacionamento eu-tu

Os relacionamentos entre pessoas atualizam-se sob duas formas profundamente diversas: duas pessoas podem estar unidas através de um interesse comum, enfrentando cada uma algo exterior a elas. Juntas elas põem tomar a mesma atitude diante de uma pessoa ou coisa: elas podem sofrer juntas e se alegrar juntas, podem chegar a uma decisão juntas, e podem dar graças juntas.

Isto pode ser chamado um relacionamento de nós, onde os parceiros permanecem lado a lado, caminham lado a lado – até de mãos dadas.

Mas dois seres humanos podem também encarar um ao outro, e ao tocar um ao outro, num olhar interpenetrante, podem gerar uma fusão misteriosa de suas almas. Eles se tornam conscientes um do outro, e fazendo do outro o objeto da sua contemplação e respostas, cada um pode se imergir no outro. Este é o relacionamento eu-tu, no qual os parceiros não se encontram lado a lado, mas face a face.

De todas as comunhões terrenas, o amor conjugal é a forma mais pronunciada do relacionamento eu-tu. A pessoa amada é o objeto de nossos pensamentos, sentimentos, vontade, esperança e desejo. Ela se torna o centro de nossa vida (no que se concerne aos bens criados). Aquele cujo coração está repleto de tal amor conjugal vive não apenas com a sua amada, mas para a sua amada. Certamente tal relacionamento eu-tu na sua forma mais pura existe apenas entre a alma humana e seu Noivo celeste, Jesus. Em última análise devemos viver apenas para Ele, e no casamento, também, os dois parceiros viverem juntos por Ele. Mas no reino de bens criados, o amor conjugal significa viver um para outro. Comparado com todos os outros relacionamentos, os dois parceiros vivem numa comunhão eu-tu definitivo.

O amor conjugal envolve uma decisão

O doar-se a si, a característica específica do amor conjugal (conforme diferenciado da amizade ou qualquer outra forma de amor), é também revelado no caráter decisivo das palavras “eu te amo”. Nem sempre pode ser fácil dizer mesmo a alguém que conhecemos muito bem e a quem gostamos muito ao mesmo tempo ser considerado como um amigo, e pode ser igualmente difícil algumas vezes responder com um simples “sim” ou “não” a questão se gostamos de alguém ou não. Mas entre amor no sentido conjugal e outras formas de amor há tal diferença que a questão de se amamos outra pessoa nesse sentido pode muito bem respondida com “sim” ou “não”.

Este amor envolve uma decisão definitiva. Por este amor escolhemos decisivamente uma pessoa. A expressão “eu te amo” é característica desta decisão. Adicionar a estas palavras alguma coisa e disser “eu te amo muito” ou “eu te amo imensamente”, significa enfraquecer a força da afirmação. Ao invés de fortalecer, enfraquece a simples declaração, “eu te amo”.

O amor conjugal revela todo o ser do amado

O fato também que este amor pode surgir de um modo bastante repentino, e até desenvolver à maturidade no primeiro encontro de duas pessoas, enfatiza o contraste típico entre este e outro tipo de amor. Neste amor, a personalidade do amado é instantaneamente revelada como uma unidade completa. Os nossos olhos são capazes de penetrar o outro muito mais profundamente que de modo ordinário quando o nossa relance é distraído pelos inumeráveis objetos fúteis e mitigados por uma atmosfera cinzenta do dia a dia. Isto nunca vai além do aspecto exterior. Exatamente como no amor sobrenatural do nosso próximo penetramos num relance àquele íntimo, àquela essência misteriosa da outra pessoa na qual, através de todas as suas imperfeições, frivolidade, arrogância e trivialidade, ela reflete Deus, portanto no amor conjugal natural a verdadeira individualidade do parceiro é revelada misteriosamente. O significado profundo e secreto que permeia todos os seus dons e talentos, todo o ritmo do seu ser, é revelado num relance através de suas imperfeições. Compreendemos, por assim dizer, o plano divino subjacente à criação desta individualidade particular, exatamente como no amor do próximo compreendemos o significado geral de uma pessoa livre, espiritual, criada por Deus à Sua própria imagem num indivíduo particular.

É verdade, sem dúvida, que todo amor implica uma compreensão mais profunda da outra pessoa, um olhar mais profundo do seu ser real que brilha porém imperfeitamente através de muitos véus e fraquezas. Nada é mais errôneo do que o adágio, “Amor é cego”. O amor é aquilo que nos dá visão, revelando para nós até as faltas do outro no seu total significado e nos causando o sofrimento por causa delas. Mas o amor conjugal revela para nós intuitivamente o ser inteiro do outro numa unidade misteriosamente lúcida. Ele não apenas mostra-nos feições individuais louváveis, mas também o charme particular da sua individualidade como um todo, o que permeia tudo e caracteriza a essência do seu ser – um charme que pode apenas ser completamente compreendido pela pessoa complementar e pode possuir seu significado pleno apenas para ela.

O amor conjugal é possível apenas entre um homem e uma mulher

O caráter especial do amor conjugal é, além disso marcado pelo fato de que esta amor apenas se torna realidade, entre homens e mulheres e não entre pessoas do mesmo sexo, como no caso de amizade, amor paternal , amor maternal ou amor filial.

Seria bastante errado, porém, reduzir esta característica à esfera sexual e dizer que o amor conjugal é apenas amizade mais relações sexuais, pressupondo uma diferença do sexo. Seria incrivelmente superficial considerar como uma mera diferença biológica a distinção entre homem e mulher, que realmente nos mostra dois tipos complementares de pessoa espiritual das espécies humanas.

Certamente, o homem e a mulher têm, no final das contas, uma única tarefa, “renascer em Cristo”, e glorificar a Deus pela sua santidade. E, no entanto, homem e mulher representam dois tipos diferentes de humanidade, ambos possuindo seu significado respectivo de acordo com o plano divino, e seu valor especial muito longe da sua função de procriação.

Tomemos o exemplo de santos e santas e consideremos como, cada um no seu modo especial, realizaram o unum necessarium, e como ao mesmo tempo preencheram idealmente o significado se suas naturezas respectivas como homens e mulheres. Elevando o nosso olhar à Bem-Aventurada Virgem, vemos que Ela, que de todas as criaturas é a mais semelhante ao Cristo, não poderia ser imaginada como nada além de uma mulher, e que Ela, a Rainha de todos os Santos, é feminina no mais alto e sublime sentido da palavra.

Não: a diferença entre homem e mulher é uma diferença metafísica. Há muito tempo os Pitagorianos divinizaram isso quando colocaram o macho e fêmea entre as Categorias, embora nisso, certamente, estivessem equivocados. Os teólogos medievais, também, pensavam nisso quando levantaram a questão de se os anjos eram divididos em macho e fêmea.

De qualquer forma, para as espécies humanas esta diferença representa duas manifestações da pessoa, análoga – se esta comparação é admissível – para as várias ordens religiosas, que embora sejam idênticas na sua meta, representam diferentes caminhos na imitação de Cristo. Estes dois tipos, homem e mulher, possuem uma única capacidade de se complementarem. O seu significado de um para o outro é algo bastante peculiar. Eles são feitos um para o outro de modo especial, e podem, puramente como pessoas espirituais, formar uma unidade na qual eles se complementam reciprocamente. O amor marital – envolvendo o dom da sua própria pessoa, cujo caráter decisivo é que os parceiros formam um casal, uma comunhão eu-tu, na qual toda a personalidade do amado é fitada misteriosamente como uma unidade apesar de todos os obstáculos externos – pode existir apenas entre dois tipos de pessoa espiritual, o homem e mulher, do igual modo que entre eles esse caráter complementar pode ser encontrado.

O amor não é paixão

Estar enamorado, o que muitas pessoas consideram desdenhosamente como paixão, constitui em si apenas o ápice de um olhar espiritual pleno da pessoa amada, na qual o charme do outro ser é completamente revelado e realizada a plena êxtase da comunidade eu-tu.

De fato, estar enamorado é estar longe do desdém, tão afastado da conseqüência da Queda do homem, dentro da ordem natural – conforme Platão indicou admiravelmente no seu Fedra – estar enamorado constitui o único estado desperto, um estado no qual quebramos o grilhão da indolência e cessamos de arrastar-nos pesadamente pela vida. Tornamo-nos exatamente a imagem da nossa relação com Cristo: “O meu amado é todo meu e eu sou dele. Ele é um pastor entre os lírios” (Cântico dos Cânticos 2:16). Assim, estar enamorado é exaltado como uma figura do mais alto e sublime relacionamento ao Filho de Deus.

O amor conjugal não é uma ilusão

Que ninguém objete que ele é uma ilusão, uma intoxicação que passa rapidamente e que é baseado apenas nas qualidades externas do outro. Pois há um modo superficial e profundo de se estar enamorado, do igual modo que a amizade superficial e profunda.

Esta possibilidade geral da superficialidade não chega a argüir, porém, nem contra estar enamorado nem contra a amizade. Nem o fato de que estejamos enganados prova contra a revelação do caráter do amado, que – como vimos – implica no estado de estar enamorado. Quem negaria que apesar do fato de que na vida de oração nós chegamos a compreender muito sobre a alma e sua relação dom Deus, a auto-engano pode todavia ocorrer?

O amor não é um desejo sensual

Acima de tudo, o estar enamorado real, mesmo na sua forma superficial, nunca deve ser confundido com o desejo sensual. Estar enamorado implica sempre uma atitude respeitável, cavalheiresca em relação ao amado – um certo elemento de humildade até, um derreter da alma, da rigidez do ego. Uma pessoa verdadeiramente enamorada torna-se terna e até pura. Mesmo quando este amor é do tipo superficial e apenas baseado nas qualidades externas do amado, estas qualidades, substituindo e representando a beleza e a bondade da personalidade inteira, eleva a alma da pessoa enamorada num estado da mente em que ele supera o seu peso e indolência auto-centrado.

Estar enamorado nada tem a ver com mera intoxicação sensual; nem tem nada a ver com a fascinação satânica nem com a escravidão sensual de um Don Juan.

A intenção da duração e estrita exclusividade é uma das implicações que repousa na própria natureza de estar enamorado, bem como do amor marital. Quem quer que diga “Estou enamorado desta pessoa agora, mas não sei se continuarei a gostar dela”, não está de fato amando. Mesmo que na realidade estejamos enganados e que o nosso amor não dure mais tarde, estar amando (como amor marital) mostra claramente a intenção de durar para sempre e de modo estritamente exclusivo.

Estar enamorado é um elemento do amor conjugal

Retornaremos mais tarde a este elemento da duração e exclusividade no amor conjugal. Por momento deixem-nos apontar que o enamorar-se pertence também ao amor conjugal. Isto não significa que ele deve persistir ao mesmo grau enquanto dura o amor conjugal, mas este enamorar-se deve ser re-atualizado nos momentos específicos. Implicitamente, o amor conjugal deve sempre carregar esta potencialidade e mostrar esta característica. A enorme diferença que repousa entre o estar enamorado que constitui apenas o ápice deste amor conjugal profundo e o estar enamorado que aparece como um fenômeno independente, não necessita ser apontada, nem que a sua função normal consiste em representar a plena realização do amor conjugal.

O amor conjugal está tão distante de ser uma combinação da amizade e sensualidade que, ao contrário, suas características, que conforme descritas acima, distingue-o de todas as outras formas do amor, serve de fato como ponte para a esfera da sexualidade e unicamente torna possível uma união orgânica dos dois. Uma combinação da amizade e sensualidade é repugnante. Seria uma justaposição de elementos heterogêneos, e a esfera sensual de nenhum modo seria santificada pela combinação discordante desta espécie.

Apenas no amor conjugal, onde o homem e a mulher são unidos numa única comunhão, onde eles se dão em ao outro no sentido profundo da palavra e pertencem um ao outro na interpenetração suprema de suas almas, faz esta relação para a esfera sensual se tornar inteligível. Apenas nesta ordem pode o sublime significado da esfera sexual ser realizado na união de dois seres numa união espiritual-sensual completa de acordo com as palavras do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo: “E os dois formarão uma só carne” (Mateus 19:5).

A poligamia é essencialmente contrária ao amor conjugal

Às vezes encontramos a opinião de que a poligamia é proibida apenas por uma lei positiva de Deus, e que a monogamia não é necessariamente enraizada na natureza do casamento ou exigida pela moralidade natural. Nada é mais errôneo. Não apenas o casamento de fato mas o amor conjugal em si exclui a poligamia. O amor conjugal na sua essência visa uma só pessoa. As características da auto-doação completa e o ser exclusivamente voltado ao amado, bem como o fato que os dois parceiros formarem o casal, exclui em si a possibilidade que este amor possa ser direcionado a mais de uma pessoa. Ter dois ou mais amigos de nenhum modo é contrário ao princípio da amizade e não constitui algo indigno. Porém, não é possível para um homem amar duas mulheres conjugalmente. Todo o valor do relacionamento seria destruído. Falando estritamente, seria de fato impossível.

A exclusividade conjugal difere da possessão

Além disso, deduzir a essencial exclusividade do amor conjugal da possessão egoísta geral do homem poderia ser muito errôneo. O proprietário de um harém que considera suas mulheres seus bens em sua posse não quer que ninguém mais interfira. Isto, certamente, é uma possessão puramente egoística. Mas este proprietário de harém não possui o mínimo entendimento do amor conjugal real.

A exclusividade no amor conjugal resulta da consciência de que este amor único pode apenas existir entre dois seres, pelo menos enquanto este amor dure, e que esta união maravilhosa seria destruída e rompida se um parceiro amasse uma segunda pessoa com o amor conjugal.

E esta exclusividade concerne a própria pessoa tanto quando seu parceiro amado, uma vez que sua própria infidelidade nos causa tanto horror quanto a infidelidade do outro e é sentida tanto quanto o rompimento e a destruição da união.

O casamento é mais do que o amor conjugal

Mas o amor conjugal não é ainda o casamento, embora contenha uma antecipação do significado do casamento. O casamento é uma realidade na ordem objetiva que é constituída apenas pelo ato solene e pressupõe um ato formal da vontade: os dois parceiros se dão expressamente um ao outro, sancionando plenamente esta entrega por toda a sua vida.

O casamento é plenamente atualizada quando ambos os parceiros, em conseqüência deste ato, consumam esta entrega na união corporal. O casamento é uma comunhão de validade objetiva que inclui ambos os parceiros. Uma vez estabelecido, persiste como tal, independentemente dos sentimentos ou atitudes dos parceiros, embora ele imponha obrigações específicas sobre eles.

A existência do amor conjugal entre os parceiros torna o casamento desejável e lhe dá significado, mas não estabelece em si esta ligação objetiva.

Pois entre várias experiências humanas (tais como amor, respeito, ou alegria) há uma espécie que não é meramente um ato interior em relação à outra pessoa, mas que também cria uma realidade objetiva independente da pessoa. Assim, por exemplo, uma promessa cria uma obrigação para com outra pessoa e o direito de exigir a realização por aquela outra pessoa. O comando de um superior cria uma obrigação de realização do subordinado. A absolvição de um sacerdote em nome de Deus cria a real anulação da nossa culpabilidade. Certas decisões da autoridade de estado legítimo, podem se tornar leis, e assim por diante.

O casamento cria numa ligação objetiva

Do mesmo modo, o ato da entrega voluntária da própria pessoa à outra com a intenção de formar uma união de amor permanente e íntima, cria uma ligação objetiva que, uma vez estabelecida é separada da esfera de decisão arbitrária da pessoa em questão.

Veremos mais tarde como este ato solene do casamento alcança uma importância e força maior e infinitamente mais elevada se for conscientemente realizada em Cristo e se ele contém de um modo uma consagração de ambos os parceiros ao Cristo.

A expressão contrato-de-casamento é infeliz pois o casamento difere essencialmente de qualquer outro contrato real. Longe do caráter de reciprocidade, ele não se assemelha a um contrato mais do que qualquer promessa ou outro ato desta espécie.

A união desejada no amor conjugal se torna por este ato objetivamente real no seu sentido pleno, e nenhuma outra comunhão de amor terrena pode se tornar objetiva em tal grau. Ambos os parceiros agora pertencem plenamente ao outro. Uma ligação objetiva os une: eles já não são mais dois, mas um.

O casamento resulta de uma decisão livre

Uma decisão extraordinária é inerente no ato do casamento. Diferentemente do amor conjugal, ela não ser concretiza de si, mas é um ato livre como um ato da vontade (no sentido mais estrito do termo). Ela marca, como com os votos religiosos, o início de um novo status. Uma enorme mudança de repente toma lugar. Uma criação sublime brota, a qual, uma vez floresce, faz as mais altas exigência sobre os dois parceiros.

O casamento é exclusivo e irrevogável

Este caráter decisivo do casamento, sobre a força do qual uma mudança toma lugar e que o remove além da amplitude da nossa influência, possui também uma analogia qualitativa na entrega corporal. A união física d marido e da esposa constitui tal intimidade suprema entre eles que a sua essência é uma entrega válida uma vez por todas. Não é meramente uma intimidade passageira que não estabelece qualquer relacionamento objetivo. Ele implica uma decisão definitiva da mais alta importância. É verdadeiramente uma entrega de nosso ser ao outro e implica essencialmente a mesma exclusividade que encontramos no amor conjugal.

Do seu próprio significado e natureza, este ato pode ser consumado apenas com uma pessoa, pois, de acordo com as palavras do nosso Senhor, “Eles formarão dois numa só carne” (Mateus 5:19). Ele estabelece uma ligação de tal ternura infinita e tal proximidade profunda, tão essencialmente permanente, implicando tal entrega radical, que não pode ser repetido com outra pessoa enquanto a pessoa a quem nós nos demos integralmente estiver viva. Todos estes elementos estão contidos nesta união a mais profunda.

Mas esta união apenas se torna plenamente realidade quando segue como conseqüência da solene consumação do casamento. Quão terrível, portanto, qualquer abuso desta entrega suprema e íntima! Que degradação e profanação da união destinada como suprema realização da comunhão do amor que se torna objetiva através do casamento!

O amor é o significado da união sexual

Como o casamento é, em sua natureza, principalmente uma comunhão do amor, assim o significado da consumação física não está restrita na sua função como um meio de procriação.

Certamente, não há maior mistério na ordem natural das coisas do que o fato de que esta mais íntima de todas as uniões procria um ser humano com uma alma imortal (embora a alma, em cada caso, seja uma criação direta de Deus), e que este ato traz um novo ser à existência destinado a amar a Deus e adora-Lo, um novo ser feito à Sua imagem.

Mas este fim primário não é o único significado do ato físico. Subjetivamente falando, não é nem o seu significado primário.

O seu significado é primariamente a realização da sublime comunhão do amor na qual, de acordo com as palavras do nosso Salvador, “Serão dois em uma só carne” (Mateus 19:5). A mulher, que de acordo com Gênesis foi feita da carne do homem (um sinal que mesmo então indicava a proximidade da sua relação e designava-a como companheira inseparável do homem), é realmente unida ao homem desta maneira no casamento.

Em contraste à concepção Protestante e Puritana, que mesmo subjetivamente considera procriação como único significado da união física, uma antiga oração Católica sobre o casamento fala dele como “o mistério do amor”. O metodista Whitefield orgulhosamente afirma que o amor nada tem a ver com o namoro, dizendo, “Deus seja louvado, se eu conheço o meu próprio coração, estou livre desta paixão estúpida que o mundo chama amor”. Mas uma antiga oração Católica diz assim, “Ó Deus, na criação da humanidade, criando a mulher do homem, Vós já ordenastes que deveria haver uma união da carne e do doce amor... Senhor nosso Deus, Vós criastes o homem puro e imaculado e ainda desejastes que na procriação das gerações um fosse feito do outro pelo mistério do amor”.

A procriação e a comunhão do amor nunca devem ser separadas deliberadamente

Que um novo ser humano se cria dele é certamente parte da solene grandeza desta união intimamente suprema. O relacionamento instituído maravilhosa e divinamente entre a procriação misteriosa de um novo ser humano e esta mais íntima comunhão do amor (que somente por si já possui sua plena importância), ilumina a grandeza e solenidade desta união.

Assim é que a fim de preservar a atitude reverente dos esposos diante do mistério nesta união, esta conexão geral entre a procriação e a comunhão do amor deve sempre ser mantida mesmo subjetivamente, ao menos como uma possibilidade geral deste ato.

É difícil imaginar uma maior falta de reverência diante de Deus interferir neste mistério com as mãos profanas a fim de frustrar este mistério. Quão terrível pensar do homem que deseja destruir esta unidade que Deus estabeleceu tão misteriosamente, considerando aqueles unidos na mais alta união terrena de amor digno de tomar parte no Seu poder criativo. Ir contra os desígnios de Deus através da interferência profana, talvez até negando a existência de um ser que Deus pretendia que existisse – que presunção sacrílega!

O casamento sem filhos pode, entretanto, plenificar o ideal do casamento

Porém, por alguma razão, além da esfera da influência humana, se torna evidente que a procriação estando fora da questão, a união física entre homem e mulher ainda reter seu significado subjetivo e sua beleza intrínseca. O amor conjugal não é em si suficiente para santificar e justificar esta união? Não está a razão para a criação da mulher estabelecida em Gênesis: “Não é bom que o homem esteja só: façamos para ele uma auxiliar que lhe corresponda” (Gênesis 2:18). Pode um casamento sem filho ser considerado como um fracasso, como algo que não preenche seu significado? Podemos afirmar com justiça que seria melhor se tal casamento não houvesse acontecido? Ele poderia ter o seu significado pleno, divinamente estabelecido como a mais alta comunhão de amor, e glorificar a Deus por este fato em si?

Quando ambos os parceiros, mesmo sem filho, pertencem um ao outro no mais perfeito amor conjugal, na lealdade imutável um ao outro, na imitação da união da alma com Deus, o ideal do casamento não seria realizado até em mais alto grau que no caso de um casamento com talvez muitos filhos, onde os parceiros são infiéis um ao outro e profana a ligação sagrada pela falta de amor e lealdade? O casamento necessitaria de se tornar celibatário por causa do conhecimento de que não pode haver um filho? Isso não seria uma clara indicação que o casamento é um símbolo da união da alma com Deus, que ele possui, como tal, uma importância sublime e que ele existe em primeiro lugar por si e não exclusivamente por causa de qualquer resultado que ele produz?

Todo casamento pleno de amor é fértil

Num exame mais minucioso, vemos que todo casamento intrinsecamente pleno é fértil mesmo no sentido mais profundo da palavra. O fato de que a comunhão mais íntima do amor entre duas pessoas produz um novo ser humano reflete misteriosamente a fertilidade do amor como tal.

Pois nós não devemos esquecer que todo o amor verdadeiro possui uma plenitude espiritual intrínseca e que o conjugal abriga esta fertilidade espiritual do amor muito independentemente da procriação.

Esta fertilidade expressa em si um élan da alma, que implica no amor, num novo despertar da Alma que estimula-a ao crescimento espiritual e uma vida moral mais elevada. Ela se expressa na influência que os esposos inconscientemente manifesta sobre um ao outro, na elevação espiritual de um ao outro que sua compreensão mútua torna possível.

Cada casamento na qual o amor conjugal é assim realizado carrega fruto espiritual, torna-se fértil – mesmo embora não haja filhos.

Somente pode compreender o horror do pecado de promiscuidade aquele que visualizou a grandeza e sublimidade da união corporal como plena realização do amor conjugal, e aquele que percebe que além do fim primário da procriação, o significado primário da união corporal repousa na plenificação do amor conjugal.

Aquilo que é destinado a trazer duas pessoas juntas à uma união mais elevada e mais íntima, para uni-los “num só corpo”, - a entrega real e final de si – é usado pelo promíscuo como uma fonte de luxúria e é assim profanado de modo ignominioso. E esta profanação permanece a mesma com ou sem resultado dos filhos nesta união pecaminosa.

As palavras de S. Paulo mostram claramente que o pecado da impureza repousa essencialmente no abuso da união que Deus reservou para a mais íntima Comunhão entre duas pessoas: “Não sabeis que aquele que une a uma prostituta torna-se com ela um só corpo: Pois está dito: Os dois serão uma só carne” (1 Coríntios 6:16). Se a procriação fosse apenas o fim mas também o único significado desta união, isso seria incompreensível, em última análise, por que uma união ilegítima seria pecaminosa quando filhos resultam dela, e um casamento puro e sublime quando ele serve apenas à comunhão do amor num casamento sem filho.

Apenas casamento justifica a união física

A justificação desta união física, porém, repousa não no amor conjugal como tal, mas apenas no ato solene da conclusão do casamento que mencionamos acima. Uma vez que a união envolve a entrega expressa e solene pela qual entramos numa união tão suprema e íntima com outra pessoa, ela pressupõe não apenas a mera existência do amor conjugal mas também a solene conclusão do casamento na qual damo-nos livremente e irrevogavelmente ao amado por toda a vida.

O amor deve ser nutrido em cada casamento

Como a comunhão do amor representa o significado mais profundo do casamento, o amor não é apenas uma condição prévia do casamento mas também um sentimento que ambos os parceiros devem tornar um objeto da vontade deles, algo que deve ser protegido e estimado O amor é também uma tarefa e dever para ambos os parceiros. Se o casamento é a única projeção deste amor conjugal, então o casamento, uma vez estabelecido, exige o amor de ambos os parceiros – não apenas um amor cortês, mas também amor conjugal.

Cada esposo tem o direito de amar o outro. Manter o amor conjugal na sua inteira grandeza e pureza, no seu brilho, sua profundidade, e sua plenitude vital, é uma tarefa que se eleva para ambos os parceiros com a conclusão de seu casamento.

Por causa da nossa preguiça, nossa frouxidão, e nosso constante retrocesso à periferia que estultifica a nossa visão, é sempre difícil manter diante de nós em toda a mesma claridade e esplendor a imagem da outra pessoa tão maravilhosamente revelada pelo amor. Podemos e devemos lutar contra esta frouxidão pois ela constitui um pecado contra o templo que erigimos no nosso casamento.

Num certo sentido já somos infiéis ao outro quando cessamos de vê-lo do interior, quando não mais compreendemos o caráter mais profundo do seu ser, mas consideramo-lo como consideramos outras pessoas – do exterior.

Pois aqueles que consideram o tipo específico do amor que nós chamamos conjugal como nada além de uma paixão, seria natural para esse amor definhar no curso do tempo e manter apenas a amizade. Nós, porém, a quem o amor conjugal inclui uma compreensão mais profunda do outro, e para quem é uma relação divinamente estabelecida no casamento, deve lutar contra o enfraquecimento deste amor, contra este adormecimento, exatamente como sempre devemos nos esforçar – numa esfera incomparavelmente mais alta – para manter nosso amor por Jesus desperto infalivelmente.

Para alguém numa ordem religiosa, a realização das regras da ordem representa um contínuo esforço; assim também, o casamento exige abstenção de todos os problemas e desvios periféricos que são passíveis de distrair a atenção das pessoas amadas e destruir a concentração interior que é contido no amor.

Mas esta tarefa difere de acordo com o caráter individual do casamento. Na esfera sobrenatural, Deus concede à humanidade graça em diferentes medidas e exige mais deles de acordo com a medida da graça recebida. (O Evangelho nos dá a parábola dos talentos). Assim, também, o casamento exige mais do marido e esposa na medida que o seu casamento como tal se aproxima do ideal, e quanto mais harmonizam como caracteres.

A tarefa do amor no melhor dos casamentos

Quanto maior o amor que eles sentiram originalmente um ao outro e maior o amor que potencialmente repousa na natureza da combinação das duas pessoas, maior é o amor exigido de ambos. Se a combinação das duas pessoas contém a possibilidade deste supremo amor conjugal, ela se torna o dever de ambos os parceiros, uma vez concluído o casamento, para esforçar-se em direção à realização deste ideal.

Eles devem se esforçar a desenvolver este amor mais elevado. Devem evitar tudo que pode obscurecer ou frustrar este amor (tais como absorção do marido nos seus negócios ou da esposa nos deveres domésticos). Mas acima de tudo, eles devem estar atentos à uma indolente indiferença e de simplesmente acomodar-se na corrente dos hábitos do dia a dia. A cada hora eles devem renovar o dom inexprimivelmente precioso que Deus tem concedido em forma da alma do amado. Nunca devem perder o seu sentido de mistério maravilhoso que a outra pessoa a quem eles amam os amam, também, que a outra vive para eles, e que eles possuem algo muito acima das possessões terrenas.

A tarefa do amor nos casamentos imperfeitos

Se, porém, a combinação dos dois caracteres do homem e da mulher não oferece a possibilidade deste amor conjugal, se tal unidade interior supremo não pode ser alcançada, a tarefa de ambos os parceiros torna-se diferente. Quando tal é o caso, esta qualidade do amor conjugal crescente não é exigido deles – pois os consortes não podem dar este amor um ao outro se isso não for desempenhado por Deus em combinação com seus dois caracteres. Sua tarefa aqui é atingir a comunhão mais elevada dentro dos limites das possibilidades do seu caso individual. Eles, também, devem viver um ao outro e evitar tudo que poderia alienar ou de algum modo separá-los um do outro. Eles devem tentar ver um ao outro na luz mais elevada.

A tarefa do amor nos casamentos problemáticos

Isto contém toda a verdade de um casamento infeliz. Se o amor é completamente ausente de um lado, ou se um dos parceiros sofre por causa do outro de todas as maneiras – lembremos o casamento de Sta. Mônica – a obrigação de continuar a viver para a união objetiva que a conclusão do casamento criou persiste, apesar do fato de a combinação dos dois parceiros não tornar possível a realização do amor conjugal ideal. Um cônjuge pode simplesmente amar o outro numa forma particular de amor cortês – amá-lo porque foi com ele que a ligação do casamento foi feita. A tarefa neste caso especial consiste primariamente no sacrifício e renúncia e no cuidado para a salvação do outro.

Todo o casamento possui sua própria tarefa particular

Numa palavra, em cada casamento Deus concede aos parceiros uma tarefa particular além da obrigação que contém cada casamento: amor mútuo e fidelidade conjugal.

É, portanto, necessário compreender o significado particular de cada casamento individual, o chamado especial que Deus faz aos cônjuges: a realização de um casamento ideal ou sofrimento heróico da cruz de um casamento infeliz. O único significado divinamente conferido de um casamento individual deve ser descoberto em cada casamento, porquanto a tarefa varia de acordo com o que aparece como a possibilidade mais elevada alcançável numa dada combinação dos dois caracteres.

Mas isto não deve nos desviar da crença de que a forma objetiva do casamento como tal não visa uma realização subjetiva de uma completa união de amor, e que todos os outros casamentos medidos contra o desígnio divino do casamento representa fracassos. O casamento como tal não existe como uma provação para os consortes, ou servir como uma escola de renúncia, mas unir dois seres humanos num amor infinito numa completa união e assim, de um modo sublime, refletir a união entre Jesus e a alma.

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