Nota: Trazemos a nossos leitores, o prefácio do livro; “filosofia da hora e Filosofia Perene” de Mons. Emilio Silva de Castro. Nomeamos esta postagem trocando “hora” por “aggiornamento”, por haver uma correspondência perfeita entre o significado das palavras e também das filosofias (com f minúsculo).
Na simples leitura do prefácio, poderão entender porque Mons. Lefebvre se referiu ao Concílio Vaticano II, como sendo amanhã, um jornal de ontem. Também entenderão porque “A grande tentação do católico no mundo moderno”, é segundo Chesterton, o orgulho intelectual e a “lógica nem um pouco cristã de responder a um tolo de acordo com a sua lógica”.
O livro pode ser baixado no endereço:
Boa leitura!!!
PREFÁCIO DO LIVRO FILOSOFIA DA HORA E FILOSOFIA PERENE
MONS. EMILIO SILVA DE CASTRO
"A nova edição deste livro saúda o novo século". Assim começava Frederico Paulsen o prólogo da quinta edição de sua Ética, mas, em seguida a tão eufórico cumprimento, estampa, melancólico, este testemunho: "O começo do século XIX assinalou-se pelo império das idéias, o começo do século XX assinala-se pelo império da força".1
Paulsen escrevia nos anos mais prósperos que desfrutou a Europa e quando a mais irrestrita liberdade política, tanto de palavra como acadêmica, imperava em quase todas as nações. Qual teria sido sua reação se sobrevivera e presenciara as grandes guerras européias e as tremendas convulsões sociais que hoje agitam a tantos povos?
O que mais surpreende no caso, porém, é a surpresa de Paulsen. Que outra coisa podia ele esperar do magistério que a maioria dos filósofos do século XIX, ele mesmo inclusive, vinha exercendo? Eles abdicaram da verdade. Nosso século chegou ao rompimento definitivo com o caráter dogmático da Revelação e com a filosofia escolástica que se aferrava à existência de verdades absolutas. "A mentalidade histórico-genética do "saeculum historicum" tomou o lugar daquelas instâncias, renunciou à posse de verdades absolutas: "só se dão verdades relativas, não há verdades eternas".2
Não querendo admitir nem mesmo a certeza das verdades da fé, afirma que esta "não se apoia em provas ou demonstrações racionais, não vem do entendimento, senão do coração e da vontade".3
Na própria obra de cujo prólogo copiamos as primeiras palavras deste escrito, insurge-se Paulsen contra a; manutenção de um sistema educativo que, nascido há séculos num meio intelectual inteiramente diferente, "se acha em muitos pontos em aberta contradição com as realidades e doutrinas mais aceitas em nosso tempo".4 O que ele visava era a reforma do ensino, precisamente no terreno doutrinário, revisão das doutrinas básicas do Cristianismo: fora o sobrenatural, a Bíblia, os dogmas religiosos e tudo mais estranho ao homem hodierno!
Essas idéias e princípios não eram algo peculiar a Paulsen. Se, de início, escolhi seu nome, foi porque ele, melhor que qualquer outro, excetuando talvez a Eucken5, reflete a mentalidade reinante na Europa em começos do presente século. À vista de tais princípios e doutrinas, não admira que o Ocidente desorientado derivasse e ainda continue por caminhos de arbitrariedade e violência. Com efeito, se o homem está convicto de que a verdade das coisas é um produto de sua vontade ou do seu entendimento, se não admite que este há de se submeter a uma ordem objetiva do ser, independente da vontade humana, nestas condições sua cosmovisão será apenas imagem, projeção, imaginação subjetiva do mundo, sem a menor garantia de verdade objetiva. Tal subjetivismo é, no fundo, um perfeito ceticismo, ruína de toda verdade. Como poderá edificar-se sobre tal alicerce movediço uma forma de vida estável?
As nações do Ocidente, e já agora, após as duas grandes Guerras Mundiais, o mundo todo, está passando momentos de trágica ansiedade, os povos vivem desde há bastantes anos em perpétua soçobra, na mais angustiosa incerteza, pois as filosofias dominantes não são de molde a gerar e manter a solidez das instituições e das-relações sociais e contribuir eficazmente para estabelecer a paz na ordem das nações.
Neste nosso trabalho, que intitulamos: FILOSOFIAS DA HORA e FILOSOFIA PERENE, pretendemos, após uma sucinta exposição das filosofias vigentes em nossos dias, demonstrar a radical ineficácia ou insuficiência da maior parte delas, para responder às autênticas exigências da consciência contemporânea, e dilucidar as possibilidades que se abrem para o bem-estar do mundo nos princípios e doutrinas que integram a chamada filosofia perene.
1. Friedrich Paulsen, System der Ethik, 5." ed., Berlin, 1900, p. IX.
2. Em Immanuel Kant, cit. por Josef Donat, em Die Freiheií der Wissenschaft, Ein Gang durch das moderne Geistesleben, "2 ed., Innsbruck, 1912, p. 57-58.
3. Paulsen, Einleitung in die Philosophie, 32.ª ed., Stuttgart und Berlin, 1920, p. 269.
4. Paulsen, System der Ethik, p* 228.
5. Rodolfo Eucken, vítima também do agnosticismo e desorientação filosófica e religiosa do seu século, não esconde o desalento que essa situação lhe produz: "Wir sind am Grundstock unseres Lebems und Wessens kre geworden, es hat sich uns inmitten aller Aufhellung nach aussen hin der Sintí unseres Daseins verdunkelt, wir treiben wehrlos dahin, ohne zu wissen wohin" (o grifo é meu).
Geistesprobleme und Lebensfragen, Leipzig, 1918, p. 145. Para tais dubiedades e angústias Eucken, também como Paulsen e tantos outros, não divisa mais remédio que a substituição dos valores tradicionais de nossa cultura e a «forma completa do Cristianismo.
Seus inveterados preconceitos racionalistas anuviavam-lhe a vista e lhe impediam verificar que é precisamente o Cristianismo que nos oferece perfeita e natural solução para os tremendos problemas da nossa origem, natureza e destino eterno.
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