Costuma-se dizer com freqüência que, durante os quatro últimos séculos, a Igreja foi exclusivamente “clerical”, por reação contra a crise que, no século XVI, pretendera chegar à abolição pura e simples da Hierarquia e, a propósito, insinua-se que está em tempo de ampliar ela os seus quadros. Semelhante julgamento está de tal modo longe da realidade quando foi precisamente desde o santo Concílio de Trento que o laicato tomou posição e progrediu na atividade apostólica. [...]
Poder-se-ia afirmar que todos são igualmente chamados ao apostolado na acepção estrita da palavra? Deus não deu para tanto a todos nem a possibilidade, nem as aptidões. Não se pode exigir que se encarregue de obras desse apostolado a esposa, a mãe, que educa cristãmente os filhos, e que deve além do mais trabalhar em casa para ajudar o marido a sustentar os seus. A vocação de apóstolos não se destina portanto a todos.
[...] não deve ela [a obra de apostolado] conduzir a um exclusivismo mesquinho, ao que o Apóstolo chamava “explorare libertatem“: “espreitar a liberdade” (Gal 2, 4). No quadro de vossa organização, deixai a cada um grande amplitude para desenvolver suas qualidades e dons pessoais em tudo o que pode servir ao bem e à edificação: “in bonum et aedificationem” (Rom 15, 2) e regozijai-vos quando fora de vossas fileiras virdes outros, “conduzidos pelo espírito de Deus” (Gal 5, 18), conquistar seus irmãos para Cristo. [...]
É fora de dúvida que o apostolado dos leigos está subordinado à Hierarquia Eclesiástica; esta é de instituição divina; não é portanto possível independer dela. Pensar de outro modo seria solapar pela base a rocha sobre a qual o próprio Cristo edificou a sua Igreja. [...] De maneira geral, no trabalho apostólico é de desejar que a mais cordial harmonia reine entre Sacerdotes e leigos. O apostolado de uns não é concorrência ao de outros. [...] O apelo ao concurso dos leigos não é devido à fraqueza ou ao revés do Clero em face de sua tarefa presente. Que tenha havido fraquejamentos individuais, é a inevitável miséria da natureza humana, e coisa que se encontra por toda parte, mas, para falar de modo geral, o Padre tem olhos tão bons quanto o leigo para discernir os sinais do tempos, e não tem o ouvido menos sensível para auscultar o coração humano. O leigo é chamado ao apostolado como colaborador do Padre, freqüentemente colaborador muito precioso, e mesmo necessário em virtude da falta de Clero, muito pouco numeroso, dizíamos, para ser apto a satisfazer sozinho sua missão.
(Pio XII, Discurso ao Congresso Mundial do Apostolado Leigo de 1951)
Publicado originalmente em Fratres in unum
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