terça-feira, 3 de março de 2009

CASAMENTO: O MISTÉRIO DO AMOR FIEL

 

Dietrich von Hildebrand

Amor e casamento

Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também amou a Igreja

e se entregou por ela”. (Efésios 5:25).

A grandeza e a sublimidade do casamento, a mais íntima e suprema das uniões, elevado por Cristo à dignidade de Sacramento, são reveladas num só golpe na exortação de S. Paulo onde ele compara o amor do casamento ao amor de Cristo, o Verbo Encarnado, pela Sua Santa Igreja (cf. Efésios 5: 25~27).

A grandeza do casamento

Nenhum outro bem humano natural foi exaltado de um modo tão elevado no Novo Testamento. Nenhum outro bem foi escolhido para se constituir num dos sete Sacramentos. Nenhum outro foi dotado com a honra de participar diretamente do Reino de Deus. Este fato em si sugere o valor infinitamente precioso já vinculado ao casamento no reino da natureza e a riqueza e grandiosidade que ele nos revela. Antes de examinarmos a natureza, o significado e a beleza do casamento Cristão (que S. Paulo chama “um grande mistério com referência a Cristo e à Santa Igreja” – Efésios 5:32), examinaremos a essência e o significado do casamento no reino da natureza, e seu caráter específico em relação a todos os outros tipos de relacionamentos e comunidades.

Apenas desta maneira poderemos compreender o que foi tão gloriosamente exaltado por Jesus Cristo e assim dissipar as interpretações errôneas da natureza do casamento tão freqüentemente encontradas.

Várias passagens da Sagrada Escritura dignificam o casamento empregando-o como uma imagem da relação entre Deus e a alma. Esta relação prefigura de um modo imperfeito o modelo perfeito, tal qual o Antigo Testamento prefigura o Novo. De fato, Cristo Se denomina o esposo da alma, e o Cântico dos Cânticos apresenta a união de Cristo e a alma na forma de um noivado.

O amor é a essência do casamento

Por que a Sagrada Escritura escolheu esta relação particular como uma imagem? Ela foi escolhida porque o casamento é a mais próxima e íntima de todas as uniões terrenas na qual, mais que em qualquer outra, uma pessoa se dá à outra sem reserva, onde a outra em sua completa personalidade é o objeto do amor, e onde o amor mútuo é, num modo específico, o tema (isto é, a essência) do relacionamento.

O amor é também a essência íntima da relação da alma com Deus. Inquestionavelmente, devemos adoração e obediência ao Rei eterno da Glória, o esplendor da Luz Eterna. Ele é o nosso Senhor. O nosso dever aqui na terra é servi-Lo em todas as coisas sem reserva. E, no entanto, por três vezes Ele pergunta ao S. Pedro, “Tu me amas?” (João 21:15). O primeiro Mandamento que contém todas as Leis e Profetas não diz, “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento, e com toda a tua força” (Marcos 12:30)?

O casamento foi escolhido como a imagem da perfeita união entre a alma e o Cristo porque no casamento, do mesmo modo, o centro e a essência é o amor. Nenhuma outra comunidade terrena é tão exclusivamente constituída na sua própria substância pelo amor mútuo.

Na amizade, por exemplo, a comunidade de pensamento ou interesses espirituais e experiências comuns desempenham uma importância capital. No relacionamento dos pais aos filhos, as suas responsabilidades de cuidado e criação ocupam um lugar essencial. Na raiz do relacionamento dos filhos aos pais se encontram gratidão e obediência devido à proteção e cuidado.

Certamente, as relações familiares, também, podem ser transfiguradas apenas pelo amor, e devem ser permeadas pelo amor. Mas embora elas possam apenas revelar seu significado real sobre a base do amor e sob sua bandeira, a essência e o princípio exclusivo de tal relacionamento é o amor mútuo.

Considerado subjetivamente, o amor não entra tão exclusivamente na essência de suas relações como o faz no caso do casamento. O seu caráter objetivo não está fundado do mesmo modo sobre o amor nem são constituídos à mesma extensão para o amor.

Por outro lado, no casamento o fundamental com a atitude subjetiva e a raison d’être objetiva do relacionamento, um relacionamento que também serve misteriosamente para procriar novos seres humanos, é o amor mútuo.

O casamento é a união maravilhosa de duas pessoas na qual é o amor e pelo amor. Mais tarde veremos que o casamento sacramental deste amor é elevado a uma comunhão misteriosa do amor e vida em Cristo e por Cristo. Mas isto pressupõe um amor mútuo único, e é somente assim que o casal unido no casamento glorifica Jesus Cristo.

O amor é o significado primário do casamento do mesmo modo que o nascimento de novos seres humanos é o seu fim primário. A função social do casamento e a sua importância para o Estado são algo secundário e subordinado. Poderemos entender isto melhor, colocando de lado por hora a dignidade sacramental do casamento e considerá-lo simplesmente como uma comunhão natural e recordar as características específicas do amor conjugal.

As características do amor conjugal

Um erro amplamente difundido, mesmo no círculo Católico, considera que o amor conjugal se distingue do amor aos amigos ou amor dos pais e filhos meramente pela sua conexão com a esfera sensual.

Pelo contrário, muito independente da sensualidade, o amor conjugal em si constitui uma espécie totalmente nova de amor. Ele envolve uma doação mútua única do ser, que é a característica extraordinária deste tipo de amor.

O amor conjugal envolve doação mútua

É verdade que mesmo em qualquer tipo de amor um se dá ao outro de um modo ou de outro, mas aqui a doação é literalmente completa e suprema. Não apenas o coração, mas toda a personalidade é dada ao outro. Quando um homem e uma mulher se amam desta maneira, eles se dão um ao outro no instante em que começam a se amar.

O homem deseja pertencer à mulher, e ela pertencer a ele; e a mulher deseja pertencer ao homem, e ele pertencer a ela.

Todo o amor certamente deseja uma reciprocidade que é livre de toda a sombra do egoísmo; mas no amor conjugal há uma aspiração não meramente para um retorno da afeição em geral, mas para o amor único onde o amado pertence ao amante de um modo inteiramente exclusivo, e este último, por sua vez, deseja pertencer inteiramente ao primeiro.

Este amor tende para uma união única e até constitui-a parcialmente: uma comunidade onde duas pessoas constituem uma união fechada que pode existir apenas entre elas. O amor conjugal estabelece um relacionamento no qual a atenção de uma à outra das duas partes gira exclusivamente em torno da outra.

O amor conjugal: o mais profundo relacionamento eu-tu

Os relacionamentos entre pessoas atualizam-se sob duas formas profundamente diversas: duas pessoas podem estar unidas através de um interesse comum, enfrentando cada uma algo exterior a elas. Juntas elas põem tomar a mesma atitude diante de uma pessoa ou coisa: elas podem sofrer juntas e se alegrar juntas, podem chegar a uma decisão juntas, e podem dar graças juntas.

Isto pode ser chamado um relacionamento de nós, onde os parceiros permanecem lado a lado, caminham lado a lado – até de mãos dadas.

Mas dois seres humanos podem também encarar um ao outro, e ao tocar um ao outro, num olhar interpenetrante, podem gerar uma fusão misteriosa de suas almas. Eles se tornam conscientes um do outro, e fazendo do outro o objeto da sua contemplação e respostas, cada um pode se imergir no outro. Este é o relacionamento eu-tu, no qual os parceiros não se encontram lado a lado, mas face a face.

De todas as comunhões terrenas, o amor conjugal é a forma mais pronunciada do relacionamento eu-tu. A pessoa amada é o objeto de nossos pensamentos, sentimentos, vontade, esperança e desejo. Ela se torna o centro de nossa vida (no que se concerne aos bens criados). Aquele cujo coração está repleto de tal amor conjugal vive não apenas com a sua amada, mas para a sua amada. Certamente tal relacionamento eu-tu na sua forma mais pura existe apenas entre a alma humana e seu Noivo celeste, Jesus. Em última análise devemos viver apenas para Ele, e no casamento, também, os dois parceiros viverem juntos por Ele. Mas no reino de bens criados, o amor conjugal significa viver um para outro. Comparado com todos os outros relacionamentos, os dois parceiros vivem numa comunhão eu-tu definitivo.

O amor conjugal envolve uma decisão

O doar-se a si, a característica específica do amor conjugal (conforme diferenciado da amizade ou qualquer outra forma de amor), é também revelado no caráter decisivo das palavras “eu te amo”. Nem sempre pode ser fácil dizer mesmo a alguém que conhecemos muito bem e a quem gostamos muito ao mesmo tempo ser considerado como um amigo, e pode ser igualmente difícil algumas vezes responder com um simples “sim” ou “não” a questão se gostamos de alguém ou não. Mas entre amor no sentido conjugal e outras formas de amor há tal diferença que a questão de se amamos outra pessoa nesse sentido pode muito bem respondida com “sim” ou “não”.

Este amor envolve uma decisão definitiva. Por este amor escolhemos decisivamente uma pessoa. A expressão “eu te amo” é característica desta decisão. Adicionar a estas palavras alguma coisa e disser “eu te amo muito” ou “eu te amo imensamente”, significa enfraquecer a força da afirmação. Ao invés de fortalecer, enfraquece a simples declaração, “eu te amo”.

O amor conjugal revela todo o ser do amado

O fato também que este amor pode surgir de um modo bastante repentino, e até desenvolver à maturidade no primeiro encontro de duas pessoas, enfatiza o contraste típico entre este e outro tipo de amor. Neste amor, a personalidade do amado é instantaneamente revelada como uma unidade completa. Os nossos olhos são capazes de penetrar o outro muito mais profundamente que de modo ordinário quando o nossa relance é distraído pelos inumeráveis objetos fúteis e mitigados por uma atmosfera cinzenta do dia a dia. Isto nunca vai além do aspecto exterior. Exatamente como no amor sobrenatural do nosso próximo penetramos num relance àquele íntimo, àquela essência misteriosa da outra pessoa na qual, através de todas as suas imperfeições, frivolidade, arrogância e trivialidade, ela reflete Deus, portanto no amor conjugal natural a verdadeira individualidade do parceiro é revelada misteriosamente. O significado profundo e secreto que permeia todos os seus dons e talentos, todo o ritmo do seu ser, é revelado num relance através de suas imperfeições. Compreendemos, por assim dizer, o plano divino subjacente à criação desta individualidade particular, exatamente como no amor do próximo compreendemos o significado geral de uma pessoa livre, espiritual, criada por Deus à Sua própria imagem num indivíduo particular.

É verdade, sem dúvida, que todo amor implica uma compreensão mais profunda da outra pessoa, um olhar mais profundo do seu ser real que brilha porém imperfeitamente através de muitos véus e fraquezas. Nada é mais errôneo do que o adágio, “Amor é cego”. O amor é aquilo que nos dá visão, revelando para nós até as faltas do outro no seu total significado e nos causando o sofrimento por causa delas. Mas o amor conjugal revela para nós intuitivamente o ser inteiro do outro numa unidade misteriosamente lúcida. Ele não apenas mostra-nos feições individuais louváveis, mas também o charme particular da sua individualidade como um todo, o que permeia tudo e caracteriza a essência do seu ser – um charme que pode apenas ser completamente compreendido pela pessoa complementar e pode possuir seu significado pleno apenas para ela.

O amor conjugal é possível apenas entre um homem e uma mulher

O caráter especial do amor conjugal é, além disso marcado pelo fato de que esta amor apenas se torna realidade, entre homens e mulheres e não entre pessoas do mesmo sexo, como no caso de amizade, amor paternal , amor maternal ou amor filial.

Seria bastante errado, porém, reduzir esta característica à esfera sexual e dizer que o amor conjugal é apenas amizade mais relações sexuais, pressupondo uma diferença do sexo. Seria incrivelmente superficial considerar como uma mera diferença biológica a distinção entre homem e mulher, que realmente nos mostra dois tipos complementares de pessoa espiritual das espécies humanas.

Certamente, o homem e a mulher têm, no final das contas, uma única tarefa, “renascer em Cristo”, e glorificar a Deus pela sua santidade. E, no entanto, homem e mulher representam dois tipos diferentes de humanidade, ambos possuindo seu significado respectivo de acordo com o plano divino, e seu valor especial muito longe da sua função de procriação.

Tomemos o exemplo de santos e santas e consideremos como, cada um no seu modo especial, realizaram o unum necessarium, e como ao mesmo tempo preencheram idealmente o significado se suas naturezas respectivas como homens e mulheres. Elevando o nosso olhar à Bem-Aventurada Virgem, vemos que Ela, que de todas as criaturas é a mais semelhante ao Cristo, não poderia ser imaginada como nada além de uma mulher, e que Ela, a Rainha de todos os Santos, é feminina no mais alto e sublime sentido da palavra.

Não: a diferença entre homem e mulher é uma diferença metafísica. Há muito tempo os Pitagorianos divinizaram isso quando colocaram o macho e fêmea entre as Categorias, embora nisso, certamente, estivessem equivocados. Os teólogos medievais, também, pensavam nisso quando levantaram a questão de se os anjos eram divididos em macho e fêmea.

De qualquer forma, para as espécies humanas esta diferença representa duas manifestações da pessoa, análoga – se esta comparação é admissível – para as várias ordens religiosas, que embora sejam idênticas na sua meta, representam diferentes caminhos na imitação de Cristo. Estes dois tipos, homem e mulher, possuem uma única capacidade de se complementarem. O seu significado de um para o outro é algo bastante peculiar. Eles são feitos um para o outro de modo especial, e podem, puramente como pessoas espirituais, formar uma unidade na qual eles se complementam reciprocamente. O amor marital – envolvendo o dom da sua própria pessoa, cujo caráter decisivo é que os parceiros formam um casal, uma comunhão eu-tu, na qual toda a personalidade do amado é fitada misteriosamente como uma unidade apesar de todos os obstáculos externos – pode existir apenas entre dois tipos de pessoa espiritual, o homem e mulher, do igual modo que entre eles esse caráter complementar pode ser encontrado.

O amor não é paixão

Estar enamorado, o que muitas pessoas consideram desdenhosamente como paixão, constitui em si apenas o ápice de um olhar espiritual pleno da pessoa amada, na qual o charme do outro ser é completamente revelado e realizada a plena êxtase da comunidade eu-tu.

De fato, estar enamorado é estar longe do desdém, tão afastado da conseqüência da Queda do homem, dentro da ordem natural – conforme Platão indicou admiravelmente no seu Fedra – estar enamorado constitui o único estado desperto, um estado no qual quebramos o grilhão da indolência e cessamos de arrastar-nos pesadamente pela vida. Tornamo-nos exatamente a imagem da nossa relação com Cristo: “O meu amado é todo meu e eu sou dele. Ele é um pastor entre os lírios” (Cântico dos Cânticos 2:16). Assim, estar enamorado é exaltado como uma figura do mais alto e sublime relacionamento ao Filho de Deus.

O amor conjugal não é uma ilusão

Que ninguém objete que ele é uma ilusão, uma intoxicação que passa rapidamente e que é baseado apenas nas qualidades externas do outro. Pois há um modo superficial e profundo de se estar enamorado, do igual modo que a amizade superficial e profunda.

Esta possibilidade geral da superficialidade não chega a argüir, porém, nem contra estar enamorado nem contra a amizade. Nem o fato de que estejamos enganados prova contra a revelação do caráter do amado, que – como vimos – implica no estado de estar enamorado. Quem negaria que apesar do fato de que na vida de oração nós chegamos a compreender muito sobre a alma e sua relação dom Deus, a auto-engano pode todavia ocorrer?

O amor não é um desejo sensual

Acima de tudo, o estar enamorado real, mesmo na sua forma superficial, nunca deve ser confundido com o desejo sensual. Estar enamorado implica sempre uma atitude respeitável, cavalheiresca em relação ao amado – um certo elemento de humildade até, um derreter da alma, da rigidez do ego. Uma pessoa verdadeiramente enamorada torna-se terna e até pura. Mesmo quando este amor é do tipo superficial e apenas baseado nas qualidades externas do amado, estas qualidades, substituindo e representando a beleza e a bondade da personalidade inteira, eleva a alma da pessoa enamorada num estado da mente em que ele supera o seu peso e indolência auto-centrado.

Estar enamorado nada tem a ver com mera intoxicação sensual; nem tem nada a ver com a fascinação satânica nem com a escravidão sensual de um Don Juan.

A intenção da duração e estrita exclusividade é uma das implicações que repousa na própria natureza de estar enamorado, bem como do amor marital. Quem quer que diga “Estou enamorado desta pessoa agora, mas não sei se continuarei a gostar dela”, não está de fato amando. Mesmo que na realidade estejamos enganados e que o nosso amor não dure mais tarde, estar amando (como amor marital) mostra claramente a intenção de durar para sempre e de modo estritamente exclusivo.

Estar enamorado é um elemento do amor conjugal

Retornaremos mais tarde a este elemento da duração e exclusividade no amor conjugal. Por momento deixem-nos apontar que o enamorar-se pertence também ao amor conjugal. Isto não significa que ele deve persistir ao mesmo grau enquanto dura o amor conjugal, mas este enamorar-se deve ser re-atualizado nos momentos específicos. Implicitamente, o amor conjugal deve sempre carregar esta potencialidade e mostrar esta característica. A enorme diferença que repousa entre o estar enamorado que constitui apenas o ápice deste amor conjugal profundo e o estar enamorado que aparece como um fenômeno independente, não necessita ser apontada, nem que a sua função normal consiste em representar a plena realização do amor conjugal.

O amor conjugal está tão distante de ser uma combinação da amizade e sensualidade que, ao contrário, suas características, que conforme descritas acima, distingue-o de todas as outras formas do amor, serve de fato como ponte para a esfera da sexualidade e unicamente torna possível uma união orgânica dos dois. Uma combinação da amizade e sensualidade é repugnante. Seria uma justaposição de elementos heterogêneos, e a esfera sensual de nenhum modo seria santificada pela combinação discordante desta espécie.

Apenas no amor conjugal, onde o homem e a mulher são unidos numa única comunhão, onde eles se dão em ao outro no sentido profundo da palavra e pertencem um ao outro na interpenetração suprema de suas almas, faz esta relação para a esfera sensual se tornar inteligível. Apenas nesta ordem pode o sublime significado da esfera sexual ser realizado na união de dois seres numa união espiritual-sensual completa de acordo com as palavras do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo: “E os dois formarão uma só carne” (Mateus 19:5).

A poligamia é essencialmente contrária ao amor conjugal

Às vezes encontramos a opinião de que a poligamia é proibida apenas por uma lei positiva de Deus, e que a monogamia não é necessariamente enraizada na natureza do casamento ou exigida pela moralidade natural. Nada é mais errôneo. Não apenas o casamento de fato mas o amor conjugal em si exclui a poligamia. O amor conjugal na sua essência visa uma só pessoa. As características da auto-doação completa e o ser exclusivamente voltado ao amado, bem como o fato que os dois parceiros formarem o casal, exclui em si a possibilidade que este amor possa ser direcionado a mais de uma pessoa. Ter dois ou mais amigos de nenhum modo é contrário ao princípio da amizade e não constitui algo indigno. Porém, não é possível para um homem amar duas mulheres conjugalmente. Todo o valor do relacionamento seria destruído. Falando estritamente, seria de fato impossível.

A exclusividade conjugal difere da possessão

Além disso, deduzir a essencial exclusividade do amor conjugal da possessão egoísta geral do homem poderia ser muito errôneo. O proprietário de um harém que considera suas mulheres seus bens em sua posse não quer que ninguém mais interfira. Isto, certamente, é uma possessão puramente egoística. Mas este proprietário de harém não possui o mínimo entendimento do amor conjugal real.

A exclusividade no amor conjugal resulta da consciência de que este amor único pode apenas existir entre dois seres, pelo menos enquanto este amor dure, e que esta união maravilhosa seria destruída e rompida se um parceiro amasse uma segunda pessoa com o amor conjugal.

E esta exclusividade concerne a própria pessoa tanto quando seu parceiro amado, uma vez que sua própria infidelidade nos causa tanto horror quanto a infidelidade do outro e é sentida tanto quanto o rompimento e a destruição da união.

O casamento é mais do que o amor conjugal

Mas o amor conjugal não é ainda o casamento, embora contenha uma antecipação do significado do casamento. O casamento é uma realidade na ordem objetiva que é constituída apenas pelo ato solene e pressupõe um ato formal da vontade: os dois parceiros se dão expressamente um ao outro, sancionando plenamente esta entrega por toda a sua vida.

O casamento é plenamente atualizada quando ambos os parceiros, em conseqüência deste ato, consumam esta entrega na união corporal. O casamento é uma comunhão de validade objetiva que inclui ambos os parceiros. Uma vez estabelecido, persiste como tal, independentemente dos sentimentos ou atitudes dos parceiros, embora ele imponha obrigações específicas sobre eles.

A existência do amor conjugal entre os parceiros torna o casamento desejável e lhe dá significado, mas não estabelece em si esta ligação objetiva.

Pois entre várias experiências humanas (tais como amor, respeito, ou alegria) há uma espécie que não é meramente um ato interior em relação à outra pessoa, mas que também cria uma realidade objetiva independente da pessoa. Assim, por exemplo, uma promessa cria uma obrigação para com outra pessoa e o direito de exigir a realização por aquela outra pessoa. O comando de um superior cria uma obrigação de realização do subordinado. A absolvição de um sacerdote em nome de Deus cria a real anulação da nossa culpabilidade. Certas decisões da autoridade de estado legítimo, podem se tornar leis, e assim por diante.

O casamento cria numa ligação objetiva

Do mesmo modo, o ato da entrega voluntária da própria pessoa à outra com a intenção de formar uma união de amor permanente e íntima, cria uma ligação objetiva que, uma vez estabelecida é separada da esfera de decisão arbitrária da pessoa em questão.

Veremos mais tarde como este ato solene do casamento alcança uma importância e força maior e infinitamente mais elevada se for conscientemente realizada em Cristo e se ele contém de um modo uma consagração de ambos os parceiros ao Cristo.

A expressão contrato-de-casamento é infeliz pois o casamento difere essencialmente de qualquer outro contrato real. Longe do caráter de reciprocidade, ele não se assemelha a um contrato mais do que qualquer promessa ou outro ato desta espécie.

A união desejada no amor conjugal se torna por este ato objetivamente real no seu sentido pleno, e nenhuma outra comunhão de amor terrena pode se tornar objetiva em tal grau. Ambos os parceiros agora pertencem plenamente ao outro. Uma ligação objetiva os une: eles já não são mais dois, mas um.

O casamento resulta de uma decisão livre

Uma decisão extraordinária é inerente no ato do casamento. Diferentemente do amor conjugal, ela não ser concretiza de si, mas é um ato livre como um ato da vontade (no sentido mais estrito do termo). Ela marca, como com os votos religiosos, o início de um novo status. Uma enorme mudança de repente toma lugar. Uma criação sublime brota, a qual, uma vez floresce, faz as mais altas exigência sobre os dois parceiros.

O casamento é exclusivo e irrevogável

Este caráter decisivo do casamento, sobre a força do qual uma mudança toma lugar e que o remove além da amplitude da nossa influência, possui também uma analogia qualitativa na entrega corporal. A união física d marido e da esposa constitui tal intimidade suprema entre eles que a sua essência é uma entrega válida uma vez por todas. Não é meramente uma intimidade passageira que não estabelece qualquer relacionamento objetivo. Ele implica uma decisão definitiva da mais alta importância. É verdadeiramente uma entrega de nosso ser ao outro e implica essencialmente a mesma exclusividade que encontramos no amor conjugal.

Do seu próprio significado e natureza, este ato pode ser consumado apenas com uma pessoa, pois, de acordo com as palavras do nosso Senhor, “Eles formarão dois numa só carne” (Mateus 5:19). Ele estabelece uma ligação de tal ternura infinita e tal proximidade profunda, tão essencialmente permanente, implicando tal entrega radical, que não pode ser repetido com outra pessoa enquanto a pessoa a quem nós nos demos integralmente estiver viva. Todos estes elementos estão contidos nesta união a mais profunda.

Mas esta união apenas se torna plenamente realidade quando segue como conseqüência da solene consumação do casamento. Quão terrível, portanto, qualquer abuso desta entrega suprema e íntima! Que degradação e profanação da união destinada como suprema realização da comunhão do amor que se torna objetiva através do casamento!

O amor é o significado da união sexual

Como o casamento é, em sua natureza, principalmente uma comunhão do amor, assim o significado da consumação física não está restrita na sua função como um meio de procriação.

Certamente, não há maior mistério na ordem natural das coisas do que o fato de que esta mais íntima de todas as uniões procria um ser humano com uma alma imortal (embora a alma, em cada caso, seja uma criação direta de Deus), e que este ato traz um novo ser à existência destinado a amar a Deus e adora-Lo, um novo ser feito à Sua imagem.

Mas este fim primário não é o único significado do ato físico. Subjetivamente falando, não é nem o seu significado primário.

O seu significado é primariamente a realização da sublime comunhão do amor na qual, de acordo com as palavras do nosso Salvador, “Serão dois em uma só carne” (Mateus 19:5). A mulher, que de acordo com Gênesis foi feita da carne do homem (um sinal que mesmo então indicava a proximidade da sua relação e designava-a como companheira inseparável do homem), é realmente unida ao homem desta maneira no casamento.

Em contraste à concepção Protestante e Puritana, que mesmo subjetivamente considera procriação como único significado da união física, uma antiga oração Católica sobre o casamento fala dele como “o mistério do amor”. O metodista Whitefield orgulhosamente afirma que o amor nada tem a ver com o namoro, dizendo, “Deus seja louvado, se eu conheço o meu próprio coração, estou livre desta paixão estúpida que o mundo chama amor”. Mas uma antiga oração Católica diz assim, “Ó Deus, na criação da humanidade, criando a mulher do homem, Vós já ordenastes que deveria haver uma união da carne e do doce amor... Senhor nosso Deus, Vós criastes o homem puro e imaculado e ainda desejastes que na procriação das gerações um fosse feito do outro pelo mistério do amor”.

A procriação e a comunhão do amor nunca devem ser separadas deliberadamente

Que um novo ser humano se cria dele é certamente parte da solene grandeza desta união intimamente suprema. O relacionamento instituído maravilhosa e divinamente entre a procriação misteriosa de um novo ser humano e esta mais íntima comunhão do amor (que somente por si já possui sua plena importância), ilumina a grandeza e solenidade desta união.

Assim é que a fim de preservar a atitude reverente dos esposos diante do mistério nesta união, esta conexão geral entre a procriação e a comunhão do amor deve sempre ser mantida mesmo subjetivamente, ao menos como uma possibilidade geral deste ato.

É difícil imaginar uma maior falta de reverência diante de Deus interferir neste mistério com as mãos profanas a fim de frustrar este mistério. Quão terrível pensar do homem que deseja destruir esta unidade que Deus estabeleceu tão misteriosamente, considerando aqueles unidos na mais alta união terrena de amor digno de tomar parte no Seu poder criativo. Ir contra os desígnios de Deus através da interferência profana, talvez até negando a existência de um ser que Deus pretendia que existisse – que presunção sacrílega!

O casamento sem filhos pode, entretanto, plenificar o ideal do casamento

Porém, por alguma razão, além da esfera da influência humana, se torna evidente que a procriação estando fora da questão, a união física entre homem e mulher ainda reter seu significado subjetivo e sua beleza intrínseca. O amor conjugal não é em si suficiente para santificar e justificar esta união? Não está a razão para a criação da mulher estabelecida em Gênesis: “Não é bom que o homem esteja só: façamos para ele uma auxiliar que lhe corresponda” (Gênesis 2:18). Pode um casamento sem filho ser considerado como um fracasso, como algo que não preenche seu significado? Podemos afirmar com justiça que seria melhor se tal casamento não houvesse acontecido? Ele poderia ter o seu significado pleno, divinamente estabelecido como a mais alta comunhão de amor, e glorificar a Deus por este fato em si?

Quando ambos os parceiros, mesmo sem filho, pertencem um ao outro no mais perfeito amor conjugal, na lealdade imutável um ao outro, na imitação da união da alma com Deus, o ideal do casamento não seria realizado até em mais alto grau que no caso de um casamento com talvez muitos filhos, onde os parceiros são infiéis um ao outro e profana a ligação sagrada pela falta de amor e lealdade? O casamento necessitaria de se tornar celibatário por causa do conhecimento de que não pode haver um filho? Isso não seria uma clara indicação que o casamento é um símbolo da união da alma com Deus, que ele possui, como tal, uma importância sublime e que ele existe em primeiro lugar por si e não exclusivamente por causa de qualquer resultado que ele produz?

Todo casamento pleno de amor é fértil

Num exame mais minucioso, vemos que todo casamento intrinsecamente pleno é fértil mesmo no sentido mais profundo da palavra. O fato de que a comunhão mais íntima do amor entre duas pessoas produz um novo ser humano reflete misteriosamente a fertilidade do amor como tal.

Pois nós não devemos esquecer que todo o amor verdadeiro possui uma plenitude espiritual intrínseca e que o conjugal abriga esta fertilidade espiritual do amor muito independentemente da procriação.

Esta fertilidade expressa em si um élan da alma, que implica no amor, num novo despertar da Alma que estimula-a ao crescimento espiritual e uma vida moral mais elevada. Ela se expressa na influência que os esposos inconscientemente manifesta sobre um ao outro, na elevação espiritual de um ao outro que sua compreensão mútua torna possível.

Cada casamento na qual o amor conjugal é assim realizado carrega fruto espiritual, torna-se fértil – mesmo embora não haja filhos.

Somente pode compreender o horror do pecado de promiscuidade aquele que visualizou a grandeza e sublimidade da união corporal como plena realização do amor conjugal, e aquele que percebe que além do fim primário da procriação, o significado primário da união corporal repousa na plenificação do amor conjugal.

Aquilo que é destinado a trazer duas pessoas juntas à uma união mais elevada e mais íntima, para uni-los “num só corpo”, - a entrega real e final de si – é usado pelo promíscuo como uma fonte de luxúria e é assim profanado de modo ignominioso. E esta profanação permanece a mesma com ou sem resultado dos filhos nesta união pecaminosa.

As palavras de S. Paulo mostram claramente que o pecado da impureza repousa essencialmente no abuso da união que Deus reservou para a mais íntima Comunhão entre duas pessoas: “Não sabeis que aquele que une a uma prostituta torna-se com ela um só corpo: Pois está dito: Os dois serão uma só carne” (1 Coríntios 6:16). Se a procriação fosse apenas o fim mas também o único significado desta união, isso seria incompreensível, em última análise, por que uma união ilegítima seria pecaminosa quando filhos resultam dela, e um casamento puro e sublime quando ele serve apenas à comunhão do amor num casamento sem filho.

Apenas casamento justifica a união física

A justificação desta união física, porém, repousa não no amor conjugal como tal, mas apenas no ato solene da conclusão do casamento que mencionamos acima. Uma vez que a união envolve a entrega expressa e solene pela qual entramos numa união tão suprema e íntima com outra pessoa, ela pressupõe não apenas a mera existência do amor conjugal mas também a solene conclusão do casamento na qual damo-nos livremente e irrevogavelmente ao amado por toda a vida.

O amor deve ser nutrido em cada casamento

Como a comunhão do amor representa o significado mais profundo do casamento, o amor não é apenas uma condição prévia do casamento mas também um sentimento que ambos os parceiros devem tornar um objeto da vontade deles, algo que deve ser protegido e estimado O amor é também uma tarefa e dever para ambos os parceiros. Se o casamento é a única projeção deste amor conjugal, então o casamento, uma vez estabelecido, exige o amor de ambos os parceiros – não apenas um amor cortês, mas também amor conjugal.

Cada esposo tem o direito de amar o outro. Manter o amor conjugal na sua inteira grandeza e pureza, no seu brilho, sua profundidade, e sua plenitude vital, é uma tarefa que se eleva para ambos os parceiros com a conclusão de seu casamento.

Por causa da nossa preguiça, nossa frouxidão, e nosso constante retrocesso à periferia que estultifica a nossa visão, é sempre difícil manter diante de nós em toda a mesma claridade e esplendor a imagem da outra pessoa tão maravilhosamente revelada pelo amor. Podemos e devemos lutar contra esta frouxidão pois ela constitui um pecado contra o templo que erigimos no nosso casamento.

Num certo sentido já somos infiéis ao outro quando cessamos de vê-lo do interior, quando não mais compreendemos o caráter mais profundo do seu ser, mas consideramo-lo como consideramos outras pessoas – do exterior.

Pois aqueles que consideram o tipo específico do amor que nós chamamos conjugal como nada além de uma paixão, seria natural para esse amor definhar no curso do tempo e manter apenas a amizade. Nós, porém, a quem o amor conjugal inclui uma compreensão mais profunda do outro, e para quem é uma relação divinamente estabelecida no casamento, deve lutar contra o enfraquecimento deste amor, contra este adormecimento, exatamente como sempre devemos nos esforçar – numa esfera incomparavelmente mais alta – para manter nosso amor por Jesus desperto infalivelmente.

Para alguém numa ordem religiosa, a realização das regras da ordem representa um contínuo esforço; assim também, o casamento exige abstenção de todos os problemas e desvios periféricos que são passíveis de distrair a atenção das pessoas amadas e destruir a concentração interior que é contido no amor.

Mas esta tarefa difere de acordo com o caráter individual do casamento. Na esfera sobrenatural, Deus concede à humanidade graça em diferentes medidas e exige mais deles de acordo com a medida da graça recebida. (O Evangelho nos dá a parábola dos talentos). Assim, também, o casamento exige mais do marido e esposa na medida que o seu casamento como tal se aproxima do ideal, e quanto mais harmonizam como caracteres.

A tarefa do amor no melhor dos casamentos

Quanto maior o amor que eles sentiram originalmente um ao outro e maior o amor que potencialmente repousa na natureza da combinação das duas pessoas, maior é o amor exigido de ambos. Se a combinação das duas pessoas contém a possibilidade deste supremo amor conjugal, ela se torna o dever de ambos os parceiros, uma vez concluído o casamento, para esforçar-se em direção à realização deste ideal.

Eles devem se esforçar a desenvolver este amor mais elevado. Devem evitar tudo que pode obscurecer ou frustrar este amor (tais como absorção do marido nos seus negócios ou da esposa nos deveres domésticos). Mas acima de tudo, eles devem estar atentos à uma indolente indiferença e de simplesmente acomodar-se na corrente dos hábitos do dia a dia. A cada hora eles devem renovar o dom inexprimivelmente precioso que Deus tem concedido em forma da alma do amado. Nunca devem perder o seu sentido de mistério maravilhoso que a outra pessoa a quem eles amam os amam, também, que a outra vive para eles, e que eles possuem algo muito acima das possessões terrenas.

A tarefa do amor nos casamentos imperfeitos

Se, porém, a combinação dos dois caracteres do homem e da mulher não oferece a possibilidade deste amor conjugal, se tal unidade interior supremo não pode ser alcançada, a tarefa de ambos os parceiros torna-se diferente. Quando tal é o caso, esta qualidade do amor conjugal crescente não é exigido deles – pois os consortes não podem dar este amor um ao outro se isso não for desempenhado por Deus em combinação com seus dois caracteres. Sua tarefa aqui é atingir a comunhão mais elevada dentro dos limites das possibilidades do seu caso individual. Eles, também, devem viver um ao outro e evitar tudo que poderia alienar ou de algum modo separá-los um do outro. Eles devem tentar ver um ao outro na luz mais elevada.

A tarefa do amor nos casamentos problemáticos

Isto contém toda a verdade de um casamento infeliz. Se o amor é completamente ausente de um lado, ou se um dos parceiros sofre por causa do outro de todas as maneiras – lembremos o casamento de Sta. Mônica – a obrigação de continuar a viver para a união objetiva que a conclusão do casamento criou persiste, apesar do fato de a combinação dos dois parceiros não tornar possível a realização do amor conjugal ideal. Um cônjuge pode simplesmente amar o outro numa forma particular de amor cortês – amá-lo porque foi com ele que a ligação do casamento foi feita. A tarefa neste caso especial consiste primariamente no sacrifício e renúncia e no cuidado para a salvação do outro.

Todo o casamento possui sua própria tarefa particular

Numa palavra, em cada casamento Deus concede aos parceiros uma tarefa particular além da obrigação que contém cada casamento: amor mútuo e fidelidade conjugal.

É, portanto, necessário compreender o significado particular de cada casamento individual, o chamado especial que Deus faz aos cônjuges: a realização de um casamento ideal ou sofrimento heróico da cruz de um casamento infeliz. O único significado divinamente conferido de um casamento individual deve ser descoberto em cada casamento, porquanto a tarefa varia de acordo com o que aparece como a possibilidade mais elevada alcançável numa dada combinação dos dois caracteres.

Mas isto não deve nos desviar da crença de que a forma objetiva do casamento como tal não visa uma realização subjetiva de uma completa união de amor, e que todos os outros casamentos medidos contra o desígnio divino do casamento representa fracassos. O casamento como tal não existe como uma provação para os consortes, ou servir como uma escola de renúncia, mas unir dois seres humanos num amor infinito numa completa união e assim, de um modo sublime, refletir a união entre Jesus e a alma.

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