segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O PROBLEMA DOS UNIVERSAIS

Por Renato Salles


Na Idade Média foi grande o debate sobre o problema dos universais. Este é um problema que diz respeito à idéia e sua relação com a realidade (entre voce e res). Existem 3 linhas de pensamento:
1) os realistas
2) os nominalistas
3) os realistas moderados

OS REALISTAS
Para estes a essência enquanto tal subsiste por sim mesma, ou seja, tem existência própria. Basta lembrar de Platão com seu mundo das Idéias onde a essência possui uma realidade fora das coisas que seriam apenas cópias da Idéia. Por exemplo, a essência humana existiria fora dos homens concretos, ou seja, fora do João, do Pedro, do Joaquim, etc, e teria uma existência própria. Esta é a posição de Guilherme de Champeaux, de Gilberto de la Porrée e de David de Dinant.

OS NOMINALISTAS
Para estes não existiria uma essência, nada existiria fora da individualidade. As coisas seriam tão diferentes umas das outras objetivamente, ou seja, na realidade, que não teriam nada em comum; todo conceito universal existente em nós, estaria apenas em nossas idéias e portanto seriam apenas nomes coletivos que damos às coisas. Por exemplo, o João, o Pedro, o Joaquim etc seriam tão diferentes na realidade que não se poderia dizer que eles têm algo em comum e portanto toda tentativa de os agrupar seria um ato totalmente subjetivo. Esta é a posição de Roscelin e de Guilherme de Ockham.

OS REALISTAS MODERADOS
Para estes tudo é individual, i.é., não existem seres universais com existência própria fora das coisas individuais, mas, diferentemente dos nominalistas, os realistas moderados defendem que a razão humana é capaz de fazer abstração das coisas individualizantes e apreender no individuo aquilo que ele tem em comum com outros. O universal só existe na inteligência e não na realidade, mas aquele tem por fundamento esta, não são apenas idéias sem vínculo com a realidade como querem os nominalistas. Esta forma de pensar denota o que é comum, ou seja, o modo de ser que é comum a todos os indivíduos da mesma espécie. Por exemplo, o João, o Pedro, o Joaquim etc têm em comum o nosso modo de ser, i.é, são homens e o intelecto faz abstração das notas individuais e exprime aquilo que nós temos em comum (ser homem) por meio de um conceito. A essência existe individualizada no ser e o intelecto, fazendo abstração do que é individual, faz surgir no conceito o que é universal (que compreende todos os indivíduos daquela mesma espécie). Esta é a posição Pedro Abelardo e de São Tomás de Aquino.

COMPREENSÃO E EXTENSÃO
Um conceito pode ser visto de dois modos:
1) enquanto compreensão
2) enquanto extensão
Enquanto compreensão

Enquanto compreensão o conceito se refere às notas (ou aspectos inteligíveis) que sustentam uma determinada essência.
Ex1.: Animal possui as seguintes notas: é uma sustância, é um corpo vivo, é dotado de sensibilidade;
Ex2.: Homem possui as seguintes notas: é uma sustância, é um corpo vivo, é dotado de sensibilidade, é racional.
Como se pode notar a diferença entre homem e animal é apenas uma nota: a racionalidade; portanto o conceito Homem é superior, maior, que o conceito Animal, pois possui mais notas.
Enquanto extensão

Enquanto extensão o conceito se refere ao número de indivíduos que determinado conceito abarca, i.é. se refere à amplitude do conceito.
Ex1.: Animal se refere a todos os indivíduos que possuem sensibilidade
Ex2.: Homem se refere a todos os indivíduos que possuem alma racional
Como Homem possui sensibilidade o conceito Animal abarca o conceito Homem enquanto extensão, sendo, portanto, Animal superior a Homem
Uma Lei Geral no que concerne a Compreensão e a Extensão de um conceito é que estas são inversamente proporcionais, ou seja, quando maior a compreensão, menor a extensão e vice-versa: quanto maior a extensão, menor a compreensão.
DIFERENÇAS ENTRE REALISTAS MODERADOS E NOMINALISTAS
Para os nominalistas, o que constitui primeiramente um conceito é a sua extensão;
Para os realistas moderados, o que constitui primeiramente um conceito é sua compreensão.
Para os nominalistas, o que o conceito representa de real são os indivíduos;
Para os realistas moderados, o que o conceito representa de real são as essências.
Para os nominalistas, o conceito é subjetivo, pois não existe essência em si mesmas, são as idéias que fazem a coligação das notas;
Para os realistas moderados, o conceito é objetivo pois expressa uma essência que existe no ser concreto.

REFERÊNCIAS
REALE,Giovanni. História da Filosofia: da Antiguidade a Idade Média. São Paulo:Paulus,1990.vol 1, p.519-524
MARITAIN, Jacques. A Ordem dos conceitos: Lógica menor. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Agir, 2001.
BARROS, Manoel Correa de. Lições de Filosofia Tomista. [arquivo pessoal]. Disponível em <http://www.microbookstudio.com/mcbarros.htm> Acesso em: 26 set.2008.

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