quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O CONCÍLIO VATICANO II E A TEOLOGIA DE JOÃO PAULO II (1)

Conferência do Prof. Johannes Dörmann,* enviada ao II Congresso Teológico de Si Si No No, realizado em Albano (Roma), em janeiro de 1996, e transcrita do mensário Sim Sim Não Não, nºs 51­-52, de março- abril de 1971.

1. JOÃO PAULO II: COMO BISPO E COMO PAPA, TEÓLOGO DO CONCÍLIO VATICANO II

Este vasto assunto não poderia ser tratado numa curta conferência, se o próprio Cardeal Wojtyla não o tivesse aprofundado exaustivamente em seu livro intitulado Fontes da Renovação. Estudo sobre a aplicação prática do Vaticano II (1972, em polonês). Uma vez que a teologia do arcebispo de Cracóvia é substancialmente a mesma que a do Papa, podemos encontrar em Fontes de Renovação a resposta de João Paulo II ao tema da nossa exposição (1).

O Cardeal Wojtyla escreveu Fontes da Renovação em vista de um sínodo de sua arquidiocese. As bases de seu estudo são textos escolhidos do Vaticano II. Deles o Cardeal deduz, passo a passo, “a doutrina do Concílio”.

Sob a expressão “doutrina do Concílio” é preciso entender sempre a “doutrina do Concílio” conforme a interpretação do Cardeal Wojtyla. Pomos aqui entre parênteses a questão crítica de saber se sua interpretação é bem fiel ao sentido literal dos documentos do Concílio e se sua “doutrina do Concílio” representa bem o ensinamento real do Concílio (2). Contudo, não se deve perder de vista o fato de ter o arcebispo Wojtyla participado ativamente, como Padre conciliar, na redação de documentos conciliares, de ter estado em contato com teólogos conciliares de primeiro plano (3): ele está, portanto, bem apto para conhecer os diversos objetivos visados através dos textos que analisa. Pode-se encontrar um indício evidente de suas próprias posições no fato de que, em seguida, elevou ao cardinalato influentes teólogos conciliares.

Para tema de minha conferência, a única coisa que conta é o fato de que o Cardeal Wojtyla, testemunha autêntica do Concílio (p. 7), se identifica totalmente com a “doutrina do Concílio”, a qual ele deduz dos documentos conciliares. Feito Papa, é a partir deles que continuou a desenvolver as suas concepções. Pode-se dizer que seu “ensinamento do Concílio” é a teologia de Karol Wojtyla, como Bispo e como Papa.

A questão central desta matéria sobre a relação entre o Concílio Vaticano II e a teologia de João Paulo II já está, portanto, respondida em princípio: o “ensinamento do Concílio” e a teologia de João Paulo II são idênticos. Karol Wojtyla, Bispo ou Papa, é inteiramente teólogo do Vaticano II (4).

Não me resta nada mais senão apresentar as idéias diretrizes de seu “ensinamento conciliar”.
* Nascido em 27.12.1922, Johannes Dörmann, após os estudos de matemática e de física, de filosofia e de teologia, tornou-se Padre da Arquidiocese de Colônia em 1953. Durante seus anos de ministério paroquial como vigário, e depois como cura, estudou ciência missionária em Münster, bem como etnologia, etnossociologia e ciência das religiões (Bonn e Bâle).

Doutorou-se em 1964. Foi professor universitário em ciência das religiões e ciência missionária, de 1966 a 1970. Foi mestre de conferência de 1970 a 1984, e professor em ciência missionária e religiosa na Universidade de Münster, em Westphalia. Foi nomeado em 1976 diretor do Instituto de Ciência Missionária na Universidade de Münster. Ensinou também como professor na Faculdade de Teologia de Paderborn, de 1969 a 1985. Em 1984, passou a professor emérito.

O professor Dörmann não é tradicionalista no sentido que esse termo assumiu hoje, mas um competente e sério teólogo. E foi nesta qualidade que Si Si No No lhe pediu o estudo que aqui se transcreve. Principais obras do autor:

A Única Verdade e as Numerosas Religiões;
A Estranha Teologia de João Paulo II e o Espírito de Assis;
A ‘Trilogia Trinitária’ [de João Paulo II]:
"Redenptor Hominis" (Tomo I):
"Dives in Misericordia" (Tomo II);
"Dominum et Vivificantem" (Tomo III).
Notas:
(1) Karol Wojtyla, Fontes da Renovação. Estudo sobre a aplicação prática do Concílio Vaticano II, Paris, Le Centurion, 1981, 355 pp., trad. da edição italiana. Ed. original em polonês, Cracóvia, 1972. Os números das páginas referem-se ao texto da ed. francesa.
(2) A propósito, ver J. Dörmann: A Estranha Teologia de João Paulo II e o Espírito de Assis.
(3) João Paulo II cita no seu livro Entrai na Esperança (1994) Yves Congar e Henri de Lubac. Seria preciso também mencionar a elevação ao cardinalato de Hans von Balthasar, a qual fora programada.
(4) Cf. A Estranha Teologia de João Paulo II

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