segunda-feira, 29 de junho de 2009

Festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo

pedro

O dever do vigário de Cristo

  Como vigário daquele que, numa hora decisiva, diante do representante da mais alta autoridade terrena de então, pronunciou a grande palavra: "Nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade; quem está pela verdade, ouve a minha voz" (Jo 18,37), de nada nos sentimos mais devedores ao nosso cargo, e também ao nosso tempo, como de, com apostólica firmeza, "dar testemunho da verdade". Este dever implica necessariamente a exposição e a refutação dos erros e das culpas humanas que devem ser conhecidas para que se torne possível a cura: "conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres" (Jo 8,32). No cumprimento deste nosso dever, não nos deixaremos influenciar por considerações terrenas, nem nos deteremos diante de difidências e contrastes, de recusas e incompreensões, nem diante do temor de desprezos e falsas interpretações. Animar-nos-á sempre aquela paternal caridade que, enquanto sofre pelos males que afligem seus filhos, não deixará de indicar-lhes o remédio, esforçando-nos por imitar o divino modelo dos Pastores, o Bom Pastor Jesus Cristo que é, a um tempo, luz e amor: "Seguindo a verdade com amor" (Ef 4,15).

  No início da caminhada que leva à indigência espiritual e moral dos tempos presentes, estão os esforços nefastos de não poucos para destronar Cristo, o desapego da lei da verdade, que ele anunciou, da lei do amor, que é o sopro vital do seu reino. O reconhecimento dos direitos reais de Cristo e a volta de cada um e da sociedade à lei da sua verdade e de seu amor são o único caminho de salvação.

  Enquanto escrevemos estas linhas, veneráveis irmãos, chega-nos a apavorante notícia que se desencadeara o terrível tufão da guerra, não obstante todos os nossos esforços para esconjurá-lo. A nossa caneta como que hesita em prosseguir, quando imaginamos o abismo de sofrimentos de inúmeras pessoas, às quais sorria ainda ontem, no ambiente doméstico, um raio de modesto bem-estar. O nosso coração enche-se de angústia, ao prevermos tudo o que poderá medrar da tenebrosa semente da violência e do ódio, depositada hoje nesses sulcos sangüinosos que a espada acaba de abrir: Mas, mesmo diante destas apocalípticas previsões de desventuras iminentes e futuras, achamos que é nosso dever sugerir àqueles em cujos corações se aninha ainda um sentimento de boa vontade, que elevem os olhos ao único do qual deriva a salvação do mundo, ao único; cuja mão onipotente e misericordiosa pode fazer cessar esta tempestade, ao único, cuja verdade e cujo amor podem iluminar as inteligências e inflamar os corações de tão grande parte da humanidade imersa no erro, no egoísmo, nos contrastes e na luta, e reorganizá-la no espírito da realeza de Cristo.

  Talvez nos sej a lícito esperar - e Deus o permita - que esta hora de máxima indigência seja também uma hora de retificação do pensar e sentir de muitos que até agora palmilhavam, com cega confiança, o caminho semeado de erros modernos, sem suspeitarem quão insidioso e falso era o terreno que pisavam. Muitos talvez, que não compreendiam a importância da missão da Igreja, perceberão melhor agora os seus avisos, por eles descurados na falsa segurança de tempos passados. As angústias do presente são uma apologia do cristianismo, e não poderia ser mais impressionante. Do gigantesco vórtice de erros e movimentos anticristãos originaram-se frutos tão amargos que constituem uma condenação, cuja eficácia supera qualquer confutação teórica.

  Horas de tão penosa desilusão são muitas vezes horas de graça, uma "passagem: do Senhor" (Ex 12, 11) nas quais; à palavra do Salvador: "Eis que estou à porta,e bato" (Ap 3;20) abrem-se as portas que, de outra maneira, se conservariam fechadas. Bem sabe Deus com que amor comipassivo, com que santa alegria o nosso coração se volta para aqueles que, em meio de tão dolorosas experiências, sentem nascer em si o imperioso e salutar desejo da verdade, da justiça e da paz de Cristo. Mas também por aqueles que aguardam ainda a luz superna que os ilumine, o nosso coração não conhece senão amor, e de nossos lábios não se desprendem senão preces ao Pai das luzes pedindo-lhe que faça resplandecer em suas almas, indiferentes ou inimigas de Cristo, um raio daquela luz que transformou um dia Saulo em Paulo, daquela luz que demonstrou sempre a sua força misteriosa mesmo nos tempos mais difíceis para a Igreja.

CARTA ENCÍCLICA DO PAPA PIO XII

SUMMI PONTIFICATUS

SOBRE O OFÍCIO DO PONTIFICADO

sábado, 27 de junho de 2009

A Moral do Decálogo e a Moral Independente

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Do Opúsculo de Pe. Emmanuel-André: O Naturalismo (Ed. Permanência)

Estando doente a natureza, como mostramos e como constata a experiencia universal, o naturalismo aparece e, oferecendo-se como remédio de todo mal e como condição indispensável de todo bem, começa a nos ensinar a moral.

Primeiramente poderíamos dizer-lhe: A moral, mas para que? Se tuas teorias são verdadeiras, que o homem siga suas inclinações naturais e tudo irá bem!

Mas nesse ponto, o naturalismo é forçado a reconhecer que nada vai bem e volta a gritar: A moral, a moral! A moral é necessaria! É preciso a moral!

Escutemos, então, o naturalismo ensinando a moral.

Notemos primeiramente que, em matéria de moral, a humanidade nunca conheceu outra moral que não a do decálogo. Não daremos o nome de moral à doutrina de Confúcio, nem aos absurdos sistemas da India, nem mesmo às doutrinas dos estoicos, ainda menos às de Epicuro. Mas o naturalismo não poupa nada do que no passado, levava o nome de moral. Ele quer achar em si mesmo a regra de todo bem, e como sua moral é bem diferente da moral do decálogo, dá-lhe um nome bem sucedido e que a caracteriza muito bem: moral independente.

Até aqui a humanidade sempre olhou a moral como a expressão exata da dependência e da responsabilidade dos homens.

Com efeito, a moral nos prescreve deveres para com Deus, para com o próximo e para com nós mesmos.

Quem não vê que o cumprimento desses deveres tão completos se impõe ao indivíduo e só pode ser obra de Deus, criador do indivíduo e da humanidade? É pois evidente que a moral é a expressão exata, a medida, a regra, a salvaguarda de nossa dependência.

Quando nos vêm falar de moral independente, é como se nos ensinassem deveres que não são devidos, regras que não obrigam, preceitos que não ligam, em uma palavra, uma moral impotente, o que não tem absolutamente nada de moral, nada de moralizante.

Isso é o que se torna evidente quando se considera a prática dessa moral dita independente. Inicialmente, ela suprime o que chamamos nossos deveres para com Deus. Aí está a grande conquista do naturalismo, o significado característico da moral independente. Segundo o ímpio Renan, Deus é uma palavra antiquada e um pouco pesada. Na verdade, como é possível que devamos alguma coisa a uma palavra, a uma palavra antiquada, sobretudo se é um pouco pesada? Uma palavra é fácil de desprezar, desprezar duas vezes se é antiquada e um pouco pesada, então só nos resta nos desfazer dessa carga.

Foi a esse preço que a moral naturalista se tornou independente. E, no entanto, eles não se sentem tranquilos em relação a Deus. Não ousam dizer: Deus não é nada! São obrigados a confessar que é uma palavra e, se tivessem um pouco o senso da verdade, seriam obrigados a dizer que essa palavra é um nome, um nome que designa uma pessoa ou uma coisa e uma coisa única em seu gênero; porque Deus é um nome próprio e o próprio desse nome é ser antigo. Nós, cristãos, dizemos eterno.

O naturalismo não deixa de ter dificuldades no trabalho que empreendeu para se tranqüilizar com relação a Deus. Porque apesar de sua ciência e de seus esforços, os homens não podem chegar a negar a Deus senão negando sua própria inteligência; de acordo com a palavra profunda de um salmo, o homem que diz em seu coração: Deus não existe, é por isso mesmo convencido de ter perdido o bom senso: Dixit insipiens in corde suo: Non est Deus.(Sl.XIII,1).

Para que a impiedade naturalista estivesse tranqüila quanto a Deus, seria preciso que ela fosse capaz de aniquilá-lo ou que tivesse sabido, de boa fonte, que Ele não existe. Mas a impossibilidade disso é manifesta em ambos os casos. Portanto, se o naturalismo pode se constituir na dúvida ou na ignorância ou no desprezo em relação a Deus, nunca poderá levar esse desprezo, essa dúvida ou essa ignorância ao estado de ciência, e jamais homem algum no mundo pode nem poderá dizer: Sei que Deus não existe.

Portanto, o naturalismo não é admissível em sua pretensão de apagar nossos deveres para com Deus.

Vejamos a prática do naturalismo quanto a nossos deveres em relação ao próximo. Nós, cristãos, vemos claramente esses deveres porque Deus nos ensinou a sua vontade sobre isso e nos revelou a caridade. Mas o naturalismo, tendo fechado os olhos para Deus e para as luzes que nos vêm de Deus, nas lições que pretende nos dar, só se inspira no princípio do interesse pessoal. Assim, o filho honrará seu pai porque é ainda de seu interesse; o cidadão respeitará as leis porque isso é de seu interesse!

Quem não vê a fraqueza de tal princípio? Não haverá um dia em que se estabelecerá uma luta entre o interesse do indivíduo e o interesse da humanidade? E nessa luta, quais serão as regras do combate, quais serão as conseqüências? o indivíduo não terá necessidade de uma certa força moral para preferir o interesse bem entendido do próximo a seu próprio interesse mal entendido? Quem lhe dirá que ele compreende mal seu interesse pessoal, que ele deve dar preferência ao interesse do vizinho? Quem levará sua vontade a não querer o que ela quer e querer firmemente o que não quer de maneira nenhuma?

Moral independente, como ensinarás o homem a praticar uma moral não independente? Bem gostaríamos de ouvi-la falar sobre isso.

Gostaríamos também de ouvi-la ensinar ao homem seus deveres para consigo mesmo.

Sobre esse capítulo, o naturalismo só pode ensinar o egoísmo. A moral divina, a única que é verdadeiramente moral, pode falar ao homem sobre a abnegação de si mesmo; mas o naturalismo não pode pronunciar tais palavras sem se condenar, pois ele repele Deus para valorizar o homem. Se, depois disso, o homem renunciar a si mesmo, que lhe restará senão o nada? Quando a lei divina nos prescreve a abnegação de si mesmo, ela nos faz encontrar Deus e a nós mesmos em Deus, no estado de homens salvos. O naturalismo não pode fazer nada de parecido, é-lhe impossível elevar o homem acima do egoísmo.

Assim, o naturalismo fixa o homem no mais detestável dos vícios. Que ele adorne seu estado com não importa que nome faustoso, dignidade humana, independência, brio, tudo o que quiser, esse estado é vicio; e toda a moral dita independente termina nisso, sem a possibilidade de sair disso nunca mais.

É totalmente diferente a situação da moral cristã, cujo código é tão claro, tão luminoso. Que se julgue somente pelo primeiro artigo: Um só Deus adorarás e amarás perfeitamente.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Encontro com o Pe Michael Rodríguez

Temos a alegria de convidar os católicos

do Rio de Janeiro para um

Encontro com o Pe. Michael Rodríguez

Pároco da igreja católica de San Juan Bautista, da diocese de El Paso, Texas

“A Crise de Fé e a Missa Tradicional em Latim”

  • A pérola de grande preço (Mt 13: 45-46): a nossa Fé Católica

  • A pérola de grande preço (Mt 13: 45-46): a Missa Tradicional em Latim

  • Como apreciar e participar da Missa Tradicional em Latim

  • Uma espiritualidade católica autêntica baseada na Missa Tradicional em Latim

Palestra – Terço – Santa Missa

Data: 27/06/09 (sábado)

Horário: Palestra em espanhol: 15h, culminando com a Santa Missa, às 18h

Local: Colégio Sto. Adolfo Rua Joaquim Murtinho, 641 – Santa Teresa


Peçamos a intercessão da Bem Aventurada Virgem Maria por esse encontro, para que tudo seja para a Glória de Deus e o bem das almas!

Auxilium Christianorum, ora pro nobis!

Devido ao número limitado de vagas, pedimos que os interessados confirmem presença pelo e-mail: padrerodrigueznobrasil@gmail.com

Instruções para quem vem de ônibus:

Para quem vem de Niterói e subúrbio do Rio pode-se pegar o ônibus 206 ou 214 (com ponto final) no Castelo, os quais deixam na porta do Colégio. Para os que vêm da Zona Sul, pegar qualquer ônibus que passe pela Av. Mem de Sá (433, 464, 409 ou 410), saltar no primeiro ponto de ônibus após os Arcos da Lapa e pegar o ônibus 206 ou 214 na Rua Gomes Freire, esquina com Rua Riachuelo. De ônibus a subida da ladeira leva apenas 5 minutos, o colégio fica logo no início de Santa Teresa.

Divulgação do livro "A Candeia debaixo do Alqueire": Conferência do Pe Álvaro Calderón - El Magistério Conciliar -

terça-feira, 23 de junho de 2009

Doutrina para crianças (1274-1276) – Ramon Llull

Ramon Llull (1232-1316)
Tradução: Prof. Dr. Ricardo da Costa (Ufes) e
Grupo de Pesquisas Medievais da UFES III
(Felipe Dias de Souza, Revson Ost e Tatyana Nunes Lemos)
Revisão: Tatyana Nunes Lemos

A Doutrina para crianças (Doctrina pueril), obra escrita por volta de 1274 pelo filósofo Ramon Llull e dedicada a seu filho, é um documento histórico de inestimável valor, do âmbito da História da Pedagogia. Através dele, temos uma noção de como as crianças eram educadas antes de serem encaminhadas na vida, no caso, para a cavalaria ou para o monacato.

De acordo com Isidoro de Sevilha (c. 560-636) as idades do homem eram seis: 1) Infância (infantia, até os 7 anos), 2) Meninice (pueritia, até os 14 anos), 3) Adolescência (adolescens, até os 28 anos), 4) Juventude (juvenes, até os 50 anos), 5) Maturidade (senioris, até os 70 anos) e 6) Velhice (Etimologias, XI, 2). A idade do filho de Ramon Llull quando do início da redação da Doutrina Pueril era de cerca de 12 anos. Portanto, a obra encaixa-se perfeitamente nesta faixa etária já definida no século VII por Isidoro de Sevilha.

A Doutrina para crianças foi traduzida diretamente do catalão medieval para o português em parceria com o Grupo de Pesquisas Medievais da UFES III. Tomamos como base a edição RAMON LLULL (a cura de Gret Schib). Doctrina pueril. Barcelona: Editorial Barcino, 1972. Esta pesquisa fez parte do projeto de pesquisa registrado no CNPq e intitulado "A Educação na Idade Média: a Doutrina para Crianças e o Livro da Intenção de Ramon Llull". Para ter acesso ao texto, basta clicar nos títulos dos capítulos abaixo.

Ricardo da Costa (Ufes - Brasil)

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Sumário

Do Prólogo - Dos 13 Artigos

Dos 10 Mandamentos

Dos 7 Sacramentos da Santa Igreja - Dos 7 Dons que o Espírito Santo dá

Das 8 Bem-aventuranças - Dos 7 Gozos de Nossa Senhora

Das 7 Virtudes que são os caminhos da salvação e Dos 7 Pecados Mortais pelos quais o homem vai à danação perdurável

Das 3 Leis - Das 7 Artes

De matérias diversas

Fonte: http://www.ricardocosta.com/univ/puerilsum.htm

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O terceiro segredo de Fátima, começa a ser revelado…

Veja também: Uma Nova Fatima para a Nova Igreja
A Cruzada de Fátima N.º 75

A profanação de Fátima

Artigo baseado numa palestra recentemente proferida pelo
Father Paul Kramer, B.Ph., S.T.B., M. Div., S.T.L. (Cand.)


     A Liturgia da Igreja comemora a dedicação da Basílica de S. João de Latrão, a catedral do sucessor do Apóstolo S. Pedro, e da Basílica de S. Pedro, no Vaticano, onde está o túmulo de S. Pedro, o primeiro Vigário de Jesus Cristo. Estes monumentos são uma lembrança visível da promessa que Nosso Senhor fez pessoalmente a S. Pedro: a de que as “portas do inferno” não prevaleceriam contra a Igreja. É por isso que a Igreja Católica é infalível (ou seja, não pode errar) e da mesma maneira é indefectível, o que quer dizer que nunca pode afastar-se das verdades divinamente reveladas e transformar-se numa religião falsa.

A Igreja Católica será perseguida

      Como Católicos, professamos a nossa Fé em que a Santa Igreja Católica se manterá fiel até ao fim do mundo, altura em que Cristo virá de novo para julgar os vivos e os mortos.

     Todavia, a Igreja será forçada à clandestinidade por perseguições violentas: na Mensagem de Fátima profetiza-se uma perseguição sangrenta da Igreja. Quando isso acontecer, a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica será obrigada a refugiar-se de novo nas catacumbas, como sucedeu com a Igreja dos primeiros cristãos, ao tempo das perseguições das autoridades romanas.

A Igreja falsificada

      Nessa época de falsidades há-de parecer que a Igreja apostatou, quando uma igreja falsificada — denominada católica, mas que, na verdade, é uma falsa seita ecuménica de inspiração maçónica — dará a impressão de tomar o lugar da “antiga” Igreja.

     Será este o aspecto mais horrível da Grande Tribulação: a aparente destruição do Catolicismo tradicional e sua ‘substituição’ pela nova “Igreja Católica” ecuménica, monstruosidade pan-religiosa e pan-cristã.

     É esta a ‘Grande Apostasia’ — profetizada nas Sagradas Escrituras e no Terceiro Segredo de Fátima — que, neste momento, começa já a tomar forma e a desenvolver-se: a “Casa de Deus” está a ser profanada, violada e desconsagrada, tanto pela heresia ‘cristã’ como pela idolatria pagã. A profanação da Igreja de Deus é a grande abominação profetizada nas Sagradas Escrituras.

Tremendo é este lugar

     É com estas palavras que a Liturgia comemora a consagração de uma igreja: “terribilis est locus iste” (tremendo é este lugar). O Templo do Senhor, o Seu Santuário, é um lugar tremendo — que, no verdadeiro sentido da palavra, inspira temor, porque ali somos levados a compreender e a sentir o temor de Deus.

     A 9 de Novembro é a Festa da dedicação da Basílica de S. João de Latrão, a igreja do Salvador, que foi durante séculos a Sé Catedral do Romano Pontífice, Bispo de Roma e Papa da Igreja Universal. A 18 de Novembro é a Festa da dedicação da Basílica de S. Pedro, no Vaticano. E assim, comemorando a dedicação destas duas antigas igrejas, a Liturgia da Igreja invoca as palavras «terribilis est locus iste» ‘tremendo é este lugar’; porque a Igreja é “a Casa de Deus e a Porta do Céu”, tal como a Sagrada Liturgia nos ensina ao reflectir sobre a natureza celestial e a santificação desse Lugar Sagrado: “a Casa de Deus e a Porta do Céu”.

     Portanto, este é um lugar sagrado, diferente dos outros; assim, quando uma igreja é dedicada, fica consagrada a Deus e separada de tudo o que é mundano, de tudo o que é profano, de tudo o que é pagão, de tudo o que é falso, herético ou apóstata. Nos tempos antigos, durante a Cristianização do Império Romano, os templos que tinham sido construídos para os falsos deuses, em vez de serem destruídos, eram remodelados para serem locais apropriados para a presença de Deus. Eram santificados: em primeiro lugar, sendo exorcisados dos seus demónios e dedicados ao serviço de Deus; e, em seguida, sendo santificados pela própria presença de Nosso Senhor Jesus Cristo, Aquele que é o Deus incarnado que desce a nós no Santíssimo Sacramento, e que confere, a esse Lugar sagrado, o maior grau de santificação e de glorificação de Deus.

     A glorificação de Deus é um dos temas mais predominantes do Antigo Testamento, porque a glória de Deus é manifestar a Sua Glória e santificar o Seu Nome na Terra, para que a Humanidade participe na Sua santidade e na Sua vida divina. Assim, Deus manifesta a Sua glória e santifica tudo o que é separado das restantes coisas, a fim de ser sagrado e dedicado ao serviço de Deus para santificação dos homens.

Todos os demónios devem ser expulsos

      Quando Deus toma posse do Seu Templo sagrado, todos os falsos deuses devem ser expulsos. Foi por isso que, quando os espanhóis chegaram ao México, destruíram os ídolos e puseram em seu lugar a imagem da Santíssima Virgem e do Menino Jesus. Cortez e os seus homens derrubaram e destruiram todos os ídolos diante de uma multidão de pagãos e idólatras enraivecidos sem que estes — ao que parece por intervenção divina — lhes fizessem mal.

     O poder de Deus manifestou-se através dos Seus instrumentos humanos ao longo de toda a História da Igreja Católica e da Cristianização das nações. Foi esta a ordem que Jesus Cristo deu aos Seus Apóstolos, quando estava para subir ao Céu, dizendo: «Ide e fazei discípulos de todas as nações, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-lhes todas as coisas que Eu vos ensinei. Quem acreditar e for baptizado, será salvo; e quem não acreditar será condenado. E eis que estarei convosco para sempre, até ao fim do mundo.» (Mt. 28:19-20; Mc. 16:15-16).

A Igreja Católica é indefectível

      Com esta promessa, Jesus tornou claro que a Sua Igreja é indefectível; que a Sua Igreja se manterá fiel até ao fim do mundo. Deus não permitirá, não consentirá que a Sua Igreja seja totalmente subvertida e conquistada pelo demónio, e transformada na igreja do Anticristo, de Satanás, do demónio e dos seus anjos, os falsos deuses dos pagãos.

     Por isso sabemos que o grande castigo, sobre o qual Nossa Senhora de Fátima nos avisou, está próximo. Lemos nas Escrituras, nos Salmos, que Deus não permitirá que o ceptro se conserve na mão dos perversos, para que os justos não tenham que estender as mãos para ele. Deus não permitirá que os Seus eleitos caiam na infidelidade e se tornem infiéis.

     Nosso Senhor disse que o Seu Pai Celestial lhe entregara as almas na Sua mão, e que da Sua mão ninguém as conseguirá arrebatar (Jo. 10:28-29). Assim, Jesus promete que os eleitos se conservarão fiéis, independentemente de como seja a aparência do resto do mundo cristão.

A deserção de nações inteiras

      A deserção de nações inteiras é uma profecia do Segredo de Fátima. O Terceiro Segredo, ou seja, a terceira parte do Segredo que Nossa Senhora revelou em 13 de Julho de 1917 continua oculto, porque aqueles que o têm à sua guarda são exactamente os mesmos a quem as palavras de Nossa Senhora de Fátima vêm acusar.

     Sabemos que assim é: foi uma fraude a parte do Segredo que foi revelada em 26 de Junho de 2000 e intencionalmente apresentada como se fosse o Terceiro Segredo completo, porque o texto então revelado não contém as palavras de Nossa Senhora. E, como é bem sabido, o Terceiro Segredo deveria começar com as palavras de Nossa Senhora «Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé», seguindo-se o texto do Segredo no lugar do indecifrável “etc.”.

     Essas é que são as palavras do Segredo que Nossa Senhora confiou aos pastorinhos de Fátima «as palavras que Nossa Senhora confiou como segredo» às quais se refere um comunicado à imprensa emanado do Vaticano em Fevereiro de 1960, quando foi anunciado que o Segredo talvez nunca fosse revelado, nunca fosse publicado.

     Isto, evidentemente, é o que eles pretendem: que nunca seja publicado. Porque as palavras que Nossa Senhora confiou aos três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta, são uma acusação da infidelidade desses homens. O Cardeal Ciappi, que era Teólogo Pontifício e que, portanto, estava a par do texto do Terceiro Segredo, embora estivesse obrigado a não o revelar, não podia dizer mais do que isto: no Terceiro Segredo de Fátima «é predito, entre outras coisas, que a grande apostasia na Igreja começará pelo cimo».

Um grande dia para os hereges

      E que vemos hoje acontecer perante os nossos olhos? Vemos, por exemplo, hereges que andam a dizer livremente não só que a Santíssima Virgem não permaneceu virgem depois do nascimento de Jesus, mas até que o Seu Divino Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor, viveu no estado de matrimónio ou algo semelhante ao matrimónio: algo que, não sendo bem um matrimónio legítimo, era como se Ele tivesse vivido no estado de matrimónio secreto.

Está claro que isto é completamente absurdo e tanto que nem precisa sequer de ser refutado aqui, porque qualquer pessoa com um conhecimento sólido das Escrituras sabe muito bem que uma tal proposição não só é falsa como absolutamente ridícula.

     Mas o que me parece interessante foi a reacção da Conferência Episcopal Americana. Isso é que nos deveria alarmar a todos, porque é um sinal de que aqueles Bispos perderam a Fé. Qual foi, então, a sua reacção? Foi totalmente evasiva, como se vê pela transcrição que faço do que eles disseram e com uma grande clareza: «Parece não haver provas nas Escrituras, nem a favor, nem contra». E ficaram por ali.

     Afirmar a verdade divinamente revelada? Nem pensar! Na melhor das hipóteses, os Bispos americanos são cobardes; ou, o que é mais provável, são infiéis. E como se esta má notícia ainda não fosse suficiente, recorde-se que ainda não estamos a falar do mais alto nível da Igreja quando nos referimos, afinal de contas, aos Bispos americanos. O mais alto nível é o Papa, em Roma, e os membros da Cúria Romana que foram delegados para participar no exercício da autoridade suprema do Papa.

A apostasia dos réprobos vai começar no Vaticano

      Diz-nos o Segredo de Fátima, diz-nos Nossa Senhora, revela-nos a Mãe de Deus que a grande apostasia na Igreja começará por ali mesmo, pelo Vaticano. Portanto, podemos deduzir, como já foi profetizado através dos tempos pelos santos que, eventualmente, Roma será ocupada por um Antipapa, inteiramente desprovido da Fé Católica, inteiramente herético1 ao contrário do actual ocupante da Cadeira de Pedro que no seu coração deseja preservar e salvar a Igreja, mas que, no seu intelecto, se comporta como se fosse o pior inimigo da Igreja, promovendo exactamente aquilo que A levará à Sua destruição.

     O ecumenismo e a liberdade religiosa foram proclamados pelo Concílio Vaticano II como se fossem católicos, como se pertencessem de direito à Santa Igreja Católica, quando foram precisamente estes os erros que foram solenemente condenados pela Igreja, pelos Papas dos tempos passados. Todavia, estes erros foram proclamados de forma não solene e não definitiva; logo, mesmo que o Papa (que nessa altura era Paulo VI) e os Bispos do mundo tentassem proclamar estes erros em nome da Fé Católica, não falariam infalivelmente em nome de Cristo.

     Estavam, sim, a abusar do seu poder de Magistério — o que, por outro lado, não anula o facto de que foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem instituiu o Magistério docente da Igreja, exclusivamente para ensinar a Verdade. Por isso, ninguém pode dizer que um erro ensinado por um Bispo, um Concílio ou mesmo um Papa, no exercício do seu Magistério, ou seja, do seu poder de ensinar, pertence de alguma maneira ao Magistério da Igreja. É como se uma pessoa, ao ler a Sagrada Escritura, encontrasse um texto na Bíblia ao qual atribuisse um certo significado e que, como tal, o aceitasse na sua fé.

     Mas acontece que a substância da Fé é a verdade revelada. Ora, se uma pessoa erra na sua compreensão da verdade revelada, seja ela da Sagrada Escritura ou da Santa Tradição, se tem dela uma compreensão errada, uma doutrina errada, isso não deve ser aceite pela virtude da Fé, porque é pela virtude teologal da Fé que estamos unidos a Deus, que é a Verdade primordial. A própria substância da Fé é a verdade divina. Por isso, é impossível crer num erro através da Fé: o que falha é a mente humana, o intelecto humano; professar um erro não é um acto de Fé.

     Da mesma maneira, quando um Papa ou um Bispo exerce o seu poder de Magistério, se ensinar um erro, está a falhar na sua acção de exercício do poder do Magistério. Deste modo, aquilo que ensina não se integra no Magistério da Igreja; o seu ensinamento é fruto do seu próprio erro.

Os graves erros do presente são ensinados de cima

      É este o caso dos ensinamentos que não são infalíveis e que, infelizmente e muito para lamentar, vêm até do próprio Papa reinante, João Paulo II. Tenho dois exemplos presentes na memória. — Quando o Papa, em 11 de Janeiro de 1989, deu uma instrução catequética explicando o artigo do Credo dos Apóstolos referente a Nosso Senhor Jesus Cristo, «Desceu aos Infernos», fê-lo exactamente segundo o ensinamento condenado pelo Papa S. Pio V no Catecismo do Concílio de Trento. Explica o Catecismo que o artigo da Fé «Desceu aos Infernos» não significa que Nosso Senhor foi sepultado, como João Paulo II erradamente disse, porque o Credo já afirma que Ele foi crucificado, morreu e foi sepultado; e os Apóstolos não iam repetir o que já tinham dito. O que este artigo quer dizer é que Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz, e enquanto o Seu corpo foi colocado no sepulcro, a Sua Alma desceu ao limbo dos Santos Padres, que é designado pelo termo geral “Infernos” — não o inferno dos condenados, mas o mundo inferior, separado do Céu. Porque, até Nosso Senhor Jesus Cristo ter aberto as portas do Céu, nenhuma das almas dos finados podia entrar no Céu, tendo portanto que esperar neste limbo que, no Credo, é chamado Infernos.

     O Catecismo do Concílio de Trento explica que, enquanto o corpo de Cristo Nosso Senhor estava no sepulcro, a Sua Alma estava nos Infernos. Em 11 de Janeiro de 1989, o Papa João Paulo II ensinou a heresia de que, quando Nosso Senhor morreu na cruz, a Sua Alma foi para o Céu, directamente para o Céu. Isto é uma heresia; ninguém pode professá-la, sabendo que é contrária à Fé católica, e continuar a ser membro da Igreja.

     A única maneira de uma tal pessoa continuar a ser membro da Igreja é ser tão completamente ignorante da sua Fé Católica que não sabe que está a ensinar uma heresia. É a Deus que compete julgar este facto. Mas nós podemos julgar até um certo ponto, ou seja: que o Papa não conhece a Doutrina Católica.

     Ao afirmar tal coisa, estava a professar a heresia de Pedro Abelardo, segundo a qual as almas no limbo foram tocadas pelo poder da graça de Cristo. Portanto, Cristo desceu, não na Sua Alma, mas no Seu poder, pelo poder da Sua graça. Esta é a heresia condenada, o ensinamento anatematizado de Pedro Abelardo.

     Em suma: a proposição apresentada em 11 de Janeiro de 1989 por João Paulo II, a saber, que as palavras «Desceu aos Infernos» significam que a descida de Jesus Cristo aos Infernos é o mesmo que dizer que Ele foi sepultado na terra, é declarada pelo Catecismo do Papa S. Pio V não apenas como um erro mas também como um ensinamento perverso. É isto o que nos ensina o Catecismo promulgado pelo grande Papa S. Pio V; e é este Papa Quem declara claramente e com autoridade que a proposição que João Paulo II apresentou não é apenas falsa e errónea; é também um ensinamento perverso.

Os pecados mais graves são
contra o Primeiro Mandamento de Deus

      O encontro de oração que teve lugar em Assis merecia um castigo divino; mas Deus, na Sua misericórdia, é paciente ainda. No entanto, Ele manifestou a Sua cólera na forma de um terramoto destruidor, pouco depois de o Papa se unir aos pagãos para rezarem juntos: ele ao Seu Deus e eles aos seus deuses.

     O Primeiro Mandamento diz: «Não terás deuses estranhos perante Mim.». Contudo, o Papa convidou os pagãos a virem rezar aos seus ídolos e, em Assis, o ídolo de Buda foi colocado sobre o sacrário, no altar consagrado. A igreja foi assim profanada por este acto de culto pagão, feito no local que tinha sido dedicado e consagrado a Deus para o serviço sagrado, o serviço divino do Sacrifício perpétuo da Santa Missa — único acto de culto apropriado — no qual a divina Vítima é oferecida a Deus.

     O Papa convidou todos os praticantes de falsas religiões a entrarem no sagrado recinto católico para, no Lugar Santo, praticarem todos os disparates e abominações dos mistérios de Babilónia.

     Também, em 1987, o Papa declarou, a uma assembleia judaica em Mainz, Alemanha, que o Velho Testamento não tinha sido revogado: «Nunca foi revogado por Deus», para usar as suas palavras. Mais uma vez, o Papa disse uma heresia. É ensinamento definido da Igreja Católica, solenemente professado no Concílio de Florença, que a Velha Aliança acabou com a vinda de Jesus Cristo, altura em que se iniciou o Novo Testamento.

     Afinal, este é o ensinamento dos Apóstolos, de S. Paulo que, sob inspiração divina, diz claramente na Escritura que professamos, como sendo a verdade divinamente revelada, que a Velha Aliança chegou ao fim. João Paulo II diz que não, que «nunca foi revogada por Deus».

     Não se trata apenas de heresia pessoal de João Paulo II; é também vigorosa mas cuidadosamente promovida pelo Vaticano, pelo que nos podemos chamar com verdade a ‘Roma apóstata’.

     Nossa Senhora de La Salette disse: «Roma perderá a Fé e tornar-se-á a sede do Anticristo». Nações católicas, que estiveram sujeitas à lei de Deus e nas quais a Igreja Católica era a legalmente estabelecida, foram secularizadas devido às pressões diplomáticas do Vaticano. João Paulo II proclama a separação da Igreja e do Estado, e o Vaticano promove vigorosamente este erro abominável2.

     Pelo contrário, o Papa S. Pio X condenara a Doutrina da Separação da Igreja e do Estado sublinhando que o erro desta separação fora repetidamente condenado pelos Papas em várias ocasiões3.

A profanação de Fátima

      Em nome da liberdade religiosa, o Concílio Vaticano II ensina que todos têm o direito de professar aberta e publicamente a sua religião, segundo a sua consciência, seja qual for essa religião; é de acordo com estes ensinamentos condenados e abomináveis que a liberdade de consciência, a liberdade religiosa e o ecumenismo ousam até profanar o local onde Nossa Senhora apareceu, em Fátima, e que a Mãe de Deus santificou com a Sua presença. Vão profanar aquele local santo com o paganismo. O Vaticano tenciona permitir que aquele local se transforme num ‘santuário’ diabólico do paganismo.

     Querem agora fazer dele um ‘santuário’ (pelo menos assim lhe chamam, o que é uma contradição flagrante) para todas as religiões, onde todas as religiões se possam unir — quando é disto, precisamente, que Nossa Senhora quer salvar o mundo: afinal, salvá-lo da grande apostasia predita no Terceiro Segredo de Fátima. E agora é o Vaticano que permite a transformação daquele local sagrado num santuário da apostasia.

O exemplo de S. Columbano

      Tal programa é diametralmente oposto ao Evangelho de Jesus Cristo. Os santos foram enviados a cristianizar o mundo, e condenaram a idolatria dos pagãos. O Império Romano não foi cristianizado pelo diálogo, mas pela pregação destemida do Evangelho de Jesus Cristo e pela denúncia corajosa da abominação do paganismo. E mais tarde, quando o Império Romano se desfez e foi invadido por bárbaros pagãos, foram novamente os santos que compreenderam a natureza da sua vocação sacerdotal, e saíram dos mosteiros para recristianizar uma Europa descristianizada.

     S. Columbano deixou a Irlanda e viajou pela Europa fora, fundando mosteiros, e os seus discípulos fundaram mais mosteiros. E estes vieram a ser os grandes centros católicos da Europa. Se os monges não andassem pela Europa a anunciar as Escrituras, depois da queda do Império Romano, o Cristianismo teria perecido com o Império.

     Mas, pela Providência Divina, enquanto os bárbaros tudo destruíam por todo o antigo Império, todos os tesouros da cultura latina, da literatura latina e das ciências sagradas se iam concentrando na Irlanda.

     Os monges do Egipto, e muitos das terras distantes do Próximo Oriente, fugiram e refugiaram-se na Irlanda. E partiram dali para recristianizar a Europa, que estava já devastada pelos bárbaros pagãos. Não dialogaram com os adoradores de Thor e de outros falsos deuses; pregaram vigorosamente o Evangelho e afastaram o povo dos erros da sua idolatria.

     Os bispos da Igreja Romana deixaram-se ficar no conforto dos seus palácios, com alguns dos funcionários do antigo Império que restaram, a nobreza de um Império que já não existia no Ocidente. Não se aventuraram a pregar aos pagãos, aos bárbaros; ficaram satisfeitos em se deixarem estar em casa e viverem no seu conforto.

     Os monges compreenderam que era seu dever, como Sacerdotes de Jesus Cristo, baptizar as nações, salvá-las da idolatria. S. Columbano fundou mosteiros; ele e os seus monges pregaram no que é hoje a França, a Alemanha e a Áustria, e chegaram mesmo a Kiev. E que recompensa lhe foi dada? Foi intimado, em 603, a apresentar-se a um sínodo de bispos, porque estes, que se chamavam a si próprios ‘os pastores legítimos’, não o tinham autorizado a fazer tal coisa.

     É como se ele não tivesse sido incardinado numa das suas dioceses, como se não fosse autorizado pelos bispos locais; e por isso consideraram-no ilegítimo e irregular. Mas S. Columbano compreendera que o Sacerdócio é uma vocação divina. O Sacerdote não se limita a servir às ordens do Bispo — foi enviado por Jesus Cristo.

     O Sacerdote não pode deixar-se ficar calado quando o Bispo lhe diga: «-Não quero que volte a pregar». «-Porque não?» «-Porque não simpatizo consigo».

Devemos resistir ao erro, venha ele de onde vier

      Se o Sacerdote estiver a ensinar alguma heresia, então o Bispo tem autoridade para o mandar parar. Mas se o Bispo e a alta Hierarquia de Roma estão a promover a heresia, e o erro, e abominações, então o Sacerdote tem o dever acrescido de combater o erro. Como disse S. Belarmino, se o Papa atacar a Fé, lhe deve ser resistido; e o instrumento dado por Deus para resistir ao erro é a pregação do Santo Evangelho.

     Não importa se o Papa está a tentar destruir maliciosamente a Fé, ou se o está a fazer sem querer, por ignorância. A Igreja ensina que lhe deve ser resistido se Ele estiver a pôr a Fé em perigo.

     O perigo para a Fé no tempo de S. Columbano era o fracasso total, por parte da grande maioria da hierarquia, em obedecer ao mandamento divino: «Ide e fazei discípulos de todas as nações, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo» (Mt. 28:19). Parece que quase todos os Bispos pensavam que esta ordem não se aplicava a eles.

     Ora o facto é que eram eles os sucessores dos Apóstolos, e tinham mesmo esse dever; mas não o cumpriam. Foram os monges célticos que levaram essa ordem a sério, sob a direcção de santos como Columbano, e iam ser castigados por cumprirem o seu dever perante Deus, por obedecerem à ordem divina.

     E assim, S. Columbano não compareceu à intimação de se apresentar às ordens dos Bispos da Igreja Católica, para responder às acusações feitas contra ele. Respondeu com uma carta, como nos relata Thomas Cahill:

      «Columbano, que não estava para tomar parte numa tal farsa, enviou antes uma carta — uma carta elaborada de modo a fazer os Bispos treparem pelas suas belas paredes acima:

“Aos santos senhores e padres — ou antes, irmãos — em Cristo, Bispos, Sacerdotes e outras ordens da Santa Igreja, eu, Columbano, um pecador, envio saudações em Cristo.

“Dou graças ao meu Deus porque, por minha causa, tantos homens santos se juntaram para tratar da verdade da fé e das boas obras, e, como convém em tais ocasiões, para julgar sobre as matérias em discussão com um justo julgamento, usando os sentidos apurados para discernir o bem e o mal. Quem dera que o fizésseis mais vezes”»!4

E é claro que ignorou a intimação e continuou o labor divino da evangelização dos pagãos.

Os erros actuais de dignitários da Igreja

      A Igreja Conciliar substituiu o proselitismo pelo diálogo ecuménico — rejeitando a ordem divina de «fazer discípulos de todas as nações» (Mt. 28:19).

     A heresia da Igreja Conciliar é considerar boas, e portanto verdadeiras, todas as religiões, embora imperfeitas e professando erros. A Fé Católica admite que só há uma Igreja verdadeira, uma Fé verdadeira, e uma Religião verdadeira. Todas as outras religiões são falsas. Fora da Igreja só há hereges, infiéis e pagãos. A apostasia na Igreja, profetizada por Nossa Senhora de Fátima, está perante nós sob a forma da detestável mistura ecuménica da santa religião de Cristo com a abominação do paganismo. A apostasia é precisamente isto: a tentativa de unir todas as religiões numa grande igreja paganizada. Isto é o que a Sagrada Escritura chama a abominação, o mistério de Babilónia.

     Uma tal iniquidade está a ser promovida pelo Vaticano e por muitos dos Bispos: vão transformar o Santuário de Nossa Senhora de Fátima num santuário pagão. Aquela Que é mais terrível do que um exército alinhado para a batalha, Cujo Imaculado Coração triunfará, há-de triunfar sobre a iniquidade paganizada que a Roma apóstata quer erguer. É precisamente no lugar em que Ela revelou o mistério da iniquidade no nosso tempo que eles tencionam promover as abominações da iniquidade pagã.

     Querem transformar aquele lugar santo num santuário do demónio, dos falsos deuses que, como diz a Escritura, são demónios; num lugar onde todos os falsos deuses serão adorados juntamente com Nosso Senhor Jesus Cristo. «Não terás deuses estranhos perante mim». Como Católicos, não podemos deixar de nos erguer para denunciar isto como uma abominação herética, um acto de apostasia. A verdadeira religião não pode ser praticada juntamente com as falsas religiões.

Devemos resistir activamente à apostasia

      Quem promover uma tal abominação, ou participar nela, perdeu todo o direito moral de exercer qualquer autoridade sobre os que ainda mantêm a Fé Católica, os que não querem juntar-se a eles na apostasia. E nós todos que o compreendemos, quer sejamos Padres quer leigos, temos o dever de resistir. Resistir aos pastores, resistir aos Bispos, e até resistir ao próprio Papa, caso o Papa também a promova — e isto porque Deus nos ordena que mantenhamos a Fé Católica “íntegra e inviolada”, porque o Credo nos diz que, se não conservarmos a nossa Fé integralmente e sem contaminações, pereceremos para toda a eternidade.

     Isto diz respeito especialmente àqueles que são ministros do Santo Evangelho, cujo dever é denunciar a abominação, condená-la incondicional e claramente. Porque, como sabemos pela Mensagem de Fátima, a apostasia começará de cima, a partir do Vaticano. E eventualmente de um Antipapa que proclamará abertamente o mistério paganizado de Babilónia como a falsificação da Igreja Católica — que será católica de nome, mas pagã na sua própria essência.

Aproxima-se uma perseguição sangrenta

      Verificamos que já se está a dar uma transformação. E quando ela assentar, tomar forma, então dar-se-á a perseguição sangrenta, a exterminação em massa dos Católicos. E as palavras de Nossa Senhora serão cumpridas: «os bons serão martirizados, o Santo Padre (o Papa autêntico) terá muito que sofrer». Mas Nossa Senhora de Fátima diz: «Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia».

     Devido a esse acto de Consagração, a Rússia transformar-se-á de instrumento de perseguição em instrumento de defesa e salvação da Igreja e da Fé Católicas, face à iniquidade pagã que tem minado a Igreja de Roma. Os Ortodoxos russos, mesmo hoje, recusam terminantemente qualquer diálogo com a Igreja Romana, porque vêem que a Igreja Romana está a ser paganizada.

     Nem sequer admitem uma pequena alteração das palavras das orações da sua liturgia. Isso seria anátema para eles. Quando vêem a protestantização e a paganização da Igreja Romana, tremem.

     Quando o Papa consagrar a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, quando a Rússia se converter ao Catolicismo, será verdadeiramente a Santa Rússia, uma Rússia Católica, um inimigo tradicional, inflexível e implacável dos erros do Vaticano II, que nos salvará da iniquidade do paganismo que ameaça sufocar aquilo a que já se chamou a Cristandade.

Notas

1. S. Francisco de Assis: «haverá um papa eleito de forma não canónica que causará um grande cisma, haverá pregação de várias ideias que levarão muitos, mesmo os que pertencem às ordens [religiosas], a duvidar, ou mesmo a concordar com esses hereges, o que levará a minha Ordem a dividir-se; haverá tais dissensões e perseguições generalizadas que, se esses dias não fossem encurtados, até os eleitos se perderiam» (Rev. Gerald Culleton, em The Reign of Anti-Christ, p. 130).

2. Cf. Abbé Daniel le Roux, Peter, lovest thou me, Victoria (Austrália), 1989, pp. 20-30.

3. Ibid., p. 28: «...os Pontífices Romanos têm constantemente refutado e condenado a doutrina da separação da Igreja e do Estado...». S. Pio X, em Vehementer, 11 de Fev. de 1906.

4. Thomas Cahill, How the Irish saved civilization, Nova York, 1995, pp. 188-189.

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Peça o seu impresso da petição para “parar a abominação do Desolação” em Fátima.

Telefone para 1-716-853-1822

Cruzada Internacional Do Rosario De Fatima
Apartado 4100
36200 Vigo, España

A série de artigos do Padre Paul Kramer sobre "O Grande Castigo Iminente Revelado no Terceiro Segredo" continua no próximo número.

Uma Nova Fatima para a Nova Igreja

Uma nova Fátima
para a Nova Igreja

Os poderes constituídos neo-católicos associam-se à revolução postconciliar na revisão da Mensagem de Fátima

"A Irmã Lúcia já não é hoje um ponto de referência, porque temos um muito bom no Concílio Vaticano II."

— D. José da Cruz Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa

por Christopher A. Ferrara

Nota da Redacção: Até agora, o Dr. Ferrara continua à espera das respostas do Reitor do Santuário de Fátima, Monsenhor Luciano Guerra, a um e-mail enviado em 10 de Novembro/2003 e também a um fax enviado em 23 de Novembro/2003, pedindo uma confirmação da veracidade das declarações que lhe são atribuídas nos jornais portugueses, como se lê no artigo que se segue. Até este momento, ainda não recebemos qualquer resposta de Monsenhor Guerra.

        Em 1917, um humilde campo chamado Cova da Iria, em Fátima, Portugal, tornou-se um campo de batalha espiritual, onde a Fé Católica de sempre se defrontaria com o que S. Pio X tinha, sete anos antes, descrito com justeza como "o grande movimento de apostasia que está a ser organizado em todos os países para se estabelecer uma Igreja Universal que não terá dogmas, nem hierarquia, nem disciplina mental, nem limites às paixões."1

        Oitenta e seis anos mais tarde, a batalha está a travar-se literalmente no terreno da Cova da Iria. Segundo o Notícias de Fátima, o jornal local com acesso directo aos responsáveis pelo Santuário de Fátima, um congresso inter-religioso que teve lugar em Fátima de 10 a 12 de Outubro de 2003 sob os auspícios do Reitor do Santuário, Monsenhor Luciano Guerra, e a que estiveram presentes "representantes" hindus, muçulmanos, judeus, ortodoxos, budistas e animistas africanos, foi dedicado ao tema de que "O futuro de Fátima poderá passar pela concretização de um Santuário onde convivem diversas religiões. O diálogo inter-religioso em Portugal, e na Igreja Católica, ainda está numa fase embrionária, mas o Santuário de Fátima não é indiferente a este facto e está já aberto a ser um local de vocação universalista." The Portugal News apresenta esta declaração temática como citação directa de Monsenhor Guerra, tal como fizeram outros jornais, incluindo o jornal católico britânico The Universe.

        Lia-se no cabeçalho do Notícias de Fátima a respeito da conferência:

"Santuário [de Fátima] abre-se ao pluralismo religioso" e "Santuário a vários credos."

        O texto nota que, "pela primeira vez" na história do Santuário de Fátima, representantes da Igreja Anglicana "foram oficialmente convidados a ir a Fátima", juntamente com "ortodoxos, hindus, budistas e muçulmanos." Monsenhor Guerra declarou que este encontro era "um primeiro passo. Somos como os engenheiros em Portugal que começam por examinar as estruturas das pontes, para ver se podemos confiar nelas no futuro."2

        Procurei (em vão) obter directamente do Monsenhor que confirmasse ou negasse as declarações que a imprensa local lhe atribuiu, e que parecem ser citações correctas. Mas as testemunhas presentes à conferência, incluindo John Vennari do Catholic Family News, confirmam para além de qualquer dúvida que o tema geral era que Fátima devia ser um local onde todas as religiões se pudessem reunir, como era sugerido pelo próprio subtítulo do congresso — "O lugar dos santuários em relação ao sagrado".

        Vennari assistiu e gravou a principal comunicação teológica do congresso, feita pelo padre neo-modernista Jacques Dupuis — o mesmo Padre Dupuis que, mesmo tendo sido ligeiramente repreendido pelo Cardeal Ratzinger devido aos seus escritos hereticamente indiferentistas, não foi obrigado a renegar nenhum deles. (Mais tarde Dupuis cantou vitória no seu diferendo com a Congregação para a Doutrina da Fé.) A comunicação de Dupuis [a este Congresso] alegava que Deus tinha querido positivamente a existência doutras religiões como parte do Seu plano de Salvação, e que ninguém devia sequer referir-se às outras religiões como sendo não-cristãs. O Notícias de Fátima cita as seguintes palavras de Dupuis: "A religião do futuro é a de um Cristo universal que, no fundo, satisfaz a todos." A comunicação de Dupuis foi bem recebida pelo Núncio Papal, pelo Arcebispo Fitzgerald do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, e pelo Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva. De facto, no dia seguinte, como John Vennari relatou, Fitzgerald declarou ao congresso: "O Padre Dupuis explicou ontem a base teológica do estabelecimento de relações com pessoas de outras religiões."

        Todavia, confrontado com uma vaga internacional de indignação, o Arcebispo Fitzgerald acabou por divulgar um daqueles "desmentidos" que são tão característicos da revolução postconciliar: calculados para acalmar os mais crédulos e ao mesmo tempo dar cobertura ao lançamento de mais um balão de ensaio da revolução. Segundo o jornal católico inglês The Universe, Fitzgerald disse: "Está fora de questão transformar o Santuário de Fátima num centro de peregrinação interconfessional... Este é um lugar de oração centrado em Nossa Senhora, e todos são benvindos." Leia com cuidado: Fátima está centrada em Nossa Senhora, mas todos são benvindos. A conferência, alegou Fitzgerald, "era simplesmente ‘parte de uma reflexão constante’ sobre a ‘dimensão inter-religiosa’ do santuário na Igreja e no mundo moderno," mas "não houve conclusões práticas."3 Isto é como se um homem casado protestasse que, quando andava a cortejar outras mulheres, estava apenas a fazer uma "reflexão constante" sobre o adultério.

       Mas note-se que Fitzgerald não conseguiu negar que Monsenhor Guerra dissera, como repetiu The Universe: "O futuro de Fátima, ou a adoração de Deus e de Sua mãe neste Santuário, poderá passar pela concretização de um Santuário onde convivem diferentes religiões." Dois passos em frente, um passo atrás. Fátima pode não ser hoje uma Meca inter-religiosa, mas já ficou estabelecido que o Santuário, nas palavras de Fitzgerald, tem "uma dimensão inter-religiosa", e que aquela conferência sem precedentes era parte de "uma reflexão constante" sobre o tema. Não vão tardar as "conclusões práticas." Eles devem pensar que somos muito fáceis de iludir. A propósito, "o Santuário vai sofrer uma reconstrução total, com uma nova basílica, parecida com um estádio, que será construída junto à actual, que foi feita em 1921."4 A "renovação" conciliar apoderou-se finalmente de Fátima.

       O título do congresso, de um descaramento espantoso, era "O Presente do Homem — O Futuro de Deus." Na Igreja da primavera conciliar, as criaturas de Deus organizam promíscuas assembleias inter-religiosas para discutir o "futuro" do seu Criador. Isto nem devia surpreender-nos, visto que um dos temas mais confusos do pontificado corrente, enunciado em encíclicas e discursos, é que Cristo, pela Sua Encarnação, "revela completamente o homem a si próprio…"5 Este tema deriva da declaração conciliar da Gaudium et Spes, igualmente confusa, de que é "apenas no mistério do Verbo feito carne que o mistério do homem se faz realmente claro."6 Assim, diz o Concílio, pela Sua Encarnação Cristo "uniu-Se de certa maneira com cada homem." Ora o Concílio nunca explicou como é que o mistério da Encarnação podia clarificar o "mistério" do homem, ou em que sentido é que o homem é um "mistério." A natureza humana é conhecida e compreendida, e não faz parte dos mistérios da Fé. E o Concílio também não explicou o que é que a expressão "de certa maneira" quer dizer. Estas são algumas das doutrinóides (noções mal definidas que passam por doutrina católica) que este Concílio "pastoral" produziu, logo que se "libertou" da "rigidez" da precisão clássica dos esquemas preparatórios que foram lançados para o cesto dos papéis.

       Como observou o Cardeal Ratzinger, no Vaticano II "pela primeira vez num texto do Magistério, aparece um novo tipo de teologia inteiramente cristocêntrica, que, em relação a Cristo, avança a teologia como antropologia…" Só desde o Vaticano II é que podia uma teologia antropológica (que contradição!) "aparecer" de repente na Igreja, como se fosse um quark que surgisse de repente nalguma câmara de vácuo experimental. Mas se a teologia se tornou em antropologia, não é preciso um grande esforço para se concluir que o futuro do homem é "de certa maneira" o "futuro" de Deus. A expansão desta confusão cumpre a profecia de Pio XII (quando ainda era Monsenhor Pacelli), que ele ligou especificamente à Mensagem de Fátima:

Estou preocupado com as Mensagens da Santa Virgem a Lúcia de Fátima. Esta insistência de Maria nos perigos que ameaçam a Igreja é um aviso divino contra o suicídio de alterar a Fé na Sua liturgia, na Sua teologia e na Sua alma… Virá um dia em que o mundo civilizado negará o seu Deus, em que a Igreja duvidará tal como Pedro duvidou. Ela será tentada a acreditar que o homem se tornou Deus."7

       Como a "nova teologia" mantém (sem o explicar) que todo o homem está "de certa maneira" unido a Cristo, deve parecer bastante razoável a Monsenhor Guerra que todas as religiões tenham acesso ao Santuário de Fátima. De facto, como foi dito pelo Notícias de Fátima, Guerra justificou o sacrilégio alegando que "o próprio facto de Fátima ser o nome de uma muçulmana e filha de Maomé indica que o Santuário se deve abrir à coexistência das várias fés e crenças." Mas aqui Guerra sabe certamente que está a ocultar a verdade. A aldeia de Fátima deriva o seu nome de uma princesa muçulmana que, depois de ser capturada pelas forças cristãs durante a ocupação de Portugal pelos mouros, se apaixonou pelo Conde de Ourém, converteu-se ao Catolicismo, e foi baptizada antes de se casar com o Conde em 1158. O seu nome de baptismo era Oureana, mas tinha sido antes chamada Fátima, o nome da filha de Maomé. Portanto, o nome da aldeia de Fátima é uma indicação, não do "diálogo inter-religioso," mas do triunfo do Cristianismo sobre os ocupantes muçulmanos de Portugal (um processo que só foi completado um século mais tarde).8

       O revisionismo de Guerra faz-me lembrar uma carta do Cardeal Dario Castrillón Hoyos, censurando o Padre Nicholas Gruner, incansável defensor de Fátima. (No meio dos maiores escândalos do clero na história da Igreja, o Padre Gruner é o único sacerdote em toda a Igreja Católica a ser condenado publicamente em L’Osservatore Romano pela Congregação para o Clero, a que Castrillón Hoyos preside.) A carta do Cardeal censura o Padre Gruner por não reconhecer que Nossa Senhora de Fátima "assinalou um programa para a Nova Evangelização em que toda a Igreja se encontra empenhada… na alvorada do terceiro milénio."9

       Como é? Isto é o género de disparate que o aparelho de Estado do Vaticano espera agora que nós aceitemos, como parte do que já foi chamado, com certa razão, a Estalinização da Igreja Católica Romana.10 No caso de Fátima, Guerra e o Cardeal dão bons exemplos da Linha Partidária, segundo a qual as verdades católicas perenes da Mensagem de Fátima são substituídas pelos slogans vazios da revolução postconciliar.11 Quem rejeitar os slogans e defender o sentido tradicional da Mensagem é denunciado com epítetos de estilo soviético: "antiquados, de mentalidade estreita, extremistas fanáticos e provocadores," é como o Camarada Guerra alegadamente descreveu os fiéis católicos que protestaram contra a sua visão para o Santuário de Fátima.

       A Mensagem de Fátima, tal como o ensinamento constante da Igreja antes do Vaticano II, não tem slogans. Basta ler os elementos principais da Mensagem para compreender até que ponto a religião católica tem sido eclipsada pelos slogans da revolução:

Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores.

Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração.

Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz.

A guerra vai acabar; mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior.

Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.

Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração, e a Comunhão reparadora nos Primeiros Sábados.

Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados; o Santo padre terá muito que sofrer; várias nações serão aniquiladas.

Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.

       A religião pregada por Nossa Senhora — ou seja, o Catolicismo tradicional — fala do fogo do inferno, da condenação eterna dos pobres pecadores, do castigo divino dos homens pelos seus crimes, da necessidade de fazer reparação a Deus para que as almas se salvem e se evitem os castigos temporais divinos, da salvação das almas através da sua conversão e inserção na Igreja, e da afirmação dos direitos da realeza de Cristo Rei através do triunfo do Imaculado Coração da Sua Mãe e nossa Rainha. Não ouvimos nada disto do Vaticano postconciliar, que parece hipnotizado pela visão Rahneriana de um mundo cheio de "Cristãos anónimos", que não precisam dos sete Sacramentos para salvarem as almas, porque, "de certa maneira," já estão unidos a Cristo.

       Mesmo quando o aparelho de Estado do Vaticano foi por fim obrigado a tratar da Mensagem de Fátima no comentário de Junho de 2000 sobre o Terceiro Segredo (em grande parte, graças à pressão popular gerada pela obra do Padre Gruner), o Cardeal Ratzinger apenas usou a ocasião para fazer um revisionismo de Fátima tão descarado que o Los Angeles Times observou que ele tinha "desmitificado suavemente o culto de Fátima."12 No seu comentário teológico à visão do "bispo de branco," a que, pelo que nos disseram, se resumia o Terceiro Segredo de Fátima (coisa em que nem a Madre Angelica acredita), Ratzinger ousou dizer que "o ‘imaculado coração’ (sic) é um coração que, pela graça de Deus, chegou à perfeita unidade interior e, por isso, ‘vê a Deus.’" Ratzinger obliterou assim toda e qualquer distinção entre o único Imaculado Coração de Maria, consefvado livre da mácula do pecado original (sobre o que Ratzinger nada disse), e qualquer outro coração in potentia. A partir desta perversão da verdade, Ratzinger saltou para a conclusão de que "Ser ‘devoto’ do Imaculado Coração de Maria significa, pois, aceitar esta atitude do coração…" — eliminando assim o mandato do Céu para "estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração" como um culto explicitamente católico, e substituindo-o por uma busca genérica da santidade. A seguir, Ratzinger despachou o Triunfo do Imaculado Coração da seguinte maneira:

Finalmente, gostaria de mencionar outra expressão-chave do "segredo" que se tornou justamente famosa: "o Meu Imaculado Coração triunfará". O que quer isto dizer? O Coração aberto a Deus, purificado pela contemplação de Deus, é mais forte do que os canhões e as armas de toda a espécie. O fiat de Maria, a palavra do Seu coração, mudou a história do mundo, porque trouxe ao mundo o Salvador — porque, graças ao Seu Sim, Deus pôde tornar-se homem no nosso mundo, e assim se mantém para todo o sempre.13

       Portanto, segundo Ratzinger, o Triunfo do Imaculado Coração, profetizado por Nossa Senhora em 1917 como um acontecimento futuro, aconteceu de facto há 2.000 anos — um truque exegético que conseguiu suprimindo as palavras "No fim" da profecia. Ratzinger evitou convenientemente discutir a promessa de Nossa Senhora de que se veria o triunfo do Seu Imaculado Coração na futura conversão da Rússia.

       A manipulação, par parte de Ratzinger, das palavras da Mãe de Deus faz-lhe merecer o desprezo de cada Católico fiel, mas também prova o que temos vindo a dizer. Os defensores do actual regime de novidades devem perguntar honestamente a si próprios: É ou não é óbvio que a religião pregada pela Virgem em Fátima não pode coexistir com o programa ecuménico e pan-religioso do aparelho de Estado do Vaticano? Tal como a matéria e a antimatéria, a religião pregada em Fátima e o novo programa da Igreja conciliar não podem ocupar o mesmo espaço simultaneamente; um elemento aniquilará o outro, dependendo de qual deles está presente em maior quantidade. Assim, o novo programa, que predomina actualmente, pretende aniquilar o Catolicismo clássico da Mensagem de Fátima (embora, devido à indefectibilidade essencial da Igreja, acabe eventualmente por ser derrotado).

       John Vennari refere-se que, quando um observador citou ao Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo, uma passagem escrita pela Irmã Lúcia sobre os nossos deveres para com Deus, segundo o Primeiro Mandamento, o Cardeal respondeu: "A Irmã Lúcia já não é hoje um ponto de referência, porque temos um muito bom no Concílio Vaticano II."14 Até os prelados mais importantes compreendem que o Concílio marcou o início de um movimento que se afasta da Fé de sempre, expressa nas verdades de Fátima. A quem disser que este é mais um dos muitos "mal-entendidos" sobre o Vaticano II que têm proliferado desde o Concílio, responderei: Aponte qualquer outro Concílio, em toda a história da Igreja, que deu origem ao mal-entendido geral de que os seus ensinamentos mudaram aquilo em que os Católicos devem acreditar.

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Os peregrinos do Fatima Center, que, juntamente com o Padre Gruner, distribuíram literatura sobre Fátima e petições para a Consagração da Rússia em várias línguas no exterior do recinto do Santuário de Fátima, onde mais de 100.000 pessoas assistiram às cerimónias de 13 de Outubro. A Cronologia de um encobrimento foi especialmente útil nesta altura, como meio de alertar os portugueses sobre a conspiração para silenciar Nossa Senhora de Fátima. Depois de ler os artigos deste número, verá como alguns responsáveis do Santuário vieram claramente a descoberto com o seu plano diabólico para destruir, não só o recinto sagrado de Fátima, mas a própria Fé Católica.

NOTAS:

1. O Nosso Mandato Apostólico (1910).

2. Notícias de Fátima, 24 de Outubro de 2003, "Santuário a Vários Credos," pp. 8-9.

3. Catholic Times online, 18 de Novembro de 2003.

4. Ibid.

5. Divini Redemptoris, 8.

6. GS, 22.

7. Monsenhor Georges Roche, Pie XII devant L’Histoire (Paris: Éditions Robert Laffont, 1972), p. 52-53.

8. Há muitos relatos históricos deste acontecimento. Cf., por exemplo, "Our Lady And Islam: Heaven’s Peace Plan," pelo Padre Ladis J. Cizik.

9. Carta ao Padre Nicholas Gruner, 16 de Fevereiro de 2001.

10. Kramer, Pe. Paul, O Derradeiro Combate do Demónio, Missionary Association (Buffalo, NY: 2002), p. 89.

11. O Derradeiro Combate do Demónio, Cap. 8.

12. "Catholic Church Unveils Third Secret: The Vatican’s Top Theologian Gently Debunks a Nun’s Account of Her 1917 Vision That Fueled Decades of Speculation" (A Igreja Católica revela o Terceiro Segredo: O principal teólogo do Vaticano desmitifica suavemente o relato de uma freira da sua visão de 1917 que alimentou décadas de especulação), Los Angeles Times, 27 de Junho de 2000.

13. The Messsage of Fatima, p. 43.

14. Documentation Information Catholique Internationale (DICI), 3 de Novembro de 2003.

Fonte: http://old.fatima.org/port/umanovag.htm

domingo, 21 de junho de 2009

Liberdade para Dr. Óscar Biscet, condenado a 25 anos de prisão por negar-se a realizar abortos.

Dr_Biscet

Caríssimos (as) leitores (as),

Desejo compartilhar com vocês, o chamado de apoio  (que recebi da Equipe da Rádio e TV Convicción), a causa do médico cubano Dr. Óscar Biscet, que foi condenado a 25 anos de prisão por negar-se a realizar abortos. Por favor, pedimos que visitem o endereço http://plataformabiscet.org (ou http://biscet.blogspot.com/), a fim de informar-se sobre a triste situação deste héroi de nosso tempo. Visitem o site e vejam a forma de colaborar com a campanha em prol de sua liberdade.

Em Cristo,

Gederson Falcometa Zagnoli Pinheiro de Faria

Livros Católicos para download

 

Sobre a Importância do Latim

Vídeo com entrevista ao Prof. Carlos Nougué sobre a importância da língua latina.

EM DEFESA DA MISSA LATINA

missa 

DIETRICH VON HILDEBRAND

Dietrich von Hildebrand, foi um dos filósofos Cristãos mais eminentes do mundo. Professor na Universidade de Fordham, foi chamado pelo Papa Pio XII “doutor da Igreja do Século XX”. Ele é o autor de muitos livros, dentre eles A Transformação em Cristo e A Liturgia e a Personalidade.

Este texto foi transcrito do número de outubro de 1966 da revista TRIUMPH

Os argumentos para a Nova Liturgia têm sido finamente embalados, e agora podem ser apreendidos rotineiramente. A nova forma da Missa é destinada a engajar o celebrante e os fiéis numa atividade comunitária. No passado o fiel assistia à Missa num isolamento pessoal, cada adorador fazendo as suas devoções particulares, ou no melhor dos casos seguindo a celebração num missal. Hoje os fiéis podem visualizar o caráter social da celebração; estão aprendendo a apreciá-la como uma refeição comunitária. Antigamente, os sacerdotes sussurravam uma língua morta, criando uma barreira entre o sacerdote e o povo. Agora todos falam a sua língua vernácula, que tende a unir o sacerdote e o povo um ao outro. No passado o sacerdote falava a Missa com as suas costas voltadas para o povo, criando um ar de rito esotérico. Como hoje o sacerdote se volta para a assembléia, a Missa se tornou uma ocasião mais fraterna. No passado o sacerdote entoava estranhos cantos medievais. Hoje, toda a assembléia canta canções mais fáceis com letras familiares, e se experimenta até arranjos mais regionais. A essência da nova Missa, portanto é isso: está fazendo os fiéis sentirem-se mais ‘em casa’ na casa de Deus.

Além disso, afirmam-se que estas inovações têm a sanção da Autoridade: são representadas como uma resposta obediente ao espírito do Concílio Vaticano Segundo. Isto se diz, não obstante a Constituição do Concílio sobre a Liturgia não ir além de permitir a Missa vernácula em casos onde o bispo local crê ser isso desejável; a Constituição insiste plenamente na manutenção da Missa Latina, e aprova enfaticamente os cantos Gregorianos. Mas os “progressistas” litúrgicos não se impressionam com a diferença entre permitir e impor. Nem hesitam em autorizar mudanças, tais como receber a Sagrada Comunhão em pé, atitude que a Constituição nem sequer menciona. Os progressistas argumentam que estas liberdades podem ser tomadas porque a Constituição, afinal das contas, é apenas o primeiro passo num processo evolucionário. E parece que eles estão conseguindo. É difícil se encontrar uma Missa Latina hoje em dia, e nos Estados Unidos elas estão praticamente desaparecidas. Mesmo uma Missa eventual nos monastérios é feita em língua vernácula, e o glorioso canto Gregoriano é substituído pelas melodias insignificantes.

A minha preocupação não se restringe ao aspecto legal das mudanças. E eu não estou reclamando enfaticamente de que a constituição tenha permitido o uso da língua vernácula para complementar o Latim. O que deploro é que a nova Missa está substituindo a Missa Latina, e que a antiga liturgia está sendo irremediavelmente esmagada e negada pela maioria do Povo de Deus.

Eu gostaria de colocar àqueles que estão indagando várias questões neste desenvolvimento: Será que a nova Missa faz mover, mais que a antiga, o espírito humano – ela evoca o sentido da eternidade? Será que ela ajuda os nossos corações a sair das preocupações da vida diária – dos aspectos puramente naturais do mundo para o Cristo? Será que ela aumenta a reverência, uma apreciação do sagrado?

Certamente essas questões são retóricas e auto-explicativas. Eu as faço porque todos os Cristãos mais preocupados desejarão pesar a sua importância antes de chegar à conclusão sobre os méritos da nova liturgia. Qual é o papel da reverência numa vida Cristã verdadeira, e acima de tudo numa verdadeira adoração Cristã a Deus?

A reverência concede ao ser a oportunidade de falar a nós: A grandeza última do homem é ser capax Dei. A reverência é de capital importância para todos os domínios fundamentais da vida do homem. Ela pode ser chamada perfeitamente “a mãe de todas as virtudes”, pois é a atitude básica que todas as virtudes pressupõem. O gesto mais elementar de reverência é uma resposta para o seu próprio ser. Ela distingue a majestade autônoma do ser da mera ilusão ou ficção; é o reconhecimento da consistência interior e positividade do ser – da sua independência da nossa ambientação arbitrária. A reverência dá ao ser a oportunidade de se abrir, para falar para nós, para fecundar as nossas mentes. Assim a reverencia é indispensável para qualquer conhecimento adequado do ser. A profundidade e plenitude do ser, e, acima de tudo seus mistérios, nunca se revelarão a ninguém senão à mente reverente. Lembrem-se que a reverência é um elemento constitutivo da capacidade de “se maravilhar”, que Platão e Aristóteles alegaram ser condição indispensável para a filosofia. De fato, a irreverência é a principal fonte do erro filosófico. Mas, se a reverência é base necessária para todo conhecimento confiável do ser, é, além disso, indispensável para visualizar e avaliar os valores alicerçados no ser. Apenas o homem reverente que está pronto a admitir a existência de algo maior que ele mesmo, que esteja pronto para se silenciar e deixar o objeto falar para ele – que se abre – é capaz de adentrar no sublime mundo dos valores. Além disso, uma vez reconhecidas as graduações de valores, surge daí uma nova espécie de reverência – uma reverência que responde não apenas à majestade do ser como tal, mas para o valor específico de um ser específico e sua posição na hierarquia dos valores. E esta nova reverência permite a descoberta de ainda outros valores.

O homem reflete o seu caráter receptivo essencialmente como uma pessoa criada somente na atitude reverente; a grandeza última do homem é ser capax Dei. O homem possui a capacidade, em outras palavras, de visualizar algo maior que ele mesmo, ser afetado e fecundado por ele, abandonar-se para ele e por ele – numa simples resposta ao seu valor. Esta habilidade de se transcender distingue o homem de uma planta ou de um animal; este último esforça-se apenas para revelar a sua própria enteléquia. Ora, é somente o homem reverente que pode conscientemente se transcender e assim conformar-se à sua condição humana fundamental e para a sua situação metafísica.

Encontrar-nos-emos melhor com Cristo elevando-nos a Ele ou puxando-O para baixo ao nosso mundo cotidiano?

O homem irreverente, pelo contrário, se aproxima do ser, ou numa atitude de superioridade arrogante ou de uma familiaridade indelicada e convencida. Em ambos os casos, ele é estropiado; ele é um homem que se aproxima tanto de uma árvore ou uma construção que não mais a enxerga. Ao invés de se manter numa distância espiritual apropriada, e manter um silêncio reverente de tal modo que o ser possa falar a sua palavra, ele se intromete, e assim, com efeito, silencia o ser. Em nenhum outro domínio senão na religião é importante a reverência. Como vimos, ela afeta profundamente a relação do homem com Deus. Mas, além disso, ela permeia a religião inteira, especialmente a adoração de Deus. Há uma ligação íntima entre a reverência e a santidade: a reverência nos permite experimentar o sagrado, a elevarmo-nos acima do profano; a irreverência nos cega para o mundo inteiro do sagrado. A reverência, inclusive admiração – de fato, medo e tremor – é a resposta específica para o sagrado.

Rudolf Otto desenvolveu claramente o ponto no seu famoso estudo, A Idéia do Sagrado. Kierkegaard também chama a atenção para o papel essencial da reverência no ato religioso, no encontro com Deus. Os Judeus não tremiam em temor profundo quando o sacerdote levava o sacrifício para Sancta sanctorum? Isaías não foi tocado por um temor piedoso quando viu Jaweh no templo e exclamou, “Ai de mim, estou perdido! Sou um homem de lábios impuros, vivo entre um povo de lábios impuros, e, no entanto, meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos” (Isaías 6:5). As palavras de S. Pedro após a pesca milagrosa. “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!” (Lucas 5:8), não nos testemunha que, quando a realidade de Deus se revela diante de nós, nós somos tocados pelo medo e reverência? Cardeal Newman mostrou num sermão formidável que o homem que não teme e reverência não conheceu a realidade de Deus.

Quando S. Boaventura escreve em Itinerium Mentis ad Deum que apenas um homem de desejo (como Daniel) pode compreender Deus, ele quer dizer que uma certa atitude da alma deve ser alcançada a fim de compreender o mundo de Deus, onde Ele deseja nos levar.

Este conselho é especialmente aplicável à liturgia da Igreja. O sursum corda – o elevar do nosso coração – é o primeiro requisito para a verdadeira participação na Missa. Nada mais poderia obstruir a confrontação do homem com Deus do que a noção de que nós “vamos ao altar de Deus”como se fôssemos a um encontro social prazeroso e relaxante. Eis porque a Missa Latina com canto Gregoriano, que nos eleva a uma atmosfera sagrada é vastamente superior a uma Missa vernacular com canções populares que nos deixam numa atmosfera profana, meramente natural.

O erro básico da maioria das inovações é imaginar que a nova liturgia traz o santo sacrifício da Missa mais próximo dos fiéis, que, com o despojar de seus antigos rituais a Missa agora entra na substância das nossas vidas. Pois a questão fundamental é: seria melhor encontrarmo-nos com Cristo na Missa elevando-nos a Ele, ou puxando-O abaixo para o nosso mundo vulgar e rotineiro? Os inovadores estariam substituindo uma santa intimidade com Cristo por uma familiaridade indecorosa. A nova liturgia de fato ameaça frustrar a confrontação com o Cristo, pois desencoraja a reverência em face do mistério, impede a admiração, e tudo faz para extinguir o sentido do sagrado. O que realmente interessa, certamente, não é se os fiéis se sentem em casa na Missa, mas se eles são tirados das suas vidas ordinárias para penetrar no mundo de Cristo – quer sua atitude seja a resposta de máxima reverência, quer estejam imbuídos com a realidade de Cristo.

Aqueles que falam com entusiasmo da nova liturgia acentuam o ponto de que através dos anos a Missa perdeu o seu caráter comunitário e se tornou uma ocasião para adoração individualista. A nova Missa vernacular, insistem, restaura o sentido da comunidade ao substituir devoções particulares com a participação comunitária. Porém, eles se esquecem que há diferentes níveis e tipos de comunhão com outras pessoas. O nível e a natureza de uma experiência comunitária é determinado pelo tema da comunhão, o nome ou causa para o qual os homens se reúnem. Quanto mais elevado e benigno o tema representado, mais sublime o nome e a causa para a qual os homens se reúnem e mais profunda é a comunhão. O etos e a natureza de uma experiência comunitária no caso de uma emergência nacional é obviamente radicalmente diferente de uma experiência comunitária de uma festa de coquetel. E certamente a diferença mais notável nas comunidades será encontrada entre a comunidade cujo tema é sobrenatural e uma comunidade cujo tema é meramente natural. A atualização das almas dos homens que são verdadeiramente tocados por Cristo é a base da comunidade única, uma comunhão sagrada, uma comunidade cuja qualidade é incomparavelmente mais sublime que de uma comunidade natural. A comunhão autêntica dos fiéis, cuja liturgia da Quinta-feira Santa expressa tão bem nas palavras congregavit nos in unum Christi amor é somente possível como fruto da comunhão eu-Tu com o próprio Cristo. Apenas uma relação direta com o Deus-Homem pode realizar esta união sagrada entre os fiéis.

O “nós experimentamos” despersonalizante é uma perversa teoria da comunidade

A comunhão em Cristo não tem nada de auto-asserção encontrada nas comunidades naturais. Ela respira a Redenção. Ela liberta os homens de toda auto-centralização. Entretanto, tal comunhão não despersonaliza enfaticamente o indivíduo; longe de dissolver a pessoa no desfalecimento cósmico, panteísta tão recomendado a nós nestes dias, ela atualiza o verdadeiro eu da pessoa de um modo único. Na comunidade de Cristo não pode existir o conflito entre a pessoa e a comunidade que está presente em todas as comunidades naturais. Assim esta experiência comunitária sagrada está realmente em guerra com o ‘nós experimentamos’ despersonalizante encontrado nas assembléias das missas e reuniões populares que tendem a absorver e evaporar o indivíduo. Esta comunhão em Cristo que era tão plenamente viva nos primeiros séculos Cristãos, experimentada por todos os santos e que encontrou uma expressão sem igual na liturgia agora sob ataque – esta comunhão nunca considerou a pessoa individual como um mero segmento da comunidade, ou como um instrumento para servi-la. Em relação a isso vale a pena observar que a ideologia totalitária não está sozinha no seu esforço de sacrificar o indivíduo ao coletivo; algumas das idéias cósmicas de Teilhard de Chardin, por exemplo, implicam no mesmo sacrifício coletivista. Teilhard subordina o indivíduo e sua santificação ao suposto desenvolvimento da humanidade. Num tempo em que esta perversa teoria da comunidade é abraçada até por muitos Católicos, há suficiente razões urgentes para insistir vigorosamente sobre o caráter sagrado da verdadeira comunhão em Cristo. Eu proponho que a nova liturgia seja julgada com o seguinte parâmetro: Ela contribui para a comunidade sagrada autêntica? Admitindo que ela se esforça por um caráter comunitário; será que esse caráter é desejável? É uma comunhão alicerçada na introspecção, contemplação e reverência? Qual das duas – a nova Missa ou a Missa Latina com o canto Gregoriano evoca estas atitudes da alma mais efetivamente, e assim permite a comunhão mais profunda e verdadeira? Não está claro que freqüentemente o caráter comunitário da nova Missa é puramente profano, que, como acontece em outras reuniões sociais, a sua combinação de relaxamento casual e agitação sentimental impedem uma confrontação reverente e contemplativo com o Cristo e com o mistério inefável da Eucaristia?

Sem dúvida a nossa época está impregnada pelo espírito de irreverência. É vista numa noção distorcida de liberdade que exige direitos enquanto rejeita obrigações, que exalta a auto-indulgência, que recomenda “deixe-se ir”. O habitare secuni dos Diálogos de S. Gregório – a morada na presença de Deus – que pressupõe reverência, é considerada hoje afetada, pomposa ou servil. Mas a nova liturgia não é um compromisso com este espírito moderno? De onde vem a depreciação da genuflexão? Por que a Eucaristia deveria ser recebida de pé? O ajoelhar-se não é na nossa cultura, a expressão clássica da reverência adorante? O argumento de que na refeição devemos permanecer em pé ao invés de ajoelhar é pouco convincente. Ora, esta não é uma postura natural para comer: hoje sentamos, e no tempo de Cristo, deitaríamos. Porém, mais séria é uma concepção especificamente irreverente da Eucaristia ao salientar o seu caráter como sendo uma mera refeição à custa do seu caráter único de um mistério sagrado. Enfatizar a refeição à custa do sacramento certamente significa uma tendência para obscurecer a santidade do sacrifício. Esta tendência é aparentemente determinável pela crença infeliz de que a vida religiosa tornar-se-á mais vívida, mais existencial se estiver imersa na nossa vida diária. Mas isto é correr o perigo de absorver o religioso no mundano, obliterando a diferença entre o sobrenatural e o natural. Temo que isso represente uma intrusão inconsciente do espírito naturalístico, do espírito mais plenamente expresso no imanentismo de Teilhard de Chardin.

Ora, por que a genuflexão às palavras et incarnatus est no Credo foi abolida? Não era esta uma expressão nobre e bela da reverência adorante enquanto se professa o mistério indelével da Encarnação? Qualquer que seja a intenção dos inovadores, eles certamente criaram o perigo, se somente psicológico, de diminuir a ciência e admiração dos fiéis para o mistério. Há ainda outra razão que nos faz acautelar em fazer as mudanças na liturgia e que não são estritamente necessárias. Mudanças frívolas ou arbitrárias ameaçam erodir um tipo especial de reverência: pietas. A palavra Latina, como a alemã Pietaet, não possui um equivalente em Inglês, mas pode ser entendida como um respeito consistente à tradição; o respeito que nos foi legado pelas gerações anteriores; fidelidade aos nossos antepassados e as suas obras. Notem que pietas é um tipo derivativo da reverência, e assim não deve ser confundida com a reverência primária, que descrevemos como uma resposta para o próprio mistério do ser, e uma resposta última a Deus. Segue-se que o conteúdo de uma dada tradição não corresponde ao objeto da reverência primária, não merece a reverência derivativa. Assim, se uma tradição contém elementos perversos, tais como o sacrifício de seres humanos no culto dos Astecas, então aqueles elementos não devem ser considerados com pietas. Mas este não é o caso Cristão. Aqueles que idolatram a nossa época, que vibram para tudo que é moderno simplesmente porque é moderno, que acreditam que em nossos dias o homem finalmente “amadureceu”, a estes falta pietas. O orgulho destes “nacionalistas temporais” não é apenas irrelevante, mas incompatível com a fé verdadeira. Um Católico deveria considerar a sua liturgia com pietas. Ele deveria reverenciar, e portanto, temer abandonar as orações, posturas e músicas que foram aprovadas por tantos santos através da era Cristã e legadas a nós como uma herança preciosa. Para não ir mais longe: a ilusão de que podemos substituir o canto Gregoriano com seus hinos e ritmos inspirados, por uma boa, senão melhor música, trai uma auto-confiança ridícula e falta de auto-conhecimento. Não vamos esquecer que através da história do Cristianismo o silêncio e a solidão, contemplação e introspecção, foram considerados necessários para alcançar uma verdadeira confrontação com Deus. Isto não é apenas um conselho da tradição Cristã, que deve ser respeitado por causa de pietas; é enraizado na natureza humana. A introspecção é base necessária para a verdadeira comunhão da mesma maneira que da contemplação provém base necessária para a verdadeira ação na vinha do Senhor. Um modo superficial de comunhão – a camaradagem jovial de um acontecimento social – leva-nos para a periferia. Uma comunhão Cristã verdadeira leva-nos para as profundezas espirituais.

O caminho para uma verdadeira comunhão Cristã: Reverência... Introspecção... Contemplação.

Certamente devemos deplorar devoções excessivamente individualistas e sentimentais e reconhecer que muitos Católicos as praticaram. Todavia o antídoto não é uma experiência comunitária como tal – não mais do que a cura da pseudo-contemplação é a atividade como tal. O antídoto é encorajar a verdadeira reverência, uma atitude de verdadeira introspecção e devoção contemplativa a Cristo. Somente essa atitude pode-se ter lugar numa verdadeira comunhão em Cristo. As leis fundamentais da vida religiosa que governa a imitação de Cristo, a transformação em Cristo, não mudam de acordo com os ambientes e hábitos do momento histórico. A diferença entre uma experiência comunitária superficial e uma experiência comunitária profunda é sempre a mesma. A introspecção e adoração contemplativa de Cristo – que somente a reverência torna possível – será a base necessária para uma verdadeira comunhão com outros em Cristo em qualquer era da história humana.

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